Viver bem com a ilegalidade
"A oportuna gastroenterite de Tiago Rodrigues é apenas o último episódio de uma novela que já fede, tantos são os capítulos a repetir a mesma história. Na jornada passada o azar tocou a Kayembe, coitado, que se lesionou à última hora e acabou na bancada após sete jogos a titular. É preciso ter pachorra para aturar quem trata os portugueses que gostam de futebol como gente estúpida. É verdade que não podemos fazer nada. E que quem pode não faz. Afinal, vivemos bem com a ilegalidade.
O que vai acontecer certamente é que a lei dos emprestados será mudada após tanto crime cometido. As instituições fecharão os olhos a quem prevaricou e tudo ficará bem. O exemplo vem de cima. Se hoje um primeiro-ministro que não paga impostos acha que não tem que se demitir, porque terão de ser todos os dirigentes e treinadores honestos? Ninguém vê isto como violar a lei.
Mesmo que semana após semana se repita a ilegalidade, no fundo, é só fechar os olhos à regra que não dá jeito. Já vimos este filme com Miguel Rosa e Deyverson e esses nem emprestados eram. Os interesses confundem-se, a transparência é cada vez mais opaca e são poucos os adeptos que aceitam como limpos os triunfos dos outros. Porque a um crime nosso, há sempre um pior do rival a citar. Sim, isto fede.
Discursos como os de Lopetegui ajudam ao descrédito. Para o treinador espanhol o que coloca o Benfica na frente são as expulsões. Não se deu sequer ao trabalho de as analisar. Infelizmente, é já mera caixa de ressonância. Se há onde pegar nas arbitragens do campeão, não é aí. FC Porto e Benfica, como os outros diga-se, há muito que deixaram de se preocupar com a verdade.Cada um tem a sua. E vende-a o melhor que sabe. E nós vamos engolindo. Uns mais do que outros. Chega?"
O texto é de Bernardo Ribeiro, na sua crónica semanal no Jornal Record e agradeço ao Álamo, ao qual 'roubei' o texto e o tema do seu post de hoje.
Fi-lo por um único motivo.
O campeonato que agora se aproxima da recta final é mentiroso e nada do que se possa passar até final apagará esse facto. Está ferido de ilegalidades em barda e não há boas acções que apaguem meia época de prevaricações.
Exaltam-se as expulsões e esquecem-se penaltis e foras-de-jogo. Basta que duas ou três expulsões tenham sido injustas e erradas, que golos em fora-de-jogo fossem invalidados, que outros legais não o tivessem sido e que as decisões na grande área fossem na sua grande maioria acertadas para que o campeonato estivesse totalmente em aberto.
Já nem falo das azias, gastroenterites e dores de cabeça que, 'surpreendentemente' deixam inaptos os jogadores emprestados antes de jogos com os clubes com os quais têm contrato. É certo que entram em campo com onze, mas serão esses os melhores onze disponíveis?!
É isto que devemos evitar neste final de campeonato: o branqueamento de um conjunto de barbaridades que deram colo aos vermelhos e de que os azuis só agora se queixam, invocando argumentos precipitados em desespero.
Não deixemos que eles se convençam de que foi 'limpinho, limpinho' e lembremo-los sempre de que os festejos se farão no Senhor Roubado e não no Marquês.