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Grande Artista e Goleador

O nosso caminho

«O caminho mais solitário que um homem pode percorrer é o da coerência: veremos chegarem e partirem parceiros de conveniência, aliados de ocasião, adversário oportunistas.

Todos eles autênticas tentações para que nos desviemos do caminho.
E o que nos mantem? Os princípios que nos norteiem.
E o que nos guia? A luz da razão.
Quando leio nas notícias que Aldo van der Laan, o Presidente do Twente, acaba de se demitir porque foi apanhado no meio de uma polémica com a Doyen, não posso deixar de sentir a tal luz reforçada e os princípios ainda mais robustecidos.
O que estava em causa era, uma vez mais e como repetidamente tenho chamado a atenção, a ingerência abusiva e contra as normas da FIFA, da Doyen Sports na gestão prática das transferências de jogadores.

Seria hipócrita se fingisse não notar que o Twente foi o “viveiro” de transferências como as de Jesus Corona ou Ola John mas que, particularmente no caso que provoca esta demissão, é a partilha de direitos económicos de sete jogadores contratualizada entre a Doyen e o Twente que está debaixo de fogo: e um desses jogadores é Bilal Ould Chikh que chegou ao Benfica esta temporada. Entende-se agora porque é que a Doyen chamou o FC Porto e o Benfica como suas testemunhas abonatórias no processo que a opõe ao Sporting Clube de Portugal e porque é que Pinto da Costa e Paulo Gonçalves se prestaram ao papel…
É como disse um caminho solitário mas o tempo vai revelando o quão acertado esse caminho é!»

Mensagem de Bruno de Carvalho no facebook

Pippo Russo e o caso Doyen, traduzido pelo Mestre de Cerimónias

Esperava há uns dias pela já habitual tradução ao artigo do Pippo Russo, publicado no Calciomercato.com. O Mestre de Cerimónias, no blog "O artista do dia", pôs mais uma vez mãos à obra e aqui está o resultado.

"Um documento fundamental. Trata-se do contrato assinado entre a Doyen Sports Investments e a antiga direção do Sporting Clube de Portugal no verão de 2012 para a transferência do defesa argentino MarcosRojo para Lisboa. Jogador que no verão de 2014 está no centro de um conflito entre o fundo maltês e o clube verde e branco, que entretanto tinha passado a ser conduzido pelo novo presidente Bruno de Carvalho. A controvérsia à margem da venda de Rojo ao Manchester United levou à quebra do contrato de TPO que tinha sido assinado entre a Doyen e a antiga direção sportinguista encabeçada pelo presidente Luís Godinho Lopes.

 
Segundo a versão de Bruno de Carvalho, a rotura do contrato é justificada pelas pressões feitas no verão de 2014 pela Doyen para convencer o Sporting a vender o jogador. A Doyen alega por sua vez nunca ter feito qualquer pressão sobre os clubes (Sporting incluído) para a cedência dos jogadores em que o fundo investiu, e que portanto os leões são culpados de uma rotura de contrato ilegal. Um contrato cujo conteúdo, até agora, não era do conhecimento público. Mas ontem, graças ao precioso trabalho desenvolvido por Tariq Panja daBloomberg (LER AQUI), ficámos a saber mais. E aquilo que ficámos a saber contradiz a defesa do fundo, que se baseia no argumento de não ter influenciado a política do clube. Mas antes de analisar o conteúdo do contrato revelado pela Bloomberg é conveniente fazer um resumo rápido da história.
 
No verão de 2012 o Sporting Clube de Portugal, presidido por Godinho Lopes, contratou dois jogadores graças ao financiamento da Doyen Sports Investment: falamos de Zakaria Labyad, um ala de dupla-nacionalidade holandesa e marroquina, proveniente do PSV Eindhoven, e ainda de Marcos Rojo, proveniente do Spartak de Moscovo. O site da Doyen dá a notícia na área Press Room, especificando que o fundo financiou 35% da aquisição de Labyad e 75% da aquisição de Rojo (LER AQUI). Em relação a este último, cujo custo foi de 4 milhões, a Doyen pagou 3. Trata-se portanto de um caso de Third Party Investment (TPI), um esquema em que um fundo financia uma percentagem da aquisição de um jogador e como tal tem o direito a receber uma soma calculada a partir dessa percentagem numa futura venda. Passaram-se duas épocas, durante as quais Labyad não esteve particularmente impressionante. A conversa foi diferente com Rojo, protagonista no Brasil de um ótimo mundial com a finalista Argentina. A sua cotação disparou, e partir daí o conflito explode. Rojo faz pressão para ser cedido, enquanto o Sporting (que entretanto passou a ser liderado por Bruno de Carvalho) prefere mantê-lo ou vendê-lo por uma cifra mais elevada. No espaço de alguns dias chega-se a um confronto entre o jogador e o clube, mas posteriormente o Sporting decide vender Rojo ao Manchester United por 20 milhões. Nessa mesma altura o clube decide não entregar à Doyen a quota de TPI, acusando o fundo de ter estado na origem da atitude de Rojo e, como tal, ter entrado em incumprimento contratual. E fá-lo publicamente através de um comunicado detalhado no qual emergem detalhes grotescos a propósito da conduta do fundo e do seu CEO, Nélio Lucas (LER AQUI). Dos 20 milhões amealhados na venda, o Sporting entrega apenas os 3 milhões do investimento inicial a título de restituição. Por outro lado, contratualmente, cabe-lhe entregar ao Spartak Moscovo 20% das mais-valias realizadas acima de 5 milhões: portanto, 3 milhões. Sobram 14 milhões, que o Sporting retém para si. Se tudo tivesse corrido conforme o contrato, a única coisa certa seriam os 3 milhões a pagar ao Spartak. Tudo o resto é um mistério que não podemos resolver sem ler o contrato, com muitas interrogações a surgirem. Os 3 mihões entregues ao Spartak deveriam estar a cargo do Sporting e Doyen segundo a percentagem (25% e 75%), ou apenas a cargo do Sporting? Os 75% reclamados pela Doyen seriam calculados sobre a totalidade da venda (20 milhões) ou sobre os 17 que sobraram depois da parcela a que o Spartak tinha direito? Interrogações que permanecem sem resposta, porque Bruno de Carvalho declarou a nulidade do contrato assinado com a Doyen durante a presidência de Godinho Lopes. Para além disso, há que acrescentar que existem outras versões sobre a estrutura do valor de aquisição de Rojo comparticipado por Doyen e Sporting Clube de Portugal, o que faz-nos perceber o nível de incertezas que existem neste negócio. Um comentário de um internauta português no artigo da Calciomercato.com que citámos mais abaixo, reporta outros valores, e revela uma hipótese chocante: segundo notícias reportadas por alguma imprensa portuguesa no dia em que explodiu o conflito entre o clube e o fundo, o Sporting estava obrigado contratualmente a pagar uma prestação de 1 milhão por época por Rojo, como se o jogador estivesse alugado.
 
Por seu lado, a Doyen referiu não ter feito pressões sobre o Sporting para a venda de Rojo e recorreu ao TAS em Lausanne, pedindo um ressarcimento calculado com base em 25 milhões de euros. Segundo o fundo, na realidade, há que considerar ainda o valor de Nani, jogador que o Manchester United cedeu por empréstimo ao Sporting no âmbito do negócio de Rojo. As audiências do TAS, que contaram com um desfile de testemunhos "ilustres" a favor do fundo (LER AQUI), iniciaram-se em meados de junho e a sentença deverá ser conhecida em setembro. Mas agora, aqui ficam os detalhes revelados pela Bloomberg, graças aos quais podemos ter uma ideia mais precisa.
 
A Bloomberg refere que, no contrato, Sporting e Doyen estabeleceram em 8 milhões a cifra mínima para a venda de Rojo, que seria o dobro do valor pago ao Spartak no momento da aquisição. E neste ponto, refere a Bloomberg, aparece uma cláusula que vai ao encontro das alegações do clube. A cláusula diz, de facto, que na eventualidade de chegar ao clube uma oferta igual a esse valor ou superior, e se o clube recusasse, teria que pagar à Doyen 75% do valor recusado. Para ajudar a perceber, façamos um exemplo. Suponhamos que Rojo interessa ao Bayern, e que o clube bávaro apresenta ao Sporting uma proposta de 10 milhões. E vamos assumir que o Sporting rejeita essa oferta pelo seguinte motivo: porque nesse momento não pretende privar-se do jogador, ou porque crê que o pode vender por um valor mais alto nessa janela de mercado ou numa janela de mercado posterior. E bem, se a Doyen não concordasse com a decisão do Sporting de não aceitar os 10 milhões, poderia pedir ao clube para ser compensada em 7,5 milhões. Não me parece uma liberdade total, do ponto de vista do clube. Assim como não é a outra cláusula do contrato que estabelecia que, se o clube renovasse com o jogador sem o consentimento da Doyen, o clube deveria ressarcir o fundo no prazo de 3 dias uma cifra designada como "juro". Cláusula que, como especifica o artigo da Bloomberg, estão fora do perímetro das regras da FIFA, que proíbem "qualquer entidade externa de influenciar (um clube), em matérias relacionadas com o recrutamento e com o mercado de transferências, a independência, as políticas e a composição do plantel. Para além disso, no artigo vem citado o peremptório SMS enviado por Nélio Lucas a Bruno de Carvalho, já mencionado no comunicado oficial do Sporting de há um ano. Um comportamento para o qual não há comentários possíveis.
 
Seguramente que o contrato conterá numerosos outros detalhes dignos de nota. Mas aqueles que são citados pela Bloomberg são mais que suficientes para definir a forma como esta questão deverá terminar. É difícil sustentar que certas cláusulas contratuais não são instrumentos de pressão sobre um clube."

 
O artigo original pode ser consultado AQUI.

Pippo Russo: Fifa-Doyen, è guerra

E nós, metidos nesta guerra como actores principais. Aproximam-se decisões importantes mas continuam a haver perguntas sem resposta.

Mais uma vez, Pippo Russo põe o dedo na ferida e, como especialista na matéria, não só argumenta (como sempre, bem) como sustenta toda a argumentação com factos relevantes.

Tudo parece claro e é feito às claras. Resta saber se vai ou não haver coerência e coragem.

Podem ler AQUI o artigo original. Aconselho a ler também algumas das referências constantes no artigo.

Assumo não ter capacidades que me permitam traduzir o artigo para a língua de Camões mas, para quem perceber inglês, aconselho a usar o google translator (a tradução fica perfeita). Podem usar a mesma ferramenta para traduzir para português mas não fica tão claro quanto seria desejável, embora dê para perceber.

Expliquem-me como se eu fosse muito burro

Vejo tudo o que é transferência noutros clubes portugueses noticiado com a maior das naturalidades e sem questionar absolutamente nada em negócios com o 'apoio' de fundos de investimento...

Alguém me consegue explicar quais os efeitos práticos da medida que acabava com a partilha de passes por parte de fundos de investimento?!

Pois, nem precisam de responder. A medida é inócua.

Os fundos são agora apenas investidores que emprestam dinheiro aos clubes em condições nada claras.

Se isso desportivamente me preocupa? Nada!

No entanto, parece que o 'alívio' do fair-play financeiro permite que a bandalheira continue.

E ninguém questiona nada! Ninguém pergunta nada! Ninguém quer saber!

Honestamente, não me preocupa a fuga para o abismo de determinados clubes, mas incomoda-me que se fale em tentativas de regulação da actividade dos fundos quando vemos que continua tudo igual ou pior do que antes.

(perdoem-se se o pensamento parecer confuso e pouco estruturado, mas saiu-me de 'rajada')

Pippo Russo, sem papas na língua

Sporting vs. TPO: não te pago!
 
 
Somos todos sportinguistas. Devíamos ser. Não só pela simpatia que o Sporting levanta, devido ao facto de ser uma das maiores fábricas de talento do futebol europeu. Devemos estar ao lado dos Leões porque desde agosto do ano passado são a vanguarda da batalha contra os fundos de investimento. O primeiro e, até agora, único clube que teve a força de dizer basta à invasão do turbocapitalismo financeiro no futebol.

 

É uma batalha promovida pelo jovem presidente Bruno de Carvalho, eleito no verão de 2013. Uma personagem de sangue na guelra, populista, e que frequentemente pisa os limites no campo da comunicação pública. Tanto é assim que alguns dos seus disparos em redes sociais causaram grandes divergências com a equipa e com o treinador Marco Silva, cuja demissão chegou a parecer certa num determinado momento da época. Mas existe um ponto em que Bruno de Carvalho está a conduzir uma guerra santa com o apoio unânime da comunidade sportinguista: a guerra contra os fundos e investidores privados.

 

Ao assumir o cargo, o presidente foi forçado a enfrentar uma situação económica e financeira pesada, herdada do antecessor Luis Godinho Lopes. Essa situação resultou numa recente multa imposta pela UEFA pelo não cumprimento das regras de Fair Play Financeiro: reduzir para 22 o número de jogadores inscritos nas competições da UEFA, e uma multa de 2 milhões de euros, suspensa condicionalmente por um ano.

 

Uma punição bastante branda, que pode ser lida como uma decisão política da UEFA em premiar o percurso desta direção que, desde que entrou em funções, tem trabalhado para recuperar o clube, mas que sobretudo teve a força de colidir frontalmente com um dos atores mais poderosos e arrogantes da economia paralela do futebol mundial: a Doyen Sports Investments. As suas relações com o clube verde e branco são outra péssima herança da gestão de Godinho Lopes.

 

A história começou em agosto passado, e explodiu durante o processo de transferência de Marcos Rojo, defesa da seleção argentina, que depois de ter terminado o mundial como vice-campeão puxou a corda para ser transferido. Pode ler aqui uma reconstrução detalhada das razões que levaram à explosão do conflito entre o Sporting e a Doyen. Recapitulando brevemente, o que aconteceu foi que o clube verde e branco concluiu que a atitude do jogador foi motivada por pressões do fundo, proprietário de 75% dos seus direitos económicos. Em seguida, Bruno de Carvalho escolheu ir para o confronto. E depois de vender Rojo ao Manchester United por 20 milhões decidiu não entregar 75% desse montante ao fundo. Verificou-se apenas a devolução dos 3 milhões do investimento inicial. Isto resultou num processo no TAS em Lausanne, que em junho irá decidir da legitimidade das exigências de Doyen, que reivindica ter direito aos seus 75%  - não sobre os 20 milhões, mas sim sobre 25. O fundo deve somar o valor do empréstimo de Nani do Manchester United ao Sporting, incluída como parte do negócio.  E no contexto das manobras preparatórias de julgamento no TAS, é conhecida a notícia de que a Doyen terá do seu lado Benfica e Porto. Estes clubes, fortemente ligados ao fundo de Malta, vão testemunhar sobre a honorabilidade de Doyen. Como se sabe, as pessoas de honra conseguem sempre entender-se.

 

Enquanto espera para saber como vai terminar o caso no TAS, o Sporting vai abrir uma nova frente de batalha com o mundo dos TPO. Desta vez, o jogador sobre o qual se prepara para explodir um novo conflito é o peruano André Carrillo, cujos direitos económicos estão nas mãos de um dos empresários mais poderosos do futebol mundial: o israelita Pini Zahavi. Carrillo tem uma cláusula de 30 milhões de euros, mas Bruno de Carvalho já deixou claro que o vende por 15 milhões. Para Zahavi seria um gigantesco negócio, porque tem em em sua posse 50% a partir de um investimento de 800 mil Euros. Então, se o negócio fosse concluído por um montante de 15 milhões, ele colocaria ao bolso 7,5. Ou seja, o valor do investimento seria aumentado quase dez vezes. E com que mérito? Por ter feito alguma coisa? Mais uma vez, trata-se de uma valorização económica e financeira que foi produzida pelo futebol. Designadamente, foi o Sporting que transformou um jogador de futebol de 1,6 milhões num valor de mercado de pelo menos 15 milhões de euros. E fê-lo confiando no jogador, educando-o, apostando nele ao invés de outros, e finalmente tornando-o conhecido no mundo graças à sua participação em competições nacionais e europeias. E depois de tudo isso, vemos chegar um Pini Zahavi para amealhar metade do saque, apenas por ter investido há uns anos atrás. Levando para fora do futebol um valor produzido exclusivamente pelo futebol. Parece ser uma coisa saudável? Para mim e para o Calciomercato.com, não. E, felizmente, também não é para este novo Sporting, que mandou dizer a Pini Zahavi que nada lhe será devido em caso de transferência de Carrillo para além da devolução dos 800 mil Euros do investimento inicial  

 

Zahavi já anunciou que vai levar o Sporting a tribunal. E nós estaremos prontos para torcer pelos verdes e brancos, e para testemunhar sempre que pudermos que a única honra que existe neste processo é aquela que procura esvaziar a água do tanque onde nadam os tubarões do turbocapitalismo do futebol. Força Leões!
 
Obrigado ao Mestre de Cerimónias que tradiziu e bem n'O Artista do Dia

Uma nova realidade, já em 2015

Promessa cumprida e com data marcada. O Comité Executivo da FIFA anunciou nesta sexta-feira que deixará de haver liberdade para acordos com fundos de investimento a partir de 1 de maio de 2015.

Ou seja, os clubes não poderão recorrer a esse expediente no próximo verão, quando surge a maior janela do mercado de transferências.

A entidade esclarece que  «os acordos já existentes devem ser mantidos até à sua expiração contratual» e que «os novos acordos assinados entre 1 de janeiro e 30 de abril de 2015» não podem ter uma duração superior a um ano.

Claro que vão desde já ser desencadeados pelos clubes dependentes dos fundos de investimento manobras para contornar este impedimento. No entanto, neste momento, parece-me óbvio que a vida de muitos clubes ficará mais complicada com a obrigatoriedade de "mudar de vida".

Uma pequena vitória de Bruno de Carvalho junto das instâncias internacionais que terá, com certeza, repercussão no nosso futebol.

A ver vamos...

Os fundos e a competitividade

(Não sei se o texto vos pode parecer confuso, mas penso que consegui transmitir a minha ideia - que será partilhada por muitos outros. É um assunto que me irrita e é difícil manter uma linha de raciocínio, pois os argumentos são tantos que se torna difícil organizá-los de uma forma que não pareca confusa

Muito se tem falado dos aspectos positivos e negativos dos fundos e tenho ouvido aqui e ali que a saída de cena dos mesmos afectará irreversivelmente a competitividade do campeonato nacional. O Sporting, na pessoa do seu presidente Bruno de Carvalho, já manifestou a vontade de regular a sua actuação (limitando-a em vez de a anular por completo) entregando incusive um documento com propostas, quer a nível nacional como internacional.

A curto prazo, concordo com Bruno de Carvalho. Deve ser um processo gradual que, na minha opinião, deveria culminar a médio prazo com a proibição da partilha de passes com fundos de investimento e empresários a nível internacional.

Neste momento, apenas Bruno de Carvalho está preocupado em eliminar ao máximo do plantel profissional do Sporting o número de jogadores com passes partilhados. Ainda são alguns, mas serão cada vez menos. E porque é que está a tomar esta atitude? Simples. Porque acredita que a luta solitária que tem vindo a travar pode dar frutos e, se a regulação ou extinção dos fundos chegar, só o Sporting estará preparado para isso.

Quanto à questão da competitividade do nosso campeonato sem a actuação dos fundos, parece-me uma falsa questão. O campeonato continuaria a ser competitivo e as equipas de maior poderio financeiro (actualmente Porto e Benfica) apenas perderiam temporariamente a sua competitividade nas provas europeias. Algo que seria resolvido em 4 ou 5 anos, depois de um periodo normal de adaptação a uma nova realidade.

O futebol português só teria a ganhar com esta tomada de posição e isto só não acontece porque os 'boys' com estatuto neste país também 'mamam' à conta de fundos e empresários em troca dos seus favores.

Voltando à competitividade, os clubes portugueses têm de concentrar-se em aumentar as receitas (para isso é preciso trabalhar o marketing - algo que praticamente não se faz neste país - e investir em academias de treino em vez de o fazer em jogadores de valor duvidoso), diminuir despesas (para isso basta que os jogadores 'dos fundos' saiam das folhas salariais dos clubes) e apostar definitiva e fortemente na formação de jogadores (algo que alguns clubes fazem, mas os fundos "têm" de colocar os seus jogadores e retiram espaço aos formados localmente).
Sporting, Porto e Benfica continuariam a ser os mais fortes, pois têm o estatuto e bases de recrutamento que nenhum outro clube tem em Portugal, para além de capacidade financeira de se reforçar com jogadores de outros países (embora de mercados de 2º e 3º plano). Porém, nem todos os jogadores podem jogar nos três grandes e é aí que surge a grande oportunidade dos clubes de menor dimensão. Os clubes que melhor trabalharem a formação terão mais oportunidades de ser bem sucedidos desportivamente. 
Isto aumentaria o espectro de jogadores de qualidade com possibilidades de representar as selecções nacionais e faria com que tivéssemos um campeonato competitivo, baseado em talento nacional. Isto parece difícil, mas não me parece que seja. É mais uma resistência à mudança que nos está a atrasar em relação a outros países (já ouviram falar da Alemanha?!).

Se os clubes portugueses vencem torneios internacionais de clubes (em camadas jovens) e as selecções de base chegam a finais de provas europeias e mundiais, algo me diz que há qualidade no jogador português (basta ver que o melhor do mundo é 'made in Portugal'). Juntando a isto os melhores treinadores do mundo (alguns deles Portugueses), quem sabe se, no futuro, não podemos ter um dos melhores campeonatos da Europa e quem sabe não ganhamos uma prova internacional de selecções.

Assim os 'boys' o queiram!

Ainda os fundos

Numa altura em que me parece que alguns adeptos do Sporting, mas sobretudo de outros clubes ainda não perceberam bem para que servem e de que se servem os fundos, transcrevo um trabalho do Jornal Sporting sobre os mesmos. Talvez agora, que está explicado para que até as crianças entendam, percebam porque é que os passivos dos clubes aumentaram tanto nos últimos anos.

 

"Imagine que quer comprar uma casa mas não tem o dinheiro ou o interesse suficiente para fazer esse investimento. Encontra um conhecido que reconhece potencial na habitação, decidem avançar em conjunto e pagam 200 mil euros, 100 mil cada. Passados três anos, há uma oferta de 300 mil euros pelo imóvel e decide-se pela venda. Aqui entronca o primeiro lapso de raciocínio: à partida, seria algo bom porque recuperava o investimento e tinha um acréscimo de 50% sobre o gasto inicial; no entanto, e se tiver ficado encarregue pelas obras e pela manutenção, beneficiou da casa mas gastou mais do que veio depois a receber ao contrário do conhecido, esse sim um 'player' que apostou e saiu a ganhar. Agora, troque o ramo imobiliário pela indústria do futebol: bem-vindo ao reino dos fundos.

A recente troca de comunicados entre Sporting e Doyen recolocou na agenda uma questão pertinente do futebol actual e que já tinha sido abordada pelos responsáveis 'leoninos' no dossier de reformas entregues a variadas entidades do País e da Europa. Em resumo, e no que toca aos empresários, o Clube defende que se deve evitar situações em que os agentes fiquem com direito a percentagens de futuras transferências de jogadores - sobretudo para evitar eventuais focos de instabilidade - e, para tal, avança como solução possível a criação de um regime jurídico que delimite, de forma explícita, as diferenças entre a intervenção do agente como representante do atleta e como intermediário. Em relação aos fundos, a ideia passa por uma verdadeira regulamentação da actividade, proibindo qualquer interferência de terceiros nos clubes quer na direcção de transferência de jogadores, quer na relação laboral existente, evitando para isso que tenham participações nos direitos económicos. 

O Sporting está contra os fundos? Não, nada. Apenas pretende uma regulamentação que evite, por exemplo, casos de clara ingerência como aconteceu recentemente com o jogador Marcos Rojo, que se transferiu para o Manchester United. Até por uma razão lógica: todos sabem que o futebol português iria perder competitividade porque não estaria a lutar com as mesmas armas. Mas tudo se resume a uma qustão de percepção - em vez de meros detentores de parte dos direitos económicos de futuras transferências, deverá haver uma percepção de 'entidades financiadoras' onde a partilha reside apenas nas mais-valias. No fundo (que é uma palavra com tanto potencial para trocadilhos na escrita como aqueles que se tentam fazer nos bastidores por intervenientes que preferem não dar a cara), as megalomanias económico-financeiras que colocaram as contas das SAD no vermelho desequilibram as forças de uma relação que passou a ser benéfica apenas para um e colocaram os clubes, verdadeiros integrantes do universo futebolístico na condição de reféns. Como o tempo não volta atrás, os responsáveis 'verde e brancos' pretendem corrigir essa desproporção, alertando para as influências externas inimagináveis que hoje existem (ou se tenta que existam) na gestão desportiva das equipas.

Voltemos a um exemplo prático: um jogador chega a um clube por um milhão de euros, assina por cinco épocas com um ordenado de 500 mil euros brutos/ano e um fundo avança com metade desse valor da transacção. Passadas duas temporadas, e como se tronou peça fundamental na equipa, recebe uma proposta de dois milhões - é aqui que se gera o dilema que não o devia ser. Como o fundo tem metade dos direitos económicos e pode receber o dobro do que tinha investido, tenta forçar a venda do atleta recorrendo, por vezes - ou como se viu em casos recentes - , a chantagens e ameaças; no entanto, tendo em conta que o clube já gastou o dobro do investido em salários, seguros e prémios, entende não alienar por considerar que pode rentabilizar muito mais um jogador em termos desportivos e até financeiros (com um título de Campeão, uma ida à Champions, a participação numa grande prova de selecções, etc.). Por isso, das duas uma: ou ambas as partes passam a dividir realmente todos os custos e receitas com o activo, tornando esse acordo 'justo', ou, como diz o Sporting, apenas deverão ser consideradas percentagens nos direitos económicos a nível de mais-valias. Assim se defende os clubes, a questão do fair-play financeiro e, sobretudo, a verdade desportiva."
Jornal Sporting 28/08/2014

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