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Grande Artista e Goleador

Excelente e esclarecedora entrevista a Bacelar Gouveia

O constitucionalista quebra o silêncio e explica as razões que o levaram a não continuar como presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar do Sporting. Entre elogios a Bruno de Carvalho, fala da polémica auditoria e do ambiente "pidesco" que lhe criaram em Alvalade.

 

Como se dá a sua presença na lista de Bruno de Carvalho em 2013? De quem partiu o convite?

O convite partiu do Dr. Bruno de Carvalho, que eu conhecia mal, mas passei a conhecer muito bem no exercício do mandato que agora terminou. Julgo que reuniu consigo um conjunto de pessoas de muito valor e fez uma excelente equipa nos vários órgãos sociais. E devo dizer, tendo terminado funções, e tendo aceite o convite há quatro anos, que estou hoje muito orgulhoso: eu lembro-me nessa altura que muitas pessoas achavam que o Dr. Bruno de Carvalho era o "Vale e Azevedo" do Sporting. E não eram muitos aqueles que o apoiavam. Eu sempre acreditei nele desde a primeira hora. E não imagina as dezenas de telefonemas de pessoas amigas - uns sportinguistas, outros nem tanto - muito admiradas e até indignadas por eu ter aceite o convite que ele me dirigiu para encabeçar o Conselho Fiscal e Disciplinar (CFD). Hoje, ao fim de quatro anos, posso dizer que foi uma boa decisão e os bons resultados estão à vista.

Entre essas pessoas, há alguém com maior peso no universo do Sporting?
Estão pessoas que foram antigos dirigentes do Sporting.

Está a falar de ex-presidentes?
Um deles foi presidente, mas não revelo de que órgão e de que mandato.

Por que não continuou para este mandato? Bruno de Carvalho falou em razões de ordem profissional, mas o senhor nunca deu esse motivo quando anunciou que não se iria recandidatar...

Em primeiro lugar, eu acho que estes cargos não devem ser renovação eterna. Quando aceitei o convite, o meu prazo estabelecido era de quatro anos e foram quatro anos muito duros. O CFD a que presidi foi o que mais vezes reuniu na história do clube, foram 44 reuniões e participando ativamente em sub-comissões. Houve um trabalho muito intenso, de acompanhamento das contas, da auditoria, da restruturação e depois também tivemos os processos disciplinares, que foram vários. Sinceramente, a certa altura comecei a ficar um pouco saturado e cansado de uma atividade muito intensa. Entretanto, aumentaram as solicitações profissionais para ir países de língua portuguesa. Ainda na semana passada estive em Maputo e Beira e na próxima semana estarei em Luanda. Esses afazeres levaram-me gradualmente a tomar a decisão de não me recandidatar à presidência do CFD.

Mas teve alguma coisa a ver, por exemplo, com o facto de ter uma ligação estreita, no âmbito da sua atividade como docente, com um dos comentadores do Benfica, que tem motivado mais críticas por parte do Sporting. Refiro-me a André Ventura.

Na verdade, conheço bem esse comentador e foi um dos melhores alunos da Nova Direito, sendo professor da Universidade Autónoma, onde eu também sou professor. Essa "ligação estreita", como diz, foi objeto de intervenções que não me agradaram porque, a partir de certa altura, ia recebendo comentários e inquirições de dirigentes intermédios do Sporting questionando o grau de proximidade que tinha com esse comentador, ao que eu respondia sempre com a verdade das coisas, mas sentia que essas perguntas tinham, na sua essência, uma suspeita inadmissível quanto à minha lealdade e ao meu sportinguismo. E, a partir desse momento, comecei a encarar a minha continuidade no CFD de outra maneira.

Quando começou a perceber que havia suspeitas que não eram compatíveis com a função?

Isso começou a partir de setembro, outubro, em que várias pessoas, num ambiente "pidesco" desagradável, me questionaram...

Bruno de Carvalho?

Não, nunca me abordou esse tema. Estou a falar de dirigentes intermédios, que me perguntavam, em tom "pidesco", o que é que eu tinha com esse comentador. Até logo me recordei, a esse propósito, que o presidente da Assembleia Geral é amigo de Luís Filipe Vieira. Costuma jantar ou almoçar com ele... bem, talvez agora já não possa... Aqui tem de haver bom senso e o mínimo de respeito. Uma coisa são as nossas relações académicas, profissionais e privadas, outra coisa são as nossas relações institucionais e de lealdade. Portanto, a partir do momento em que essas pessoas, agindo por conta própria ou não...

Mas acha que isso refletia o pensamento do presidente?

Nunca lhe perguntei. Ele a mim sempre me disse que o nosso trabalho tinha sido fantástico e tínhamos três listas no CFD. Para grande alegria minha, todos os meus colegas até me ofereceram um jantar de despedida, que não foi meramente protocolar. O Dr. Bruno de Carvalho num outro jantar confidenciou-me que o nosso trabalho tinha sido fantástico, ao que eu lhe comuniquei que nestas coisas de dúvidas sobre lealdade, temos de ser intransigentes.

Então a principal razão da sua saída deve-se ao facto de sentir que duvidavam da sua lealdade?

Não, não é a principal, mas contribuiu. Esse ambiente foi muito desagradável e eu não podia tolerar isso. Não podia continuar com a minha lealdade sob suspeita. O Dr. Bruno de Carvalho não se revia nessa suspeita, disse-me que não tinha a mínima dúvida sobre a minha lealdade, mas eu disse-lhe que essa suspeita era um dos fatores que me levava a não querer continuar. Não era aquilo que o presidente queria, mas esse ambiente instalou-se nalguns dirigentes intermédios.

Uma das bandeiras da campanha de há quatro anos do atual presidente do Sporting foi a auditoria às contas da SAD do Sporting entre 1995 e 2013. De quem foi essa ideia e como é que o senhor, na qualidade de presidente do CFD, a encarou?

Essa era uma ideia antiga do Dr. Bruno de Carvalho porque já a tinha apresentado em 2011 quando não ganhou. E voltou à carga (e muito bem). A definição da ideia de auditoria era em relação ao passado, para o período em que o Sporting passou a ter um novo conceito empresarial, ou seja, nos últimos 19 anos. Eis uma das coisas boas dos mandatos cessantes porque a auditoria foi cumprida. Mas a auditoria não foi feita pelo CFD, foi encomendada pelo Conselho Diretivo (CD), órgão que tem competência para fazer esse pedido, ainda que evidentemente o CFD tivesse tido uma intervenção muito relevante em vários momentos. Em primeiro lugar, para definir as cláusulas do caderno de encargos, para se saber o que os auditores iam perguntar, o tipo de documentos a obter, a parte patrimonial abrangida. Era uma coisa mais ampla, para se saber se os procedimentos nestes 19 anos eram corretos, se a gestão tinha sido boa ou má. Ajudámos também na escolha das empresas candidatas, algumas recusaram. O CD acabou por escolher uma empresa, com o nosso parecer favorável, mais uma sociedade de advogados. Creio que o valor final foi de 300 mil euros, era uma coisa muito cara. Depois, o CFD fez o acompanhamento durante a processo, houve alguma derrapagem temporal, até alguns sócios ficaram um pouco irritados e nas Assembleias Gerais culpavam o CFD quando, na verdade, tudo era da responsabilidade do dos auditores, sendo natural que se atrasasse. Nem imagina as dificuldades que encontrámos: desde contratos que não apareciam, outros fechados numa célebre cave, documentos que nem existiam, um conjunto de surpresas que ninguém esperava. Nós, CFD, não fazíamos parte da equipa, mas tínhamos membros que reuniam periodicamente com os auditores e com o CD.

Era uma auditoria necessária no seu entender?

Era e por dois motivos. Por um lado, para apurar responsabilidades e em Portugal é normal a "culpa morrer solteira". Era importante saber se havia responsabilidades, elas tinham que ser apuradas e eventualmente punidas. Por outro lado, para pensarmos no futuro e fazermos um luto sobre as coisas erradas do passado. Os sócios há muito que pediam esse esclarecimento.

O que é que se suspeitava? De fraude, de uso indevido de dinheiros do clube, de gestão danosa?

De tudo. Numa auditoria, estamos prontos para encontrar tudo aquilo que disse... até responsabilidades criminais. Mas sobretudo aquilo que nos surpreendeu foi haver processos de deliberação que não estavam de acordo com os estatutos. Por exemplo, venda de bens sem pareceres favoráveis do CFD ou venda de património sem o número mínimo de assinaturas que os estatutos exigiam ou transações que não tinham sido autorizadas pela Assembleia Geral. Não vou dar pormenores concretos.

Isso era muito importante clarificar até porque a grande venda de património não desportivo do Sporting deu-se no consulado Filipe Soares Franco...

Sim, sim é verdade. Mas a questão não era só de haver processos deliberativos irregulares, como também se colocavam questões importantes do ponto de vista do valor por que os bens foram vendidos...

Foi, então, importante a auditoria

Muito importante. O Dr. Bruno de Carvalho prometeu e cumpriu. Aliás, ele fez tudo aquilo que prometeu fazer. Deste ponto de vista, é um goleador 100% certeiro!

Durante esse longo processo, almoçou com Godinho Lopes, que mais tarde referiu que o senhor tinha criticado Bruno de Carvalho. O senhor negou e depois houve ameaças de processos de parte a parte... como está essa situação?

Exerci as funções de presidente do CFD do Sporting com muito gosto e honra e saí destas funções que exerci gratuitamente com a seguinte "herança": uma ação cível que o eng. Godinho Lopes intentou contra mim, pessoalmente, e também contra as pessoas do Dr. Bruno de Carvalho e do comandante Jaime Marta Soares, no valor de 500.000 euros. O que tenho de ligação ao Sporting, para além de ser sócio, é essa ação, que é totalmente disparatada e injusta, além de ter recusado que o Sporting me pagasse as despesas com a minha defesa em tribunal, que ficaram por minha conta, dado que esta foi uma ação movida contra mim, a título pessoal, e não na qualidade de então Presidente do CFD. O eng. Godinho Lopes nunca chegou a perceber o problema porque ele foi objeto de um processo disciplinar devidamente instruído por um jurista externo ao Sporting. Foi elaborada uma nota de culpa de 70 páginas, imputando-lhe um conjunto de factos. Enviámos essa nota de culpa e o eng. Godinho Lopes respondeu em duas folhas a dizer que não percebia a nota de culpa. Aplicámos a sanção de expulsão por seis votos e uma abstenção. Ele teve uma segunda oportunidade para se defender recorrendo para a Assembleia Geral no prazo de dois meses e não o fez e teve ainda uma terceira oportunidade de se livrar dessa condenação, que era ir para os tribunais e também não o fez. Foi para os tribunais fazer outra coisa, não foi para revogar a expulsão. Foi para intentar a tal ação disparatada. Não tive nenhum prazer em expulsar o eng. Godinho Lopes, mas era um dever moral perante as irregularidades que encontrámos. Em relação ao almoço, ele existiu, marcado por ele através de um amigo comum, durante o qual abordou dois assuntos e eu posso dizer que não conhecia o eng. Godinho Lopes de lado nenhum...

Não o conhecia?

Nunca o tinha visto pessoalmente, mas agora também não tenho interesse nenhum em voltar a ver... Retomando, fui apanhado de surpresa porque, afinal, ele queria era livrar-se do processo disciplinar e que lhe pagassem 750 mil euros que teria emprestado ao clube. Em relação ao processo, disse que o processo estava a decorrer e que teria a oportunidade de se defender, mas pelos vistos não havia nada para se defender porque era tudo verdade. E o segundo assunto, comuniquei ao Dr. Carlos Vieira, vice-presidente para a área financeira. Penso que há um litígio judicial sobre esse assunto.

O Sporting muito recentemente chegou a pedir a José Eduardo Bettencourt e Godinho Lopes, em conjunto, qualquer coisa como 70 milhões de euros. Mas aos anteriores presidentes isso não aconteceu. Pelo menos ainda...

No âmbito da auditoria, foram encontradas diversas irregularidades e, de facto, através daquela comissão, depois de o relatório estar feito, ouviram-se os antigos presidentes, dando-lhes conhecimento prévio de todos os relatórios, para que pudessem ter uma reunião connosco e prestar esclarecimentos. Uns aceitaram, outros não.

Como o Dr. Dias da Cunha...

Sim, sim. Mas essas reuniões foram importantes: no caso do Dr. Bettencourt, permitiu que se fizesse uma correção de um erro dos auditores devido à data de conclusão de um mandato. E muito bem o Dr. Bruno de Carvalho pediu em tribunal a correção e a redução dessa ação.

Isso é posterior à entrada da ação que pedia, em conjunto, 70 milhões de euros a Godinho Lopes e José Eduardo Bettencourt?

No princípio, o CD entendeu que se havia um conjunto de atos danosos e desastrosos para o ativo do Sporting, isso corresponderia a uma gestão que não é boa, que é má. Quem faz deliberadamente atos de gestão que conduzem ao aumento progressivo do passivo de uma empresa, não se pode dizer que tal gerente seja bom ou "amigo da empresa" porque esse gerente vai levar a empresa para o buraco. Como isso foi uma coisa continuada ao longo de vários mandatos, foi-se sempre agravando até ao clímax atingido no mandato do eng. Godinho Lopes, o CD entendeu que devia intentar essas ações de responsabilidade cível de administradores e a Assembleia Geral deu luz verde.

As únicas ações intentadas em tribunal foram contra José Eduardo Bettencourt e Godinho Lopes?

Há dois grupos de ações. Há umas primeiras quatro ações e depois um segundo grupo de ações numa segunda fase. Mas há questões jurídicas complicadas, como o prazo de prescrição, não havendo acordo dos juristas quanto a esse prazo... vamos aguardar o que os tribunais decidirem. Posso dizer que nós, CFD, não fomos consultados sobre essas ações, foram intentadas sem conhecimento prévio do CFD.

Isso é normal?

Faz parte do modo de ver o exercício da função do CD, mas penso que seria elegante antes de uma ação dessa envergadura ser intentada que, pelo menos, o presidente do CFD tivesse sido ouvido sobre o assunto, até porque, sendo advogado e professor catedrático de Direito, talvez pudesse dar alguma ajuda. Mas não foi...

Isso é uma pedra no sapato na sua relação com o presidente do Sporting?

Não, nós temos uma boa relação. Devo mesmo dizer que o Dr. Bruno de Carvalho me surpreendeu pela positiva. Nunca acreditei que ele fosse o "Vale e Azevedo" do Sporting e revelou-se um grande líder, com muita energia e capacidade de estratégia, salvou o clube logo quando tomou posse. Lembro-me de um episódio em que eu estava em Varsóvia e ele ligou-me a dizer que ia fazer uma conferência de imprensa para anunciar a rutura das negociações com os bancos na altura da restruturação. Ainda bem que ele conseguiu reverter isso e o Sporting deve-lhe a sua salvação financeira. Ele devolveu a dignidade aos sportinguistas. Isso não significa que tudo tenha sido perfeito no relacionamento do Dr. Bruno de Carvalho com o CFD e comigo em particular.

Houve mais episódios de desconforto?

Houve sim. O primeiro foi logo ao princípio quando o Dr. Bruno de Carvalho desejou apresentar aos sócios as contas consolidadas do clube. E ele pediu aos membros do CFD um termo de confidencialidade para terem acesso às contas da SAD no âmbito da restruturação financeira. Houve alguns membros do CFD que não assinaram e eu achava que não tinha de assinar porque, tendo sido eleito, a minha legitimidade democrática direta dispensaria qualquer tipo de assinatura. E eu estou à vontade nestes procedimentos porque já fiscalizei segredos bem mais importantes - quando fui eleito pela Assembleia da República presidente do Conselho de Fiscalização do Sistema de Informação da República Portuguesa - e nunca assinei qualquer documento de confidencialidade para ter acesso a segredos de Estado. Não era no Sporting que ia assinar...

Então, não assinou?

Acabei por assinar porque considerei que se não o fizesse iria gerar uma perturbação muito grande e estávamos no início do mandato. Por uma questão de paz interna, pensei que devia assinar e assinei. Já mais tarde, outro episódio que não correu muito bem foi uma tentativa - felizmente frustrada - de fazer uma alteração estatutária (e da qual o CFD só teve conhecimento pela leitura das atas) que tinha como uma das medidas o absurdo de retirar o poder disciplinar ao Conselho Fiscal e transferi-lo para o Conselho Diretivo. Isso, além de ilegal e inconstitucional, seria gravíssimo porque violaria a separação de poderes. A entidade que administra um clube não pode ser a entidade que pune os seus associados. Se essa medida tivesse ido para a frente, o Conselho Fiscal teria ficado sem o poder disciplinar. E, na altura, houve mesmo alguns membros do CFD que puseram em cima da mesa a sua demissão imediata. Ainda bem que foi algo que se resolveu rapidamente e tornou-se uma medida esquecida e espero que esquecida se mantenha para sempre.

E como geriu essa situação com Bruno de Carvalho, já que não houve uma comunicação entre órgãos?

O CFD e eu próprio ficámos preocupados porque nos disseram que o CD tinha aprovado essa proposta de alteração estatutária. Foi assim que soubemos e a partir desse momento pedimos acesso às atas para saber o que lá estava porque ninguém me tinha dito nada. E ficámos muito espantados com essa alteração estatutária a ser proposta em Assembleia Geral e na qual o Conselho Fiscal deixaria de ser "Disciplinar".

Mas confrontou Bruno de Carvalho?

Não confrontei. Ele não me disse nada previamente e eu achei que também não lhe devia perguntar nada posteriormente.

Mas quem retirou a proposta?

Não sei porque o assunto nunca foi levado à AG. Nunca passou de uma proposta que ficou na gaveta.

Nuno Silvério Marques é o seu sucessor.

E muito bem.

Há a curiosidade de o novo presidente do CFD ter sido eleito há quatro anos na lista de José Couceiro.

Veja lá bem as voltas que a vida dá. As pessoas não têm que ficar marcadas por terem integrado outra lista. Acho que o Dr. Bruno de Carvalho, quando decidiu perante a minha não continuação, teve um golpe de asa curioso. Devo dizer que isto na política não costuma ser assim, os adversários continuam a ser adversários, mas o Dr. Bruno de Carvalho tem essa bondade de alma em transformar os adversários em amigos. Aliás, o Dr. Bruno de Carvalho foi objeto de uma campanha terrível e vergonhosa contra a sua honra a reputação, em que muitas pessoas acreditaram, muito bem montada por uma agência de comunicação que estava na outra candidatura. Só que depois as pessoas perceberam que o verdadeiro Bruno de Carvalho não era aquilo que diziam que ele era, mas era uma pessoa com determinação, com o seu feitio, com a sua maneira de ser. É um líder nato e as coisas funcionaram bem. Admito que a minha presença possa ter contribuído para isso com algum traquejo de vida, com alguma experiência de liderança e também o caráter e as qualidades das pessoas do CFD: fiquei muito entusiasmado em relação a isso, pelo trabalho, dedicação e lealdade entre todos nós, e eu não conhecia nenhum dos seus membros.

O atual presidente foi reeleito de uma forma esmagadora. O que há a melhorar?

O Dr. Bruno de Carvalho, ao longo destes quatro anos, também aprendeu com alguns erros, que todos cometemos. E para além das muitas coisas boas que já fez, percebeu o domínio do Benfica na Comunicação Social. Tentou reagir virulentamente, como é seu apanágio, e o Sporting tem vindo a retificar um caminho, que é ter uma forma mais hábil de colocar os seus comentadores e pessoas da sua influência nos lugares da Comunicação Social. Vai fazendo-o gradualmente e também os próprios jornalistas - e aqui não estou a falar do Diário de Notícias, que, na minha opinião, é um excelente jornal - aperceberam-se que tinham ido longe demais no apoio ao Benfica. Hoje, as pessoas têm a consciência de que o Benfica é uma máquina poderosa de propaganda e que domina a esmagadora maioria dos órgãos de comunicação social desportivos e não desportivos e, graças à firme intervenção do Dr. Bruno de Carvalho, tem-se revertido a situação.

Como jurista, tem opinião sobre o caso dos vouchers...

Isso tem uma dimensão criminal. É um favorecimento, uma oferta, uma prenda. A legislação é cada vez mais rigorosa do ponto de vista de não permitir que se ofereçam coisas que, mesmo que sejam de pequeno valor, psicologicamente condicionam e limitam quem vai arbitrar um jogo. E um árbitro é como um juiz, tem que ser imparcial e independente. Não conheço nenhum advogado que antes de um juiz proferir uma sentença lhe ofereça bilhetes para o cinema, uma garrafa de azeite ou uma peça de fruta. Isso não é prática nos tribunais.

O presidente prometeu, em campanha, dois títulos nos próximos quatro anos. Partilha deste entusiasmo?

Prometer faz parte de uma política de objetivos. Ele já tinha prometido isso para o mandato que agora terminou. Infelizmente não aconteceu. Mas acho que ninguém pode ter qualquer dúvida sobre o amor e a dedicação do presidente ao Sporting. Eu testemunhei isso diretamente. Ele estava sempre no clube, só faltava dormir no clube - e até é capaz de ter dormido lá algumas vezes. Essa é a grande razão da esmagadora vitória que ele teve. Mesmo não se concordando com o estilo, com alguns excessos de linguagem ou com alguma intervenção mais abrupta, todas as pessoas reconhecem a sua entrega total.

Ao colocar a fasquia tão alta, se não cumprir o objetivo, pensa que Bruno de Carvalho pode ter vida longa como presidente do Sporting?

O futuro a Deus pertence, mas se ele continuar a gerir bem e a dar alegrias ao clube, certamente que vai continuar, e espero que por muitos anos, como presidente do Sporting.

 

Entrevista dada ao DN (LINK)
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O Euro de Sir William visto à lupa

Perhaps Portugal’s greatest achievement was that they did it without their key man, that they had the team spirit and the organisation to overcome the loss of a player who had been central to everything they had done in the tournament to that point. But enough about the semi-final – at least William Carvalho was back from suspension for the final.

 

The theory is that Cristiano Ronaldo has decided to keep playing till at least the next World Cup, by which time he will be 33, partly because he is in excellent physical shape himself but also because he looks at the midfield quartet that provided a platform for him and sees four players aged 24 or under of considerable discipline and talent.

 

At the heart of them is William Carvalho. His is an ungainly sort of footballer, all telescoping limbs and hunched shoulders, but his effectiveness cannot be denied. For years, it seemed, he has been linked with Arsenal, the final part of the jigsaw to link together their disparate midfield creators. And for just as long, wherever he turned up in the Champions League playing for Sporting against high-class opponents, he looked thoroughly ordinary.

 

There was an emperor’s new clothes vibe to him, a dawning sense that maybe he wasn’t that good, that he was a player of the social media age, overhyped too soon and vociferously promoted by thousands who’d never seen him play. The scepticism was not unjustified but what was perhaps forgotten was just how young he was - young enough in fact, to give further material to the doubters by missing the decisive penalty in the shoot-out at the European Under-21 championship final last year.

But in France, William Carvalho blossomed. Those long, long limbs kept making tackles. Fifteen times opponents tried to go past him; on 13 occasions he thwarted them. He also made seven interceptions and blocked two crosses and two passes. At least as important was his positional sense, something that is hard to measure with statistics, operating as a breakwater in front of the back four. If opponents did break through Portugal’s pack of three tough-tackling aggressive midfielders, there was Carvalho extending a leg to pinch the ball away. And if they somehow got past him, there were still four defenders. Fernando Santos, the Portugal (cliquem, caso tenham cusriosidade em ver os ratings de cada jogador) coach, said he would rather be ugly and still in the tournament than pretty and at home and William Carvalho was the embodiment of that spirit.

 

Yet to think of him as just a destroyer would be inaccurate. He completed 28 of 37 attempted long passes and 260 of 287 short ones. He kept the ball moving. He was a facilitator, a lubricator, not flashy but effective. All seven of the free-kicks he took found their target. But among all that there was just one key pass. Creation wasn’t his job. He was there to plug gaps, win the ball and move it on to others.

 

There will be those who criticise Portugal for their pragmatism and it's true that there seems something amiss when a side can win the tournament having won one and drawn six games in normal time. But those are the rules and the regulations as they stand. Despite the whining every time England fail to skip round opponents like Brazil 82 or Hungary 54, international football is about not losing. It’s not about style it’s about substance. Portugal may, for the neutral, be the least watchable tournament winners in a generation, but that’s what the international game is.

 

If you don’t concede, you don’t lose, and Portugal leaked only one goal in 420 minutes of knockout football. It’s not thrilling but it is effective, and William Carvalho stood at the heart of that.

 

Artigo retirado do site de futebol e análise estatística, Who Scored (original, AQUI)

 

Nota: Deixei o artigo em inglês pois é fácil de compreender para quem tenha as bases. Para os que não têm, o google translator faz o trabalho.

 

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Manobras de diversão

Fosse o Sporting o de antigamente e a estratégia funcionaria em pleno. Mas não é!

Sabendo da pressão do jogo de sábado, a máquina de propaganda ataca novamente, desta vez sob forma de tentativa de desestabilização do plantel, anunciando tudo o que é jogador como opção para o Clube.

Damião, Pato, Diagne, tudo com a premissa de que Teo Gutiérrez está de malas aviadas, ele que ainda agora acabou de aterrar.

Realismo, jornalismo, seriedade...ZERO!

Tudo manobras de diversão para fazer os possíveis para que haja um novo líder este fim-de-semana.

Felizmente, acredito que hajam poucos dentro do Sporting (fora ainda há muitos) que acreditem nestas palhaçadas com segundas intenções.

Já basta o adversário mais directo jogar primeiro para nos pressionar...

Não entremos na cantiga.

União, espírito de sacrifício e luta...dentro e fora do campo. Há uma liderança para segurar.

Aurélio Pereira: 'Se passar por um bando de miúdos a jogar, paro logo o carro'

Ex-treinador de todos os escalões da formação leonina, Aurélio Pereira anda há mais de duas décadas a descobrir talentos em nome do Sporting. Encontrou Futre, Figo, Ronaldo, Nani e muitos outros, alguns deles roubados aos principais rivais. Apreciador de western e de fado, fã da sobrinha Rita Redshoes e grande contador de anedotas, Aurélio Pereira explica o sucesso e revela os segredos.

Ao fim de 43 anos de ligação à formação do Sporting - 24 deles passados na prospeção -, qual é o maior elogio que podem fazer-lhe?

_Ser-me reconhecida a paixão pelo Sporting e pela formação.

Recentemente, foi homenageado pelo Sporting e o relvado principal do centro de estágio passou a ter o seu nome. Contas saldadas com o clube?

_Não estava à espera de tal homenagem e não sei como agradecer ao Sporting. Mas mais do que eu, a formação, pelo trabalho feito ao longo dos anos, merecia. É um grande património do clube.

E qual é o principal segredo de um caçador de talentos, de um olheiro?

_Primeiro, é importante conhecer bem os escalões etários. Um verdadeiro observador, quando entra num campo de futebol, sabe identificar imediatamente a que escalão pertencem os miúdos. Depois, a paixão - ainda hoje sou incapaz de passar por um bando de miúdos a jogar sem parar o carro para ficar a ver.

O que é importante ver em primeiro lugar?

_A habilidade natural é a primeira qualidade que se pode observar mas a velocidade de execução, de deslocamento, são fatores determinantes. Uma criança pode ter uma habilidade natural fantástica, mas sem a velocidade (de deslocamento, execução e reação), não há talento que resista.

Neste caso, como define talento?

_A habilidade natural, isto é, aquilo que nasce com o miúdo mas não só. O talento é também não ter medo de perder a bola, de errar. Esse é o verdadeiro talento.

Vai muitas vezes contra a corrente, apostando no miúdo menos provável. O que é que vê que outros não veem?

_Em regra olha-se para o rendimento atual da criança. Eu prefiro avaliar as potencialidades. Imaginemos dois miúdos de 10 anos; um nasce em Dezembro e outro em Janeiro. Sendo da mesma idade, um tem praticamente mais um ano do que o outro. Ou seja, não podemos ficar-nos pelo rendimento atual. Saber o mês de nascimento dos miúdos é fundamental.

Qual é o primeiro conselho que dá aos seus colaboradores?

_Há uma regra que implementei desde o início - nenhuma criança deve ser excluída à partida. Alto, magro, baixo, franzino ou gordo, todos devem ser analisados, vendo para lá dessas caraterísticas.

Foi assim que apanhou Miguel Veloso, um miúdo que o Benfica rejeitou por ser gordo.

_Por exemplo. Ora quem é gordito pode sempre emagrecer. E quando eu olhei para o Miguel pela primeira vez vi-o fazer coisas especiais - o posicionamento, a forma como se enquadrava utilizando já os apoios (provavelmente alguns ensinamentos do pai, António Veloso), a forma como colocava a bola à distância, a capacidade de antecipação. No dia seguinte chamei-os, ao pai e ao filho, e fiz-lhes o desafio. Foi um caso curioso porque no dia seguinte a mãe ligou-me e perguntou: «Vai levar o miúdo para aí para depois ser dispensado para o ano?». Disse-lhe que a nossa convicção era a de que ele ficaria. Tenho muito respeito por um jovem, faz-me muita confusão criar falsas expetativas.

Como desengana um miúdo que acredita que vai ser um Figo ou um Cristiano?

_Com muita paciência e dando tempo ao tempo. Com o tempo ele próprio perceberá.

Disse numa entrevista que no Sporting só entram dois tipos de miúdos - os talentosos e os bons jogadores. E em que fase avaliam a capacidade de trabalho, de dedicação e de sofrimento?

_Na hora: um talento, para o provar, tem de ter três coisas: paixão pelo treino, pelo jogo e pela profissão.

Um bom jogador pode chegar a grande jogador?

_Pode, se tiver também esses três fatores. Já um grande jogador nunca chegará a talento.

Mas o miúdo talentoso pode nunca chegar a ser um grande jogador, ou não?

_Exatamente, se lhe faltarem os mesmos três fatores.

Dani e Quaresma, dois talentosos, estão nesse grupo?

_O Dani ainda há bem pouco tempo fez uma palestra na Academia do Sporting. E quando mostrámos um vídeo com algumas das suas jogadas os nossos jovens ficaram boquiabertos. Ele tinha um talento fabuloso. Que jogador com 17 ou 18 anos entra no Ajax, joga e faz golos na Liga dos Campeões Europeus? Está tudo dito. Acontece que naquela altura não achava que na sua idade os sacrifícios fossem necessários nem estava vocacionado para os fazer. Acabou a carreira muito cedo, com muita pena minha. Tenho por ele o maior carinho e respeito, até porque é um miúdo fantástico. Os pais eram do melhor. Não lhe faltava nada.

Por outros motivos - e vindo de outro meio social - o Quaresma também ficou abaixo das expetativas. Porquê?

_Penso que tudo teria sido diferente se ele tivesse tido a sorte de ir com o Cristiano Ronaldo para o Manchester, um clube com capacidade para dar sequência a um trabalho de formação. Quando o Quaresma foi para o Barcelona, o clube estava numa outra fase, precisava de resultados na hora. As pessoas não imaginam como é importante para um jovem dar-lhe tempo e espaço de crescimento. Do ponto de vista humano podemos dizer que no Sporting somos catedráticos. O Quaresma não teve isso no Barcelona. A passagem para o Inter também o marcou. Ele tinha feito uma época fantástica no FC Porto, a transferência nunca mais se consumava, ainda por cima para um futebol muito defensivo.

Recorda-se da primeira vez que lhe falaram dele?

_Muito bem. Tive uma informação muito positiva de um atleta chamado Alfredo Quaresma e mandei o nosso observador ver esse miúdo num jogo Carcavelos-Domingos Sávio. O nosso olheiro gostou do que viu e combinou um encontro com a mãe. Enquanto esperava que o Alfredo saísse dos balneários, reparou num miudito de 7 anos, muito bom. Depois de saber que era irmão do Alfredo, telefonou-me. «Traz já os dois», disse-lhe. E assim ficámos com o Alfredo e o Ricardo.

O Dani foi descoberto por mero acaso.

_Completamente. Estava de férias com a família, em Troia quando vejo um puto num jardim a fazer de uma bola o que queria. A bola até se encolhia. Fui logo falar com ele.

Em que termos é feita essa primeira abordagem?

_Perguntei-lhe o nome e pedi-lhe que fosse chamar o pai. Ainda há dias encontrei um miúdo na Quinta das Conchas, assim, desta forma. Tenho a felicidade de, de cada vez que abordo um pai, ter um bom acolhimento.

Quando se identifica, os pais devem ficar até com os olhos a brilhar, não?

_Sinto um carinho muito especial que decorre da nossa credibilidade. Somos a primeira cara que lhes aparece em representação de uma estrutura que assume a responsabilidade de ter em casa cinquenta miúdos e de os encaminhar. Porque nós vamos desafiar uma criança para, provavelmente, lhe inverter o percurso de vida.

Já leva no currículo dois jogadores considerados os melhores do mundo, Figo e Ronaldo. E Futre esteve muito perto de consegui-lo. Qual é o melhor presente que estes jogadores, mais tarde, lhe podem dar?

_O maior retorno seria vê-los a jogar no Sporting. Gostava muito que eles tivessem princípio, meio e fim no meu clube. Mas o Sporting, ou o Benfica e ou o FC Porto não são destinos. São passagens. O Barcelona é um destino, é um clube que pode dar-se a esse luxo.

O Barcelona é o topo para um profissional da formação?

_Sim. É o Barcelona. Há um conceito onde as coisas têm princípio, meio e fim.

Como está montada a rede do Sporting?

_Atualmente, a informação é tão célere que não há possibilidade de esconder um miúdo. Todos os grandes clubes que apostam na formação fazem o mesmo trabalho de pesquisa. E, muitas vezes, chegar primeiro não chega. É o período da negociação que interessa, quando o pai já tem o convite dos três grandes. Por vezes, tiramos partido da guerra FC Porto-Benfica, confesso. Mas o mais importante passa pelos recursos humanos. O clube que não tiver no departamentos de recrutamento pessoas disponíveis 24 horas por dia está condenado ao fracasso. O Sporting tem.

E quantos são os olheiros espalhados pelo país?

_Cerca de 150. Mas não me interessa muito a quantidade se não houver paixão e disponibilidade para estarem em rede permanentemente.

Os olheiros têm uma avença, um ordenado?

_Nada. Só recebem ajudas de custo.

E como se processa o recrutamento?

_O processo de recrutamento começa nos 7 anos. Durante seis anos vamos seguindo os miúdos. Treinam nas nossas academias, os de fora vêm jogar aos fins de semana. A decisão de entrar na Academia é tomada dos 12 para os 13 e quando chegamos a essa fase de amadurecimento, o Sporting já conhece a família e o atleta por dentro e por fora, até clinicamente.

É a fase da grande decisão. Como é que convence um miúdo benfiquista, requisitado igualmente pelo Benfica, a escolher o Sporting, por exemplo.

_Não vou citar nomes mas já aconteceu com muitos. O meu argumento é sempre o mesmo: a garantia de que vindo para o Sporting o miúdo tem salvaguardado um conjunto de fatores decisivos para a sua vida. Treinar toda a gente sabe e também não lhes digo que temos as melhores instalações. Garanto-lhes, sim, que sob o ponto de vista humano ninguém tem a experiência do Sporting.

As paredes do seu gabinete com as fotos do Figo, do Ronaldo, do Moutinho, do Futre, do Nani, fazem meio caminho?

_Não podemos ocultar o nosso trabalho. O clube é uma referência de formação em todo o mundo exatamente porque formou esses jogadores.

E alerta os pais e os miúdos para a impossibilidade de todos poderem chegar a vedetas do futebol mundial?

_Falo sempre a verdade. Nunca garanto a um miúdo que ele vai ser um jogador de primeira equipa. O que lhe prometo é que vai sair dali melhor jogador, melhor atleta, e mais - que se tiver de regressar a casa, não irá, em termos escolares, descalço. Aliás, miúdos que eram alunos de cinco, continuam a ter as mesmas notas na Academia. O pai do Postiga, quando recrutámos o filho mais novo, o José Postiga (atualmente titular da seleção sub-17), disse-me isto: «O José é aluno de cinco. No dia em que ele não for aqui aluno de cinco regressa a casa.» E ele manteve as notas e pertence hoje ao quadro de honra da Academia.

Nesse processo, o pai e a mãe comportam-se da mesma maneira?

_Quem verdadeiramente decide é a mãe. Se a mãe não estiver do nosso lado, nada feito.

Como é que se conquistam as mães?

_Quem anda com os filhos para a frente são as mães. Por vezes, quando se trata de filhos de pais separados, o pai só aparece quando vê que o filho vai jogar para o Sporting, mas a mãe está lá sempre. A minha preocupação não é que os pais assinem papéis mas que saiam dali, mesmo que não assinem nada, com a certeza de que a instituição sabe o que está a fazer.

A criança ou os pais recebem dinheiro?

_Nada. E se um jogador for para ali discutir comigo problemas financeiros, a minha resposta é que vá para o Benfica ou para o FC Porto. Até por isto: os pais sabem que não há dinheiro que pague aquilo que damos aos filhos.

Quanto custa, em média, um desses miúdos à Academia?

_Não disponho dessa informação mas existe um orçamento e somos dos clubes que mais investe em formação.

Qual é o valor orçamentado para a prospeção?

_Não sei.

Nunca lhe fizeram um pedido especial ou tentaram uma cunha?

_Um ou outro pai pode tentar interferir, mas o Sporting está blindado. Não há um atleta que não tenha relatórios dos observadores, dos técnicos. Somos certificados e auditados e quando chega o momento da auditoria têm de constar no processo todos os elementos que justificam a entrada do jogador no Sporting. O processo passa pelas seguintes fases: informação, deteção, seleção e, depois, contratação. O departamento deteta e a área técnica seleciona. O recrutamento, em determinadas circunstâncias, pode decidir mas sempre em sintonia com a estrutura técnica. Eu gosto de analisar sempre o atleta para, na conversa com os pais, não correr o risco de criar falsas expetativas.

Diga-me um jogador que tenha escapado à sua malha?

_Sinceramente, não estou a ver um jogador que tivéssemos discutido e que ele tivesse optado por um rival.

O Nélson Oliveira para o Benfica?

_O Nélson. Sim, realmente ele esteve na nossa Academia. Eram benfiquistas convictos, não os podemos ter todos. É normal que um atleta escolha o clube da sua preferência.

Saíram do Sporting muitos e dos melhores extremos do mundo. A que se deve essa tendência?

_No Sporting não formamos equipas mas jogadores. Não responsabilizamos os miúdos, não gritamos, deixamos que eles tenham capacidade para criar. Eu que treinei o jogador que mais amava a bola, o Paulo Futre, fui muitas vezes atormentado de fora porque permitia que aquele miúdo não passasse a bola a ninguém. No Sporting esses jogadores de talento e de qualidade técnica são criados nas zonas interiores do campo para que possa tocar na bola cem vezes em vez de dez e sejam capazes de resolver as coisas em espaços reduzidos. Ora, qualquer treinador que visse um Nani, um Figo, um Ronaldo, um Simão, os colocaria nas faixas laterais. Mas não foram criados como extremos, sim no centro do jogo.

Não era fácil obrigar o Futre a passar a bola, ainda que quisesse.

_Atenção, eu castiguei o Futre, mesmo sofrendo com isso. Certa vez, porque ele faltou a um treino e um dos meus mandamentos era claro - quem faltar a um treino sem dar explicações não joga. Foi em vésperas de Sporting-Benfica, eu levei-o para a minha cabina e expliquei-lhe porque é que não podia jogar. Ele chorou e chorou. Deixei-o chorar. No fim disse-lhe: «Se tu fosses o treinador, o que fazias?». Ele deu-me razão, retratou-se perante os colegas.

O Futre foi a sua primeira grande descoberta, ainda treinador, em meados dos anos 1970. Antes, tinha sido jogador de futebol e treinador de todos os escalões da formação. Como é que chegou à prospeção?

_Em 1987, soube no decurso do campeonato de que ia ser substituído como treinador. Na altura, propus abrir um departamento de prospeção. Quando fui treinar ao Sporting aos 14 anos, de centenas de crianças apenas escolheram cinco (eu fui uma delas) com base num único critério, a altura. Aquilo marcou-me, ficara-me na cabeça e eu queria mudar alguma coisa. Primeira regra - ver todas as crianças. Mas selecionar em tão pouco tempo obrigava-nos a ter uma enorme atenção. Cheguei a tirar férias do meu emprego para ver esses miúdos num processo que era muito cansativo para nós e para as crianças. Os jogadores nem algarismos tinham. Por isso, revoltei-me e disse que só aceitava o lugar se acabassem com os treinos de captação. O Sporting deveria ir ao encontro dos miúdos e não o contrário e a direção aceitou.

Estava-se em 1988. Antes da sua chegada à prospeção, o Benfica e o FC Porto levavam um avanço?

_O Benfica tinha poder económico e qualquer jogador que aparecesse acabava lá. Os dirigentes benfiquistas chegavam a um clube, perguntavam quanto queriam por tal jovem e pagavam. O Sporting não tinha essa capacidade financeira. Quando iniciei esse departamento, arranjei, primeiro, uma equipa espetacular dedicada à região de Setúbal e Lisboa; segundo, pedi na secretaria as moradas de todos os sócios à exceção de Lisboa e, como trabalhava numa gráfica, fiz uma circular em que lhes pedia que nos ajudassem a encontrar uma estrela. Seguiu também uma ficha de inscrição e passados uns dez dias ligaram-me a dizer que estavam inundados de pedidos de adesão. Depois, selecionámos as pessoas por distrito e atividade. Havia de tudo, treinadores, árbitros, até médicos e advogados. Criámos uma rede de vinte pessoas por distrito que nos garantia informação que os outros não tinham. Fomos o primeiro clube a criar uma base de dados de observadores que nos permitiu começar a liderar o recrutamento de jovens em todo o país. A minha homenagem às pessoas que iniciaram comigo essa tarefa gigantesca.

Nessa altura, como é que era a vida dos miúdos que viviam no Sporting?

_Jogavam e estudavam. Tinham muito apoio da nossa parte.

Ao contrário de hoje, a maioria deixava de estudar muito cedo.

_Alguns, sim, se bem que o Sporting sempre se preocupou com esse aspeto, não é de agora. Nesse tempo, tínhamos um minicentro de estágio dentro do estádio e as coisas estavam controladas até porque havia uma escola ali perto. Não tínhamos as condições de uma academia, mas do ponto de vista do acompanhamento, essa preocupação já existia. Nessa altura, no entanto, só recebíamos miúdos a partir dos 14, 15 anos. A primeira vez que abrimos uma exceção foi para um miúdo de 11 - o Cristiano Ronaldo. Não estávamos preparados mas não podíamos deixá-lo fugir.

O Cristiano obrigou o Sporting a abrir uma exceção e os cordões à bolsa....

_Sim. Quando avaliámos o Ronaldo (na altura era o responsável por todo o futebol juvenil) percebemos logo que havia ali um talento fora do vulgar. Daí ter-se assumido pagar aquela verba, que era impensável - 25 mil euros. Nunca se tinha pago tanto por um miúdo. Mas assumimos isso depois de uma análise em conjunto, lá está, conscientes de que estávamos a ver um miúdo com 11 anos, com um talento enorme e uma personalidade muito especial. Estamos a falar de um jovem que nunca se escondia, que assumia o jogo, o erro, repetia a jogada e voltava a fazer sem medo. Rapidamente os outros miúdos perceberam que ele era o líder. Mesmo quando o treinador estava a falar no meio do campo e a conversar com os jogadores, o Ronaldo estava sempre com a bola de trás para a frente. O Futre era igual. Aliás, nos dias de hoje, Futre não teria preço.

Ronaldo teve uma adaptação difícil. Chorou muito.

_Foi difícil, sim. E quantos não choram? Nesses primeiros tempos, quando ainda não há jogos ou escola, os miúdos sentem mais o desenraizamento, a falta dos amigos e da família. Enquanto não começa a competição e a escola temos de estar ali para eles. E estivemos sempre, nos bons e maus momentos. Como no dia em que a professora achou piada ao sotaque madeirense, riu e o Ronaldo não gostou. Reagiu e a coisa esteve muito feia, mas tudo se resolveu porque apesar de ter sido um miúdo com alguma rebeldia sempre acatou os conselhos.

Como era o dia a dia do Ronaldo?

_Era escola, de manhã e à tarde, e os treinos. Os afazeres dele não eram muito diferentes dos dos miúdos de hoje, na Academia. A base são os hábitos de trabalho, as equipas e as pessoas. Mas há uma alma que vem do passado e que nos alimenta.

Algum dia mereceu um castigo? E porquê?

_Nas vésperas de ir pela primeira vez à Madeira jogar pelo Sporting teve um desentendimento com uma das nossas professoras e tivemos de o desconvocar. Foi um castigo duro e ele senti-o muito mas a mãe deu-nos razão.

De tantos que já treinou ou descobriu, qual foi o jogador que mais o marcou?

_O Paulo [Futre] marcou-me muito. Eu identifico-me muito com os miúdos de bairro. Tenho muito orgulho nessas raízes. Não trocava a minha infância por nada deste mundo, tal a felicidade que vivi, mesmo sem grandes meios. No bairro somos solidários. O Futre é um ser humano fantástico. Já em jovem estava sempre disposto a defender e a ser solidário com os que mais precisavam. Nunca o vi voltar as costas a ninguém e ainda hoje é assim. Dormiu muitas vezes em minha casa, conheço-o muito bem. Ao longo destes anos encontrei pessoas extraordinárias em miúdos de 11 e 12 anos. Fico impressionado quando uma criança de 12 anos, cheia de talento, acarinhada na Academia, vinda de uma família com poucos recursos e consciente de que a espera um grande futuro nos diz «Eu quero estar perto dos meus pais. Não troco os pais por esta carreira.» Já tive um ou outro caso desses. Quando é assim, temos de encontrar uma solução que não separe a família.

Imagina Cristiano Ronaldo a dizer isso?

_Não. Os jogadores como o Ronaldo são obcecados pela carreira e têm um objetivo definido - a confirmação, na totalidade, do seu talento.

O Figo não tinha nem o perfil do Futre nem o do Ronaldo. Como o descreve?

_O Figo era um miúdo mais frio, com uma personalidade muito bem definida desde criança, pouco expansivo e muito observador. Nunca falava por falar. Nesse aspeto era muito calculista. Um homem na Cova da Piedade tinha-nos falado de um miúdo do «Pastilhas», um miúdo muito bom. Mas, antes de irmos falar com ele, veio ele treinar ao Sporting. Prestou provas com o professor Barnabé, a quem, ao fim de um tempo, interpelou desta forma: «Despache-se lá; fico ou não fico?» Isto define o Figo.

E qual foi o mais problemático?

_Problemático não diria, mas o Futre foi um miúdo hiperativo, dentro e fora do campo. Não podia estar quieto, era impressionante. Mas não foi um jogador-problema. Só para os adversários.

E o Quaresma?

_Chegou ao Sporting muito pequenino. O miúdo de bairro é mais irreverente e espontâneo, não está habituado a ficar calado. É preciso ter isso em conta quando se fala do Quaresma.

Lembra-se da primeira vez que viu o Nani?

_O Nani era um miúdo muito franzino que jogava no Real Massamá. A determinada altura foi treinar ao Sporting, mas por causa dos transportes e de uma vida familiar um pouco atribulada acabou por não ficar. Manteve-se no Massamá, as pessoas tratavam-no bem, tinha alimentação, carinho, tudo. Aos 16/17 anos foi fazer um jogo à Academia e os nossos técnicos fizeram um parecer no sentido do recrutamento. Mal o vi fiquei convencido de que tinha tudo para vir a ser um grande jogador.

E da primeira conversa com Moutinho?

_Quando o vi, miudinho e franzino, num torneio de seleções distritais na Pontinha, gostei muito. Falei com o pai, de quem fui treinador na seleção de iniciados de Lisboa, e iniciámos o processo. Mas foi uma luta muito renhida com o FC Porto.

Foi tutor de Simão. Porquê?

_O Simão chegou ao Sporting com 12 anos. Vinha de muito longe e a família pediu-me esse apoio. Aceitei o desafio e cumpri a minha obrigação mas não voltei a repetir. É uma responsabilidade imensa e chegou a determinada altura em que as incompatibilidades, face por um lado às minhas responsabilidades e, por outro, à gestão de uma carreira desportiva de jogador profissional, foram evidentes.

Como era ele?

_Um miúdo humilde, com ambição, que nunca criou problemas. Nunca tive de o chamar à atenção e se mais tarde existiram desvios não sei. Não estou por dentro.

O que primeiro o impressionou em Rui Patrício?

_O Rui tem uma capacidade notável de sacrifício. Com 11 anos, vinha duas vezes por semana de Leira a Lisboa, em autocarro para treinar em Pina Manique. E regressava no próprio dia. Amargou tanto aquele miúdo que ficou com a estaleca emocional que se lhe vê. Foi descoberto de uma maneira engraçada: ele, um esquerdino, entrou para substituir o guarda-redes que se lesionara. Foi em Pombal e o nosso observador estava lá.

Futre no FC Porto e no Benfica, Moutinho e Varela no FC Porto, Simão no Benfica. Destes três casos, qual deles lhe custou mais?

_Todos da mesma forma. Não gosto que não estejam no Sporting nem de os ver em clubes rivais.

Que relação mantém pela vida fora com estes miúdos, uns que descobriu, outros que treinou?

_Quem acompanha a sua integração e o tempo de formação no clube acredita que está a ajudar a formar um bom ser humano. Na minha relação com eles procurei sempre contribuir para que respeitassem a instituição que lhes deu tudo. Reconhecimento é o mínimo que se exige.

Continuam a visitá-lo?

_Eles têm a sua vida profissional e eu a minha. Aqui e ali quando nos encontramos a amizade e o respeito são evidentes.

Falam-se ao telefone, trocam mensagens? Com Ronaldo, por exemplo.

_Sim, há períodos em que troco mensagens semanais com ele. Lidamos com estes miúdos durante muitos anos e há sempre uma preocupação.

Como é que lhe chamam?

_Por Senhor Aurélio.

Nunca se zangou à séria com nenhum deles?

_Não. Como treinador, era obrigado a ter por vezes um discurso forte, ou a dar um murro na mesa. Fiz isso algumas vezes, mas na perspetiva de o grupo responder positivamente.

É um grande contador de anedotas. Fazia-os rir?

_Sim. Numa viagem longa, por vezes de 37 horas de autocarro, é fundamental alegrar o grupo. Recordo momentos de muito boa disposição.

E, como bom nascido em Alfama, gosta de cantar fado. Cantava-lhes fado?

_Viagens tão longas davam para tudo. Até para umas cantigas. Quem lida com jovens não pode ser cinzentão e eu sou bem-disposto por natureza.

Neste momento, há miúdos na Academia de que vamos ouvir falar muito?

_Há sim. Há alguns. Não podem aparecer Ronaldos todos os dias, mas desde que o clube tenha matéria-prima e a capacidade para, em conjunto com o jogador e sua estrutura familiar, transformar o jogador em grande jogador, nunca faltarão craques.

Atualmente, os miúdos que vivem na Academia também têm tempo para brincar e relaxar?

_Sim. Têm tempo porque lhes é permitido.

Qual é rotina deles?

_Têm uma vida perfeitamente normal, só não dormem em casa. Saem de manhã para a escola, almoçam lá e regressam todos à mesma hora (os horários estão coordenados). Depois vão lanchar e treinar. Têm o seu tempo de estudo e um gabinete psíquico-pedagógico sempre aberto, formado por quatro senhoras.

Também conhecidas por «as mães».

_Sim. Duas delas são psicólogas. Os miúdos nunca estão sós. E atenção, não há seguranças, só funcionários do clube.

A que horas é se deitam?

_Às onze.

E podem usar o telemóvel dentro dos quartos?

_Há alguns condicionalismos, tendo em conta o descanso, mas penso que sim.

Têm televisão nos quartos?

_Sim. Às onze horas desligam. As pessoas que ali estão têm de ter muito talento. Lidam com adolescentes a partir dos 13 anos.

As visitas à família e da família têm que periodicidade?

_Somos os primeiros a dizer-lhes que devem ir várias vezes a casa. Não há condicionalismo de espécie alguma. A família vem quando quer. É dentro desta liberdade que os miúdos se vão adaptando. A determinada altura os miúdos sentem que são atletas de alta competição e têm determinados objetivos e eles próprios gerem essa relação.

A Academia do Sporting é visitada por pessoas ligadas a vários clubes de todo o mundo que farão seguramente muitas perguntas. Quais são as mais frequentes?

_São sobretudo relativas à área técnica. Os processos de trabalho suscitam muita curiosidade.

Como ex-treinador de miúdos e jovens, e nessa condição venceu pelo Sporting muitos campeonatos nacionais em todos os escalões, que conselho dá a quem agora trabalha com a formação?

_Não há triunfos nem derrotas eternas, tudo começa de novo. Este é o meu princípio. No futebol, num mesmo jogo, somos capazes de fazer as melhores e as piores coisas. É preciso estar preparado para fazer as duas coisas. Por isso, mais do que ter treinadores a dizer «faz assim ou faz assado», os miúdos precisam de quem lhes diga «joguem».

A treinar ou a descobrir talentos, o que o faz mais feliz?

_Quando deixei de ser treinador custou-me muito. Mas, depois, entrei na prospeção e a paixão até redobrou.

Lamenta não ter ido mais longe como jogador ou treinador? Trabalhou como mecânico, mais tarde como diretor comercial de uma tipografia, nunca se profissionalizou no futebol.

_O meu pai vivia para o trabalho e deixou-nos essa herança. Quando tinha 15 fui aprendiz de mecânico e depois passei à oficina. Saía às quatro horas e ia para o Estádio de Alvalade. Já em 1963 o Sporting tinha um espaço para nós estudarmos. Das 18 às 20 treinava. Depois ia para a Escola Industrial Machado de Castro e tinha aulas das 21h00 às 23h00. Chegava a casa à meia-noite. Mas apesar de todo o esforço, como jogador seguramente não ia ter muito futuro. Era normal. Como treinador era uma questão de risco. Optei pela estabilidade da família.

Nunca foi convidado por outros clubes?

_Quando deixei de treinar na formação do Sporting fui convidado pelo FC Porto. Mas nunca senti motivação para viver só do futebol. Reconhecia que isso era uma aventura. No futebol profissional as pessoas passam por muita coisa.

E como especialista na área da prospeção, nunca lhe foi proposto trabalhar para um empresário de jogadores?

_Uma vez sim. Falaram comigo e eu disse que não. Não me enquadro nesse perfil.

Nunca se arrependeu de tantos anos de fidelidade ao Sporting?

_Não. É uma paixão.

Tem um neto de 2 anos e uma neta de 6. Têm jeito para o futebol?

_Noto que o Tomás tem vontade e gosta de jogar. A Carolina prefere ver comigo o Tom and Jerry. Somos capazes de estar os dois abraçados a ver aquilo. E eu depois começo a imitar as vozes e ela diz-me: «Avô, és mesmo louco.»

E continua a gostar de westerns?

_Sempre. Por uma questão de nostalgia estou a ver uma coleção do Bonanza. Nós não tínhamos televisão em casa e recordo o frenesim de comer à pressa para ir ver o Bonanza... Dizíamos «A seguir à tempestade bem a bonança e a seguir ao telejornal vem o Bonanza.» E lá íamos a correr para o café a ver se o homem nos deixava ficar em pé a ver aquilo.

E de ouvir a sobrinha, a Rita Redshoes (filha do irmão Carlos, ex-jogador do Sporting e treinador)?

_Sim, gosto muito de a ouvir. É um caso de paixão e talento. E tem a quem sair. A família, quer do lado da minha mãe quer do lado do meu pai, teve sempre uma relação próxima com a música. O meu pai tocava muito bem harmónica.

Perguntas de algibeira

Uma cena de um filme.

_Escolho uma de Rain Man - Encontro de Irmãos, um filme que me marcou muito. A cena em que finalmente os dois irmãos se abraçam depois de estarem afastados física e emocionalmente durante tanto tempo. Duas brilhantes interpretações de Tom Cruise e Dustin Hoffman.

Um livro.

_Palavra de Mulher, de Maria João Lopo de Carvalho.

Uma música para namorar.

_Feelings, de Morris Albert, uma voz pouco conhecida, mas que considero fantástica.

Um lema de vida.

_O tempo tudo resolve. Há sempre tempo para uma má decisão. Um problema grande ao amanhecer pode ser pequeno ao anoitecer. O tempo é o melhor conselheiro, pois há sempre tempo para uma má resposta, para uma atitude errada.

A última vez que chorou.

_Tenho de confessar que sou bastante emocional. E na homenagem que o SPC me fez recentemente emocionei-me e comovi-me ao olhar para a minha família ali presente a apoiar-me incondicionalmente.

O que ainda vê na TV?

_Informação, desporto e entrevistas sobre histórias de vida.

Quanto tempo gasta por dia a ler jornais?

_As duas primeiras horas do meu dia (entre as 08h00 e as 10h00).

Quanto tempo gasta por dia a ler e responder a e-mails?

_Metade do meu dia.

Contra a crise.

_Para falar de crise em Portugal teremos de a abordar no sentido global, da Europa. Acho que é um modelo falhado e que só a Europa no seu todo poderá resolver. Estou preocupado porque descontei cinquenta anos da minha vida e vejo um futuro próximo bem negro, eu que sou um otimista por natureza. Receio que a nossa democracia esteja em perigo e todos os dias conhecemos histórias que não pensava voltar a ver em vida. Vivi em ditadura e espero que não tenhamos de ouvir novamente na rua «Viva a liberdade» e ir à janela para ver quem vai preso.

Um lugar para passar a reforma.

_Lisboa, a minha cidade. Aquela que acolheu os meus pais e muitas gerações. É uma cidade com um cor única, solidária e que ainda tem muita coisa boa para oferecer. Como sempre, mais apreciada pelos estrangeiros.

 

Entrevista ao DN

O cerco começa a apertar

"A transferência recorde de 54 milhões de euros do defesa Eliaquim Mangala do Porto para o líder da Premier League, Manchester City pode ter explicitamente violado uma regra de longa data do futebol mundial."

(...)

"Documentos analisados pela Bloomberg incluem uma carta entre os dirigentes do Porto e a Doyen, em que o clube de futebol cedeu ao fundo o poder de negociar a sua percentagem do passe de Mangala. Esse acordo parece saltar as regras da FIFA à data, que proibiu terceiros de influenciar as negociações das transferências entre clubes."

(...)

"Se o comité da FIFA decidir que o Porto quebrou as regras, o clube pode ser multado ou impedido de contratar jogadores"

(...)

"O timing da investigação da FIFA vem num momento sensível para a Doyen, que espera uma decisão do Tribunal Arbitral do Desporto sobre outra transferência de perfil elevado. O Sporting recusou pagar ao fundo a sua percentagem da transferência de 20 milhões de euros de Marcos Rojo para o Manchester United, alegando que este pressionou o clube a transferir o jogador apesar deste o querer manter."

"A Doyen desafiou também a mais recente proibição da FIFA de investir na contratação de jogadores e o desfecho do caso Rojo e este novo inquérito pode influenciar os processos desse tribunal. A prática começou na América do Sul e espalhou-se por várias partes da Europa, com os clubes a usar o dinheiro de investidores para pagar jogadores que dizem não poder pagar."


Tentei traduzir o melhor possível e cingi-me às partes que me parecem mais importantes mas o artigo original, publicado no Bloomberg, pode ser consultado AQUI.

Clique

E tudo se resume a isto: o simples clique de um teclado ou rato de computador e o acto de clicar naquilo que é publicado.

Mais do que o papel, um jornal é hoje em dia aquilo que a era digital permite. O acesso fácil e imediato à informação bem como a sua fácil publicação levam a que o papel perca relevância.

E se, hoje, a informação existe em quantidade, o mesmo não pode dizer-se da sua qualidade.

Não são raras as vezes que ouvimos falar da mediocridade da nossa imprensa, desde a generalista, à desportiva.

Mais importante do que o conteúdo, importa saber a quem se dirige a informação e como ela é veiculada.

Na era do clique, tudo é lucro e há pessoas que continuam a esquecer-se dos que diariamente nos agridem, engordando as suas contas com cliques em pseudo-notícias que mais não são do que geradores de dinheiro vindo da publicidade.

Embora hajam ainda bons jornalistas (poucos), o jornalismo está pela hora da morte.

Qualquer estagiário faz o que lhe pedem e copia e cola uma coisas com uns temas sugestivos (ou nem tanto) como: "Você não vai acreditar!" ou "Acabou de acontecer no clube X!".

Tudo para que o impulso da curiosidade dê mais um clique a uma notícia oca, falsa, encomendada ou sensacionalista.

Tudo menos jornalismo e informação.

Tudo para que um clique gere o correspondente em euros para alimentar esta máquina propagandista que dia após dia nos ataca às custas de muitos de nós.

Tudo porque a sede de informação é tanta que a qualidade da mesma deixou de ser valorizada.

Tudo por um clique e uma partilha, para que um efeito cascata lhes encha os bolsos.

O mesmo se passa nas televisões. Criam-se e alimentam-se polémicas, fazem-se perguntas estúpidas e ouvem-se respostas ainda mais parvas.

E isto "vende".

Porque o público não é exigente, não contesta e colabora.

Depois, levamos com cmtv's, desportivos que desinformam e generalistas que 'noticiam' o ridículo.

Um desejo. Que todos os jornalistas criem um blogue e façam o que lhes compete, sem amarras ou directrizes: investiguem e informem.

Pedala leão - Um sonho cada vez mais real

"O ciclismo está na memória de muitos Sportinguistas e faz parte da história do Clube. Queremos que regresse ao universo Sporting. Faz parte da estratégia da actual direcção garantir o ciclismo até ao final do mandato, que termina em finais de 2017. Terá de ser a custo zero para o Clube. Já estabelecemos contactos com algumas empresas nesse sentido. E não queremos uma equipa amadora. A ideia aponta à criação de uma equipa profissional para voltar a integrar o pelotão da Volta a Portugal."

Comandante Vicente Moura, vice-presidente para as modalidades, ontem, ao jornal A Bola

A data não me parece inocente. Quando é referido o ano do final do mandato como limite, este parece-me mesmo o objectivo. O Sporting estará a criar as bases para que em 2017 voltemos a ver a verde-e-branca pelas estradas de Portugal (pelo menos). 2017...precisamente 30 anos após a extinção da secção de ciclismo do Clube, em 1987 e depois de duas vitórias consecutivas.

Nasci em 1985, o ano da primeira vitória de Marco Chagas pelo Sporting, que viria a repetir no ano seguinte e nunca tive o prazer de ver correr uma equipa de ciclismo do Sporting.

Como uma das mais emblemáticas modalidades, sempre me custou passar os anos sem que o Sporting tivesse a modalidade que lhe deu um dos seus maiores símbolos. Joaquim Agostinho é o símbolo maior do ciclismo no nosso país e foi no Sporting que se iniciou. Agostinho é, sem margem para dúvidas, um dos maiores símbolos do Sporting Clube de Portugal.

É importante recordar que o Sporting esteve nos primórdios da modalidade no nosso país, sendo os registos mais antigos datados de 1911. Foram mais de 70 anos de actividade, com pequenas interrupções pelo meio, quase todas por força maior (guerras e conflitos nacionais e mundiais).

Entre todas as provas disputadas, destacam-se as presenças regulares na Volta a Portugal e duas presenças na maior prova velocipédica do Mundo, a Volta a França.

Na Volta a Portugal, destacam-se:
- 9 vitórias individuais (1933 - Alfredo Trindade; 1940 - José Albuquerque "Faísca"; 1941 - Francisco Inácio; 1963 - João Roque; 1970/1971/1972 - Joaquim Agostinho; 1985/1986 - Marco Chagas).
- 13 vitórias colectivas (1933; 1940; 1941; 1961; 1962; 1967; 1968; 1970; 1971; 1972; 1973; 1984; 1985).
- 6 vitórias do prémio da montanha (1964 - Sérgio Páscoa; 1965/1968 - Leonel Moreira; 1967 - Leonel Miranda; 1970 - Firmino Bernardino; 1971 - Joaquim Agostinho).
- 7 vitórias do prémio por pontos (1967 - Emiliano Dionísio; 1968/1969/1970 - Leonel Miranda; 1971 - Joaquim Agostinho; 1984 - Paulo Ferreira; 1985 - Carlos Santos).
- 5 vitórias do prémio metas volantes (1970 - Leonel Miranda; 1971 - Emiliano Dionísio; 1972 - Manuel Gomes; 1973 - Francisco Miranda; 1984 - Paulo Ferreira).
- 7 vitórias dos prémios combinados (1970/1971/1972/1973 - Joaquim Agostinho; 1985/1986 - Marco Chagas; 1987 - Serafim Vieira).

Na Volta a França, destacam-se:
- As duas presenças, em 1975 e 1984 (as duas únicas de equipas portuguesas na prova).
- O 15º lugar de Joaquim Agostinho em 1975.
- A vitória de Paulo Ferreira numa etapa, em 1984.

A comparação com os dois maiores rivais nacionais é inevitável...

Geral Individual
FC PORTO - 13
SPORTING CP - 9
BENFICA - 9

Geral por Equipas
SPORTING CP - 13
FC PORTO - 11
BENFICA - 9

Prémio da Montanha
SPORTING CP - 6
FC PORTO - 6
BENFICA - 3

Prémio por Pontos
SPORTING CP - 7
BENFICA - 5
FC PORTO - 3

Prémio Metas Volantes
SPORTING CP - 5
BENFICA - 5
FC PORTO - 3

Prémios Combinados
SPORTING CP - 7
BENFICA - 1
FC PORTO - 1

Prémios da Juventude
FC PORTO - 1
SPORTING CP - 0
BENFICA - 0

A partir de 2017, deve ser nosso objectivo o domínio nacional e espero que alimentemos o sonho de voltar a ver o verde-e-branco na Volta a França. 

Haja saúde...financeira.

O Sporting passou a ser o clube com a melhor classificação no Painel de Saúde de Crédito (o "Credit Health Panel") da S&P Capital IQ. Veja o ranking dos clubes europeus, onde os grandes portugueses aparecem no fim da tabela.

As SAD não têm uma situação financeira fabulosa. Os passivos são elevados: os "três grandes" devem, em conjunto, 911 milhões de euros, o que os deixa, na perspectiva da S&P Capital IQ, no fundo do "ranking" em termos de saúde financeira. Na disputa entre os três, o Benfica pode ser o campeão em título, mas é o leão que está em melhor condição. Superou, este ano, as águias.


O Sporting passou a ser o clube com a melhor classificação no Painel de Saúde de Crédito (o "Credit Health Panel") da S&P Capital IQ. Subiu cinco posições face ao ano anterior num "ranking" que utiliza 24 métricas financeiras, organizadas por nível operacional, solvabilidade e liquidez. Fica duas posições acima do Benfica que afundou sete posições neste indicador "utilizado pelas grandes instituições na avaliação do risco de crédito das suas posições", diz a S&P.

O SCP é o melhor em Portugal, já o Porto aparece mais para baixo e surge quase no fim da tabela.


RANKING

Ajax (Holanda)

Arsenal (Reino Unido)

Bayern Munique (Alemanha)

Manchester City (Reino Unido)

Saint-Ettiene (França)

Nantes (França)

Borussia Dortmund (Alemanha)

Celta Vigo (Espanha)

Celtic (Reino Unido)

10º Tottenham (Reino Unido)

11º Lyon (França)

12º Livorno (Itália)

13º Mönchengladbach (Alemanha)

14º Juventus (Itália)

15º Fiorentina (Itália)

16º Manchester United (Reino Unido)

17º Marselha (França)

18º Espanhol (Espanha)

19º Aberdeen (Reino Unido)

20º Duisburgo (Alemanha)

21º Roma (Itália)

22º Lazio (Itália)

23º Bolonha (Itália)

24º Valência (Espanha)

25º Bordéus (França)

26º Lens (França)

27º Real Sociedad (Espanha)

28º Brondby (Dinamarca)

29º Rangers (Reino Unido)

30º Angers (França)

31º TSV Munique (Alemanha)

32º Silkeborg (Dinamarca)

33º SPORTING CP (PORTUGAL)

34º Inter Milão (Itália)

35º Benfica (Portugal)

36º AC Milan (Itália)

37º Udinese (Itália)

38º Ruch Chorzów (Polónia)

39º Palermo (Itália)

40º Porto (Portugal)


Fonte: Jornal de Negócios

"Você não é da Gazeta? Então não entra!"

Actualmente na TVI, foi n'A Bola TV que José Manuel Freitas contou estas histórias ligadas a João Rocha, um dos melhores presidentes da história do Sporting.

Refiro-me mais especificamente ao episódio onde relata a forma como foi impedido de entrar em Alvalade por trabalhar num jornal que, na ideia de João Rocha, tinha faltado ao respeito ao Sporting Clube de Portugal.

Ora, como é possível verificar hoje, não há meio de comunicação social que respeite o Sporting e, por isso, acho que Bruno de Carvalho poderia fazer algo semelhante com os enviados especiais a Alvalade daqueles que mais nos desrespeitam.

Não digo que impedíssemos a sua entrada mas há muitas formas de mostrar desagrado: deixá-los esperar mais do que o tempo normal para entrar, dar-lhes um lugar menos confortável, instruir jogadores e treinador para não responderem a determinado jornal ou TV...

No fundo, algo que lhes mostre descontentamento para com o tratamento deplorável que nos dão diariamente.

Pode não resolver nada, mas incomoda.

Fica a dica ;)

Pippo Russo: Fifa-Doyen, è guerra

E nós, metidos nesta guerra como actores principais. Aproximam-se decisões importantes mas continuam a haver perguntas sem resposta.

Mais uma vez, Pippo Russo põe o dedo na ferida e, como especialista na matéria, não só argumenta (como sempre, bem) como sustenta toda a argumentação com factos relevantes.

Tudo parece claro e é feito às claras. Resta saber se vai ou não haver coerência e coragem.

Podem ler AQUI o artigo original. Aconselho a ler também algumas das referências constantes no artigo.

Assumo não ter capacidades que me permitam traduzir o artigo para a língua de Camões mas, para quem perceber inglês, aconselho a usar o google translator (a tradução fica perfeita). Podem usar a mesma ferramenta para traduzir para português mas não fica tão claro quanto seria desejável, embora dê para perceber.

Perguntas que, por cá, ninguém ousa fazer

O artigo da Cadena SER faz todo o sentido na óptica do jornalismo e do apurar da verdade. Afinal é isso que o jornalismo deve procurar: a verdade dos factos.

Enquanto por cá toda a gente (entenda-se: toda a comunicação social e comentadores) se entretém com o Sporting, com os seus patrocínios, com os ex-presidentes que são excluídos de sócio, com o tratamento desumano dado a um ex-treinador e a falta de ética na contratação de outro.

Assuntos, todos eles, tratados na base da especulação e afronta a um clube e a um presidente, em vez do simples apuramento da verdade.

A verdade, os factos, continuam a não ter qualquer interesse para a comunicação social portuguesa.

Assim sendo, Pedro Morata, o autor do artigo publica aquilo que ele acha que deviam ser as perguntas dos accionistas do Valência ao actual presidente do clube.

Seguem apenas as mais pertinentes e que têm a ver com o nosso mercado.

" Os direitos económicos de Cancelo, no momento da compra por parte do Valência, eram da Meriton Holdings ou do Benfica? "

" O Valência pagou 15 milhões de euros ao Benfica ou à Meriton pelos direitos federativos e económicos de Cancelo? "

" Quem assinou o documento do preço de mercado pago pelo Valência pela compra de Cancelo? "

" Na aquisição por parte do Valência dos direitos económicos e federativos de André Gomes à Meriton Holdings, ficou reservado à mesma uma percentagem ou mais valia total de uma venda futura do jogador, por um valor acima dos 15 milhões de euros? "

" O Valência pagou, ao Benfica ou à Meriton Holdings, algum valor pelos serviços prestados por André e Rodrigo, durante a temporada 2014/2015? "

" O nosso accionista maioritário, Meriton Holdings, e o seu accionista principal, Peter Lim, são sócios da Gestifute/Jorge Mendes no fundo de investimento Quality Sports? "

" Que jogadores do actual plantel e corpo técnico tiveram intermediação e assessoria de Jorge Mendes? "

" Que honorários, definidos no campo 'serviços externos' recebeu Jorge Mendes ou a sua sociedade, Gestifute? "

Enquanto isto, alguém d'ABola' telefonou ao empresário do Jackson Martínez.

O senhor, claramente transtornado, ameaçou 'pôr a boca no trombone' sobre quem são as pessoas que estão à frente dos destinos do Porto.

Claramente, o homem só está chateado porque ameaçam lixar-lhe a comissão. É óbvio que ele não vai dizer nada, precisamente por saber com que tipo de pessoas está a lidar mas, não deixa de ser uma declaração interessante.

Claro que por cá, as águas continuarão calmas e só o que tiver a ver com o Sporting será questionado.

Entretanto, cabe-nos a nós dar eco (mesmo que reduzido) àquilo que outros tratam de varrer para debaixo do tapete.

« Nun te preoccupá, mo je faccio er cucchiaio.»

Há um detalhe que caminha lado a lado, por vezes de mão dada, com a coragem: a loucura. É preciso ter uma vertigem muito grande pelo abismo para se ser um tipo corajoso.
 
Nesta altura lembro-me de uma história com a Itália no Euro 2000.
 
Nas meias-finais, o jogo com a Holanda terminou num nulo. A presença na final, por isso, havia de se decidir da marcação das grandes penalidades. Era um daqueles momentos intensos, cheios, grossos e pesados. Um momento que acelera o coração.
 
Os jogadores italianos estavam no centro do relvado, naquele ritual de quem se prepara para bater um penálti, quando Di Baggio teve um assomo de honestidade.
 
«Francesco, tenho medo», atirou em direção a Totti. «A quem o dizes, já viste o tamanho daquele ali?», devolveu-lhe Totti, enquanto apontava para Van der Saar. «Obrigado, acabaste de me deixar mais tranquilo», reagiu Di Biagio. Foi nessa altura que Totti se saiu com uma frase imortal.
 
« Nun te preoccupá, mo je faccio er cucchiaio.»
 
O cucchiaio não é mais do que, na linguagem do futebol português, uma panenka. No fundo Totti disse-lhe qualquer coisa como «não te preocupes, vou fazer-lhe a panenka.»
 
Ao lado deles estava Maldini, homem experiente, capitão da seleção, que não queria acreditar no que ouvira. «Estás louco? Isto é uma meia-final do Europeu», disse-lhe. Totti não sentiu o peso da acusação. «Sim, sim, vou fazer-lhe a panenka.»
 
E fez.
 
Caminhou em direção à baliza, agarrou a bola, encostou-a ao peito e colocou-a no chão. Depois fez uma panenka. Mas não foi uma qualquer: foi uma panenka linda, perfeitinha, admirável. Uma panenka com a velocidade, a intensidade e a ameaça certas.
 
Mo je faccio er cucchiaio colou-se a Totti como uma marca de água.
 
O italiano é uma figura pitoresca, homem de muitos pontapés na gramática e frases parvas como «vocês sabem que não falo inglês» quando alguém lhe atirou um «carpe diem».
 
É isso tudo sim senhor, mas também é esperto, e se calhar por isso é que lançou dois livros de anedotas: «Todas as piadas sobre Totti - contadas por mim», volume I e II.
 
Mais tarde lançou um terceiro livro, desta vez sério, uma biografia. E o que é que lhe chamou? Precisamente. Mo je faccio er cucchiaio.
 
É uma frase que define a coragem de um homem e que a mim me lembra Jorge Jesus.
 
Vamos lá ser sérios, só desta vez, prometo ser um caso sem exemplo: independentemente de ter sido ou não empurrado para fora do Benfica, independentemente de se ter sentido ou não pouco valorizado no Benfica, independentemente de o Sporting lhe ter oferecido ou não melhores condições. Independentemente de tudo isso, foi um passo de enorme risco.
 
No fundo não foi só trocar um rival por outro, dentro da mesma cidade e do mesmo tempo.
 
Foi acima de tudo aceitar começar do zero.
 
Tudo o que fez, tudo o que conquistou, tudo o que ganhou no Benfica já faz parte do passado. Está lá atrás, no reservatório da memória. Exige-se a Jorge Jesus que faça exatamente o mesmo outra vez. Como se o que conquistou não tivesse existido.
 
Vai estar à prova todos os dias, todos os jogos e em todas as provas.
 
Podia ser diferente, claro que sim. Bastava que tivesse ficado no Benfica ou que tivesse aceitado emigrar para Itália e treinar o Milan. Ou até que se dispusesse a parar um ano.
 
Mas não, Jorge Jesus tomou a decisão mais arriscada. Assinou pelo Sporting e colocou-se no olho do furacão: tudo o que fizer vai ser escrutinado e as exigências são enormes.
 
Para ele vai tudo começar do zero outra vez: não o consigo dizer de outra forma. Tem de ganhar, como se nunca tivesse ganhado nada. As expetativas são enormes.
 
Há mais do que os pontapés na língua a ligar Jorge Jesus e Totti, portanto. Há a coragem: é preciso bravura para tomar uma decisão destas. O que fizer vai definir a carreira dele.
 
As qualidades técnicas de Jorge Jesus são óbvias e já escrevi sobre elas aqui.

O que quero destacar agora é este temperamento, esta ousadia, esta tenacidade. Os sportinguistas podem ficar por isso tranquilos. Por muitas dúvidas que tenham, há uma coisa que não podem questionar: a valentia do treinador. É seguramente um homem corajoso, um destemido, um líder.
 
À sua maneira, acabou de fazer um cucchiaio num daqueles momentos intensos, cheios, grossos e pesados.
 
Uma vénia, portanto.
 
Box-to-box» é um espaço de opinião de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol

Mais um dia no pântano

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Como se fosse necessário! Toda a gente sabe quem tratará de 'gerir' a amostragem de cartões!

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Pode ser que jogue, sob pena de o Belém não ter onze jogadores para apresentar em campo.

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Estão a pagar o preço por não terem feito um acordo com as nádegas. A luta pela Europa não é para 'castores'. Os aliados das nádegas (Belém e Guimarães) tratarão de decidir entre eles quem ocupa a última vaga.

 

O nosso futebol é ridículo!
Valha-me o meu Sporting!

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