Uma verdadeira máfia organizada
O texto é de Bernardino Ribeiro no Jornal Record e é hoje publicado no Leoninamente. LINK
Obrigado, Álamo!
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O texto é de Bernardino Ribeiro no Jornal Record e é hoje publicado no Leoninamente. LINK
Obrigado, Álamo!
"Depois de uma semana entre Moscovo e Pequim, volto a Portugal para ver um País com um novo Governo, novas expectativas, novos anseios e novas incertezas. Afinal, a vida é feita de mudança e evolução.
Depois de refeita a minha ‘curiosidade social’, dei uma espreitadela ao nosso futebol. E, confesso sem grande espanto, tudo na mesma. Nada se altera, nada evolui, nada se integra, nada se conjuga. A mesma lengalenga de sempre. E ninguém diz nada, somos supérfluos de conteúdos e parcos de palavras. Vive-se num clima de ‘terror’. Uns porque querem ser tão populares que cometem o pecado da uniformização de respostas, quer se faça bem ou mal. Outros porque decidem colocar processos, a torto e a direito, para tentarem desesperadamente silenciar quem os incomoda.
Alguns exemplos do nosso futebol:
1 Chego a Portugal e sou brindado com uma carta do Tribunal onde o Benfica, num processo sem qualquer interesse, de um merchandising que nunca vi, alarga o espectro dos visados a mim. A estratégia agora passa por qualquer processo que o Benfica levanta ao Sporting CP me colocar, a mim, enquanto cidadão, em causa (com a desculpa de ser Presidente do Sporting Clube de Portugal), a fim de me tentar condicionar na vida profissional e pessoal. Maior baixeza apenas tenho visto em animais rastejantes. Mas isso é feito com requintes muito próprios: em vez de me fazerem notificar no domicílio profissional, colocam em documentos que serão públicos a minha morada familiar, o que acredito ser a primeira vez que é feito na história do futebol.
2 Sou confrontado com processos contra ‘tudo o que mexe’ no Sporting CP: eu, Jorge Jesus, Octávio Machado, Jaime Marta Soares… enfim, quem comete o ‘delito’ de se referir ao Benfica leva com um processo jurídico. Mas estes processos têm claramente duas finalidades:
a) Tentar escamotear o caso da caixa e dos vouchers, o não cumprimento do artigo 62.º do Regulamento Disciplinar e a respectiva condenação prevista, que é a descida de divisão, com a criação de ruído e barulho para que a opinião pública ache que também o SCP corre algum perigo de penalização similar. Esta chama-se a táctica da contra-informação: fazer muito barulho para que as pessoas deixem de se focar no essencial e comecem a ficar apenas com os famosos ‘sound bites’;
b) Com tantos processos em tribunal fica claro que a grande luta do Benfica de conquista do ‘tri’ se fica numa estratégia de conquista do ‘tri-bunal’. Como diz o povo, ‘quem não tem cão, caça com gato’.
3 A estratégia assumida pelos clubes sobre os direitos televisivos foi pública: centralização dos mesmos. Já com esta Direcção da Liga todos os seus membros votaram a favor do ‘business plan’ que previa essa mesma centralização. O Benfica foi um dos que votou a favor desse plano. Agora faz mais um ‘negócio do século’ e renega toda a estratégia por si próprio votada, colocando o futebol português em causa, e não falo do Sporting CP, pois tem contrato até 2018, o que significa que estamos serenos. Coloca em causa os médios e pequenos clubes e traça um destino de quase fatalidade para a 2.ª Liga.
A Direcção da Liga faz um comunicado ambíguo “a bem da estabilidade do futebol português” e guarda uma posição para depois da sua reunião da próxima semana. Coincidentemente, ou não, o Benfica promete explicações do negócio em conferência na mesma data.
Fico feliz de ver o futebol tão ‘alinhado’, mas fico com uma curiosidade: depois dos comunicados à CMVM da NOS e do Benfica, o que existe para explicar? Será que, afinal, esses comunicados omitiam informação relevante ao mercado, situação gravíssima, ou teremos aqui mais um compasso de espera para alinhar posições e discursos? Vamos todos ser brindados com uma conferência de “somos 14 milhões, por isso todos nos querem”, ou virão com a teoria dos bastidores que são apenas 25 milhões de euros pelos direitos televisivos e 15 milhões pelo exclusivo da BTV? Ou teremos uma terceira via de dizer que o comunicado não estava certo e existiam outros ‘activos’ envolvidos? Confesso que a curiosidade mórbida me leva a querer ver o próximo episódio. Ao estilo de novela mexicana, acho que a próxima semana vai ser recheada de ‘flique-flaques’ e cambalhotas mortais.
4 Por fim, Rui Vitória adoptou um discurso que termina sempre nos árbitros: os erros, tem de lhes ser dito que erram, estão sempre a errar, erram muito. Agora o Benfica incumbiu o seu treinador da tarefa de pressionar a arbitragem. Não chegava ter de treinar uma equipa que está em processo de conhecimento do seu novo treinador e suas metodologias, e integração de novos jogadores… dar-lhe, em acumulação, esta tarefa de pressão contínua é, na minha opinião, contraproducente. Ficam desde já novamente convidados os dirigentes do Benfica a assinar a nossa proposta de vídeo-árbitro e começarmos em conjunto a lutar pela implementação da mesma. Assim, em vez de andarmos a lamentar constantemente, seremos pró-activos. Mas acrescento hoje um novo convite: falemos em conjunto, e de forma pública, demonstrando a capacidade de elevação e de fair play do futebol português num evento onde analisaremos ao pormenor a arbitragem e, já agora, as exibições em cada jogo desta época dos dois clubes, estando este convite alargado a mais clubes que o queiram fazer. Assim todos demonstrarão que não se fala só por falar, que a linguagem não é utilizada para pressionar mas que todos apenas queremos mostrar os factos verdadeiros e contribuir para um futebol melhor.
Depois desta minha análise a uma semana fora de Portugal, vamos para a Madeira e venha de lá esse futebol, o bonito, o atractivo, o que mexe com os corações de milhões de pessoas, aquele que até ao momento lideramos!"
Bruno de Carvalho, no Jornal Record (Obrigado ao Leão do Deserto)
(Rui Santos, Pressão Alta, in Record)
Um obrigado ao Álamo, do Leoninamente, de onde transcrevi o texto.
Há um detalhe que caminha lado a lado, por vezes de mão dada, com a coragem: a loucura. É preciso ter uma vertigem muito grande pelo abismo para se ser um tipo corajoso.
Nesta altura lembro-me de uma história com a Itália no Euro 2000.
Nas meias-finais, o jogo com a Holanda terminou num nulo. A presença na final, por isso, havia de se decidir da marcação das grandes penalidades. Era um daqueles momentos intensos, cheios, grossos e pesados. Um momento que acelera o coração.
Os jogadores italianos estavam no centro do relvado, naquele ritual de quem se prepara para bater um penálti, quando Di Baggio teve um assomo de honestidade.
«Francesco, tenho medo», atirou em direção a Totti. «A quem o dizes, já viste o tamanho daquele ali?», devolveu-lhe Totti, enquanto apontava para Van der Saar. «Obrigado, acabaste de me deixar mais tranquilo», reagiu Di Biagio. Foi nessa altura que Totti se saiu com uma frase imortal.
« Nun te preoccupá, mo je faccio er cucchiaio.»
O cucchiaio não é mais do que, na linguagem do futebol português, uma panenka. No fundo Totti disse-lhe qualquer coisa como «não te preocupes, vou fazer-lhe a panenka.»
Ao lado deles estava Maldini, homem experiente, capitão da seleção, que não queria acreditar no que ouvira. «Estás louco? Isto é uma meia-final do Europeu», disse-lhe. Totti não sentiu o peso da acusação. «Sim, sim, vou fazer-lhe a panenka.»
E fez.
Caminhou em direção à baliza, agarrou a bola, encostou-a ao peito e colocou-a no chão. Depois fez uma panenka. Mas não foi uma qualquer: foi uma panenka linda, perfeitinha, admirável. Uma panenka com a velocidade, a intensidade e a ameaça certas.
Mo je faccio er cucchiaio colou-se a Totti como uma marca de água.
O italiano é uma figura pitoresca, homem de muitos pontapés na gramática e frases parvas como «vocês sabem que não falo inglês» quando alguém lhe atirou um «carpe diem».
É isso tudo sim senhor, mas também é esperto, e se calhar por isso é que lançou dois livros de anedotas: «Todas as piadas sobre Totti - contadas por mim», volume I e II.
Mais tarde lançou um terceiro livro, desta vez sério, uma biografia. E o que é que lhe chamou? Precisamente. Mo je faccio er cucchiaio.
É uma frase que define a coragem de um homem e que a mim me lembra Jorge Jesus.
Vamos lá ser sérios, só desta vez, prometo ser um caso sem exemplo: independentemente de ter sido ou não empurrado para fora do Benfica, independentemente de se ter sentido ou não pouco valorizado no Benfica, independentemente de o Sporting lhe ter oferecido ou não melhores condições. Independentemente de tudo isso, foi um passo de enorme risco.
No fundo não foi só trocar um rival por outro, dentro da mesma cidade e do mesmo tempo.
Foi acima de tudo aceitar começar do zero.
Tudo o que fez, tudo o que conquistou, tudo o que ganhou no Benfica já faz parte do passado. Está lá atrás, no reservatório da memória. Exige-se a Jorge Jesus que faça exatamente o mesmo outra vez. Como se o que conquistou não tivesse existido.
Vai estar à prova todos os dias, todos os jogos e em todas as provas.
Podia ser diferente, claro que sim. Bastava que tivesse ficado no Benfica ou que tivesse aceitado emigrar para Itália e treinar o Milan. Ou até que se dispusesse a parar um ano.
Mas não, Jorge Jesus tomou a decisão mais arriscada. Assinou pelo Sporting e colocou-se no olho do furacão: tudo o que fizer vai ser escrutinado e as exigências são enormes.
Para ele vai tudo começar do zero outra vez: não o consigo dizer de outra forma. Tem de ganhar, como se nunca tivesse ganhado nada. As expetativas são enormes.
Há mais do que os pontapés na língua a ligar Jorge Jesus e Totti, portanto. Há a coragem: é preciso bravura para tomar uma decisão destas. O que fizer vai definir a carreira dele.
As qualidades técnicas de Jorge Jesus são óbvias e já escrevi sobre elas aqui.
O que quero destacar agora é este temperamento, esta ousadia, esta tenacidade. Os sportinguistas podem ficar por isso tranquilos. Por muitas dúvidas que tenham, há uma coisa que não podem questionar: a valentia do treinador. É seguramente um homem corajoso, um destemido, um líder.
À sua maneira, acabou de fazer um cucchiaio num daqueles momentos intensos, cheios, grossos e pesados.
Uma vénia, portanto.
Box-to-box» é um espaço de opinião de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol
Em breve saberemos se José Eduardo tem ou não alguma credibilidade.
Como qualquer uma das teorias, e para quem assiste de fora, isto ate faz sentido mas esperemos para ver.