Antes de dizer o que achei do jogo, devo ressalvar que fiquei muito desiludido com o resultado, porém, a exibição foi positiva e a melhor após aquela primeira parte em Moscovo, frente ao CSKA.
Claro que para fazer esta nota introdutória eu tive de rever o jogo, exercício que fazia muito bem à maioria dos adeptos. Permite-nos ver o jogo e analisá-lo convenientemente, pois afastamos à partida qualquer emoção que nos tire discernimento na análise.
Não fossem as duas oportunidades claras falhadas por Teo Gutierrez na primeira parte e esta tinha sido perfeita.
Excelente domínio do jogo e da posse de bola, que nos permitiu controlar totalmente o adversário. Boa saída em futebol apoiado, com envolvimento de todos os jogadores. Óptima reacção à perda de bola, bem como a pressão ao adversário, muitas vezes bem dentro do seu meio campo.
O lance do golo é um exemplo de bom futebol, jogado de forma inteligente e objectiva. Começa em William, que arrisca driblar um adversário, mesmo sendo o último da linha defensiva. A bola é colocada em Jonatham que, rapidamente, se movimenta para a zona central, onde tabela com Mané, que dá em Aquilani antes de Jonathan voltar a receber a bola e entrega novamente em Mané (que acompanhou a jogada do início ao fim). Este endossa a bola a Matheus Pereira, que cruza e um desvio coloca a bola à mercê do pé esquerdo de Bryan Ruiz. Simples, rápido, objectivo e bonito, assim foi o golo.
William Carvalho traz à equipa aquilo que nenhum outro consegue dar. Segurança na saída da primeira fase de construção (só por duas vezes falhou passes em zona proibida), verticalidade e alguma audácia. Porque William não se esconde, porque arrisca. Porque não se limita a jogar seguro e quase sempre passa para um colega mais adiantado no terreno. William é sinal de confiança, classe e qualidade e, não sendo insubstituível, é incomparavelmente superior a qualquer dos colegas de sector.
Entrámos bem no reinício do jogo mas rapidamente os turcos repartiram o domínio, algo normal, se tivermos em conta que até ali a equipa da casa não havia ligado uma jogada com princípio meio e fim.
Ainda assim, foi Teo que voltou a ter mais uma oportunidade clara de golo, novamente desperdiçada frente a frente com o guarda-redes turco.
Jorge Jesus tira Matheus e reforça o meio-campo com Adrien. Parecia uma daquelas substituições que vem feita de casa e que em nada tem em conta o desenrolar dos acontecimentos do jogo. Não que a entrada de Adrien não fizesse sentido mas mais porque deviam ter sido Ruiz ou Aquilani a sair, fruto do já habitual desgaste acelerado que sofrem em todos os jogos.
Acaba por ser um erro de Adrien que deixa toda a equipa desequilibrada e dá origem ao ataque rápido, concluído com o golo do empate. Partindo do princípio que a equipa do Sporting estava em pressão, Adrien devia ter-se resguardado mais, fazendo cobertura ao lado esquerdo. Acabou por ser William a apanhar com três adversários pela frente, ficando sem saber o que fazer ou qual deles atacar, e esquecendo-se de acompanhar Sosa, que apareceu nas suas costas. Pode questionar-se o posicionamento demasiado interior de João Pereira mas, a verdade, é que está bem colocado e é o desespero de tentar travar Sosa que deixa Töre na cara de Patrício. A linha defensiva também parece demasiado profunda na origem do lance.
A verdade é que o Beşiktaş marca no primeiro lance claro de golo de que beneficia.
Neste momento, Aquilani já tinha delimitado o seu raio de acção pela linha do circulo central. Ruiz estava cansado e tinha desaparecido do jogo e Teo tinha de ser substituído, mais não fosse por ser tão perdulário. No entanto, restavam duas substituições e o estilo de jogo apoiado que praticávamos começava a necessitar de jogadores mais frescos.
Tempo de Jonathan 'sacar' o primeiro de dois cruzamentos letais, este não aproveitado por Teo, que estava a 'dormir'. Estávamos no minuto 67 e já era tempo de voltar a mexer mas foi o treinador turco a lançar mais um avançado.
Jesus responde de imediato e troca Teo por Slimani. Era de esperar que a equipa passasse a utilizar um estilo de jogo mais directo.
Jonathan volta a subir no terreno e a ganhar um canto. Ruiz mete redondinha na cabeça de Slimani que, completamente sozinho à frente da marca de penalti falha a bola. Um lance típico que atesta que, mesmo sendo um dos seus pontos fortes, o jogo de cabeça de Slimani está longe de ser bom. Algumas pessoas vão voltar a dizer que estarei a ser injusto com o argelino (por quem não morro de amores) mas o lance não teve repetições e passou despercebido. Vejam novamente e digam se não tenho razão.
João Pereira leva um amarelo por fazer aquilo que todos no Sporting devem aprender a fazer: matar um contra-ataque à nascença.
Neste momento já não havia tanta capacidade para manter a posse de bola e éramos mais rápidos a desfazer-nos dela. Aquilani já nem acertava um passe.
Ruiz volta a aparecer num lance pela direita, onde devia ter sido mais esclarecido e os turcos respondem com um ataque rápido. Era o segundo calafrio, embora sem acertar na baliza de Patrício, que continuava a ser um mero espectador.
Jesus mete Gelson, depois de ter perdido a paciência com Aquilani e volta a recolocar Ruiz na zona central do terreno (pena que o costa-riquenho já estivesse 'morto'). Faltavam 12 minutos para os 90 e o único remate da segunda parte havia sido o de Teo, ainda nos primeiros cinco minutos.
A cinco minutos do fim, Patrício fez a primeira defesa digna desse nome. As pernas já pesavam e o bom posicionamento do primeiro tempo já era. Estávamos apenas a reagir, em alguns casos tarde. Felizmente, os argumentos do adversário nunca foram fortes.
O único duelo aéreo ganho por Slimani está na origem da jogada que vai culminar com mais um excelente cruzamento de Jonathan que só parece uma perdida escandalosa porque, embora pouco convicto, Gelson se faz ao lance, algo que Teo não fez no outro cruzamento do argentino.
Só detalhei mais a segunda parte para aqueles que não pretendem rever o jogo e porque não foi tão bem conseguida quanto a primeira.
Ainda assim, há que dar algum mérito ao adversário pois soube assumir o domínio do jogo em largas partes, ainda que sem grande qualidade e preponderância na nossa zona mais recuada.
Alguns destaques:
TOBIAS esteve mais sereno e tranquilo do que no jogo com o Lokomotiv e isso é um bom indicador, visto que jogará certamente no domingo.
JONATHAN fez um excelente jogo e mostrou a Jesus que pode confiar nele. Foi atento e agressivo a defender e soube apoiar o ataque. Foram muitas as vezes que subiu no terreno, quase sempre bem. Por mim, pegava de estaca.
Boa estreia de MATHEUS. Nunca se escondeu, movimentou-se bem e soube ocupar tanto o flanco como as zonas interiores. Está no lance do golo e foi, quanto a mim, prematuramente substituído.
Nenhum dos que entraram acrescentou algo ao jogo. ADRIEN, SLIMANI E GELSON não beneficiaram de um bom momento da equipa no jogo mas também não souberam ser eles a acrescentar aquilo que era necessário.
Não gostei das desculpas esfarrapadas de JORGE JESUS no final do jogo. Não foi nem a inexperiência e muito menos a juventude que fez com que tenhamos deixado dois pontos na Turquia. Esperava uma análise mais justa e cuidada e, para isso, bastava dizer que fomos ineficazes e Teo Gutiérrez ficou a dever-nos uma goleada.
Volto a dizer, no global, e tendo em conta as muitas alterações, foi um bom jogo, embora com um mau resultado que em nada hipoteca as nossas esperanças na qualificação (embora isso não pareça entusiasmar JJ). Espero que, no domingo, melhoremos a eficácia.