Agostinho, a força bruta que nos enche de orgulho
"Quando se começa aos 25 anos no ciclismo não se pode esperar grandes surpresas do ponto de vista técnico. Começa porque se acha que se pode dar algo de diferente e começa-se porque há vontade. Vontade e força. Assim era Agostinho. O seu mecânico de sempre, Francisco Araújo, chamava-lhe 'matacão' em cima da bicicleta. "Ao início, tinha grandes dificuldades pelas quedas que dava e pelo perigo que representava para os outros ciclistas", explica o ex-companheiro de equipa Marco Chagas. Agostinho não era esteticamente ou tecnicamente evoluído e por isso agarrou-se à força - ainda que, ao contrário do que muitos contam, não tenham sido as sacas de cimento a fazerem a diferença. "Muitas coisas se conta sobre Joaquim Agostinho que não são verdade. Por exemplo, diziam que ele treinava com sacas de cimento em cima da bicicleta. Isso não e verdade. Ele nunca fez isso", salienta Leonel Miranda, antigo ciclista e companheiro de Agostinho, também ele nascido na zona oeste de Lisboa. Desmistificou-se uma das muitas ideias do mito que, no seu jeito desajeitado, conseguiu arrebatar três Voltas a Portugal, um segundo lugar na Volta a Espanha e 13 participações na Volta a França. Chama-se força, de vontade e de pernas, suficiente para ter um busto em sua honra no Alpez d'Huez, uma das subidas mais conceituadas da Volta a França."
O texto foi publicado na edição desta semana do Jornal Sporting e dá o mote para o assunto de hoje: o início do Tour, a prova velocipédica mais mediática do panorama internacional.
Rui Costa, Nélson Oliveira, José Mendes e Tiago Machado serão os representantes nacionais na edição deste ano, que tem início hoje e termino no dia 26 de Julho.
Ano este, em que as expectativas sobre Rui Costa são maiores do que nunca. Depois do terceiro lugar no Critérium du Dauphiné, onde foi 3º e venceu uma etapa de alta montanha de forma extraordinária sobre Vincenzo Nibali, o vencedor do Tour 2014, tudo indica que teremos o português em boa forma.
O espectáculo estará, à partida, garantido. Quando, para além do português, temos Nibali, Contador, Quintana, Froome, van Garderen, Valverde, entre outros animadores de etapas, nada mais se pode esperar do que ciclismo do mais alto nível.
Rui Costa tem um potencial incrível, tem evoluído bastante e apesar do feito inédito e histórico que foi a conquista do Campeonato do Mundo em 2013 e de três vitórias no Tour, não tem ainda resultados nas grandes voltas que o aproximem daquilo que foi Joaquim Agostinho.
Começo por dizer que isto nada tem de depreciativo para o Rui e que não é uma tentativa de eternizar Agostinho como o maior de sempre apenas pela ligação clubística ao Sporting Clube de Portugal.
Desejo profundamente que o Rui Costa possa atingir o patamar de Agostinho e, quem sabe, superá-lo mas, neste momento, não está nem perto do 'matacão'.
Agostinho participou em 13 Voltas a França, foi por duas vezes 3º e apenas por quatro vezes não terminou nos 10 primeiros, tendo vencido, no total, quatro etapas.
Na Volta a Espanha participou 4 vezes, tendo terminado nos 10 primeiros em três delas. Venceu 3 etapas e foi 2º da geral numa das participações.
Rui Costa é o 4º do ranking UCI e um dos melhores do pelotão Mundial mas, para além da medalha de Ouro no Campeonato do Mundo de 2013 e das quatro vitórias em etapas do Tour, nada provou ainda numa das três grandes voltas, onde nunca integrou um lugar nos 10 primeiros. As 3 vitórias consecutivas na Volta à Suíça são um feito importante mas sem o relevo de um grande resultado numa prova do chamado Grand Tour.
Aos quatro portugueses, e em especial ao Rui Costa (pela sua relevância e ambição na prova) desejo um excelente Tour de France e espero que todos dignifiquem o nome de Portugal atingindo os seus objectivos colectivos e pessoais.
Já agora, se gostaram do post, dêem uma vista de olhos neste, publicado no ano passado, e que recorda as participações dos portugueses no Tour, com especial destaque para Agostinho e para o Sporting.