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Grande Artista e Goleador

Marco Almeida: "(a faixa de campeão) É a coisa mais linda que existe depois dos meus filhos"

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Formado no pelado junto ao antigo Estádio José Alvalade, Marco Almeida tem algumas memórias bonitas desse tempo, apesar de o clube ter vivido dias conturbados, nada fáceis para um jovem central se impor: "O Sporting não ganhava nada há 18 anos, era muito difícil apostar num jovem jogador e já tinha aparecido o Beto... dois centrais jovens era difícil, mesmo assim ainda jogámos juntos alguns jogos e penso que ainda somos a dupla de centrais mais jovem de sempre. Batemos o recorde do Venâncio e do Morato, salvo erro, num jogo com o Feirense (3-2)."

Mesmo com todas as contingências, incluindo a forte concorrência (Beto, André Cruz, Phil Babb, Quiroga, Saber, Marco Aurélio), o central deixou marca em Alvalade. Estreou-se num jogo com a Académica e marcou o golo que deu a vitória à equipa. "O Marco Aurélio e o Beto não podiam jogar e eu e o Nené éramos os outros centrais, mas o Vidigal andava a treinar para baixar no terreno. Fomos para estágio, o Cantatore chamou-me e disse que eu ia ser titular. No final ganhámos 1-0, com um golo meu", lembrou, sem esquecer Octávio Machado e Inácio, com quem foi campeão nacional.

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No caso de Marco, foi um "não" ao Benfica que o ajudou a ser campeão: "Estava emprestado ao Southampton... fui contrariado, mas correu bem e passado um /dois meses apresentaram-me um contrato de cinco anos. No Natal, estava em casa e recebi uma mensagem do meu empresário a dizer que havia a hipótese de ir para o Benfica, tinha saído a Lei Bosman e eu ia ficar livre. Mas eu disse que não. O empresário bem tentou, até porque o Benfica ia pagar mais, mas há coisa que o dinheiro não compra, o meu avô iria dar voltas no túmulo. Entretanto passada meia hora ligou um dirigente do Sporting, o Luís Duque, a mandar-me apanhar um avião, no dia a seguir, e regressar ao Sporting. E foi assim que me fiz campeão."

E lembra-se dos festejos? "Recordo-me como se fosse hoje. Nunca vivi nada comparado com aquilo. Aquela equipa tinha um espírito de grupo brutal. A viagem do Porto a Lisboa foi uma loucura, não há palavras que possam descrever o que vi em Alvalade, o estádio e as ruas cheias. Só mesmo tendo passado e sentido aquilo", confessou, ele que guarda a faixa de campeão religiosamente: "É a coisa mais linda que existe depois dos meus filhos."

 

Artigo da rubrica "O que é feito de si?", da jornalista Isaura Almeida, no DN (link)
Imagens retiradas do facebook de Marco Almeida.

 

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Zoran Lemajic: "Falta pouco para ganhar o campeonato. Espero que seja já este ano."

"Gostava do Sporting. Repare eu jogava no Sporting Farense. Era uma filial. Desde que cheguei a Portugal que gostei logo do Sporting. Estas coisas não se explicam. Aliás, eu já antes de vir conhecia bem o Sporting. Vi muitos jogos do falecido Damas. Ficou-me na memória, o tempo passou e fiquei sportinguista. Eh eh eh."

 

Zoran Lemajic foi um dos melhores guarda-redes que passaram por Portugal na primeira metade da década de 90. Revelou-se no Farense, onde se chegou como praticamente um desconhecido e saiu com o prémio de melhor da Liga em 1992/93. Passou pelo Boavista, chegou ao Sporting, acabou no Marítimo.

Jogou três finais da Taça, por três clubes diferentes. Conquistou uma. «Na altura era o estrangeiro que tinha jogado mais finais da Taça», conta. Ganhou uma Supertaça ao FC Porto, pelo Boavista. Construiu uma carreira digna em Portugal e ainda hoje é recordado, sobretudo por adeptos do Farense, mas também Boavista e Sporting, onde não descurou.

Em conversa com o Maisfutebol, o atual treinador de guarda-redes do Al-Ahli, do Qatar, recordou os duelos com o Benfica, que quase nunca lhe correram bem: defendeu as redes do Boavista na final da Taça perdida por 5-2 e era ele o guardião leonino no famoso 3-6 de Alvalade. Um dia em que diz ter «voltado a casa tranquilo». «Não tive problemas com os adeptos. É sinal que fiz o que pude», conta.

Ainda a saída de Alvalade com a direção de Santana Lopes que «percebia pouco de futebol» e a experiência no Marítimo onde tinha dado jeito...ser solteiro.

 

Os números de Lemajic em Portugal

1989/90- Farense (II Liga), sem dados

1990/91- Farense, 38 jogos

1991/92- Farense, 31 jogos

1992/93- Boavista, 23 jogos

1993/94- Sporting, 25 jogos

1994/95- Sporting, 9 jogos

1995/96- Marítimo, 27 jogos

Boa tarde Lemajic. Foram sete anos em Portugal e muitos jogos somados em vários clubes, mas já há muito que não ouvimos falar de si. O que faz por estes dias?

Sou treinador no Qatar. Já é o terceiro ano. Estão aqui alguns portugueses, como o Jesualdo Ferreira. Atualmente sou treinador de guarda-redes do Al Ahli. Finalizei a minha carreira na Escócia e fiquei sempre ligado ao futebol. Primeiro na seleção. Quando comecei ainda era Jugoslávia, depois estive na equipa técnica da Sérvia e Montenegro no Mundial da Alemanha.

Como foi essa experiência no Mundial?

Foi ótima. No apuramento tivemos um grupo muito difícil, que tinha a Espanha, e ficamos em primeiro no grupo. Depois a presença na Alemanha já não foi como esperávamos. Entramos com muitos problemas, coisas fora do futebol. Falava-se mais da separação da Sérvia e Montenegro do que de futebol.

Muita política pelo meio.

Sim, muita. Fica a memória da qualificação, foi a fase mais bonita. E estar no Mundial foi o ponto mais alto da minha carreira de treinador. Um sonho.

Lembra-se como veio parar ao Farense?

Claro. Recebi um convite de um grande empresário que tinha estado ligado ao New York Cosmos. Tinha colocado grandes jogadores da América. Houve então a hipótese de ir a Portugal e fui treinar ao Farense, que estava na II Liga. O Paco Fortes era o treinador. Gostou do que fiz e disse-me que já não ia embora.

Conhecia o Farense?

Praticamente nada. Lia sempre algumas notícias internacionais sobre o futebol português, mas do clube não conhecia nada. Foi uma surpresa ótima, por tudo. O Algarve é uma região fantástica, o Farense tinha uma massa associativa muito boa. Mesmo na II Divisão já havia um projeto forte para subir. Subimos e depois fomos à final da Taça pela primeira vez.

Contra o Estrela da Amadora.

Isso mesmo. Jogamos uma finalíssima na altura, lembra-se? Foi uma experiência muito boa. Tenho o Farense no meu coração.

Como foi trabalhar com Paco Fortes?

Ele era muito duro e muito profissional. Mas também respeitava muito os jogadores e toda a gente. Tornou-se uma figura do clube e do Algarve. Era muito boa pessoa. Era um catalão exemplar. Duro, honesto, direito. Puxava muito pelos jogadores. E depois, claro, é um treinador que tinha jogado com o Cruijff no Barcelona. Depois disso, não era preciso muito mais para ser um grande treinador.

Tinha a escola toda, como se costuma dizer.

Isso. Eh eh eh. É verdade.

Falou da final da Taça que jogou pelo Farense, depois quando mudou de clube voltou ao Jamor pelo Boavista, não foi?

Sim. Agora não sei, mas naquela altura era o estrangeiro que mais jogou finais da Taça. Ainda joguei pelo Sporting também, a única que ganhei. E também ganhei uma Supertaça pelo Boavista. Faltou-me o campeonato.

Mas a Taça era uma competição especial para si?

Não era bem isso. Era sorte, se calhar. As equipas onde jogava queriam sempre ganhar, em qualquer competição. No Farense o objetivo foi andar até onde conseguíssemos. Conseguimos muito e ficamos na história. No Boavista, que na altura era um clube muito forte, com uma direção forte, com o presidente Valentim Loureiro, com planos grandes, o objetivo era claramente ganhar a Taça. Fomos à final e ganhámos a Supertaça ao FC Porto.

A final da Taça que jogou pelo Boavista ficou marcada pela exibição do Paulo Futre.

Muito forte aquele Benfica. O Futre estava endiabrado, mas havia tantos bons jogadores...

O Lemajic não tinha, de facto, muita sorte a jogar contra o Benfica. Além desse ainda há aquele famoso 3-6 quando estava no Sporting.

Pois foi...Claro que não havia muita sorte. Mas há uma parte importante: sofri seis golos e não tive culpa em nenhum. Ainda defendi quatro ou cinco. Aliás, nesse dia fui para casa tranquilo, não tive problemas com a massa associativa. Isso é sinal que fiz um bom trabalho. Fiz o que podia. Só não tive sorte.

Podia ser qualquer um na baliza, não é?

Sim, sim. O João Pinto nunca mais marcou três golos na carreira dele. Naquele jogo marcava tudo. Podia estar lá Dassaev, Buffon, quem fosse...

Aquele jogo marcou-o?

Um pouco. Perdemos por erros individuais e qualquer coisa mais. Ainda me lembro muito bem de todos os golos. Não dá para ter pesadelos, mas é duro. Mas como profissional estamos preparados. Claro que perder com o vizinho não é nada bom, mas isto é o futebol. O Benfica também tinha perdido 7-1 com o Sporting uns anos antes. O futebol é assim, é preciso andar para a frente.

O Sporting tinha, na altura, uma equipa que era, para muitos, a mais forte em Portugal. O que falhou para não terem sido campeões?

Na altura achávamos que ninguém nos ganhava. Éramos uma família, havia uma relação muito boa entre jogadores e treinador. Depois foram pequenas coisas que fizeram a diferença. Em alguns jogos os árbitros não estiveram à altura, também. Não gosto de atirar a culpa para outros, também é verdade que fizemos alguns jogos maus, especialmente então aquele contra o Benfica. Foi quase no fim, foi um jogo que mexeu connosco. Aconteceu assim, paciência.

Houve quem se queixasse das substituições do Carlos Queiroz...

Até hoje, o Carlos Queiroz tem vindo a provar que é um bom treinador. Teve pouca sorte a treinar em Portugal. E no Sporting especialmente.

Antes do Queiroz ainda teve o Bobby Robson. Como foi a experiência?

O Bobby Robson era um senhor do futebol. Acho que naquela altura ainda não tinha percebido bem a mentalidade portuguesa. Entrou em algumas coisas que em Portugal não se aceita. Os portugueses dão valor à honestidade, falar tudo na cara...Acho que ele estava a começar a entender o futebol português, mas já não foi a tempo.

Até porque depois já teve sorte no FC Porto.

Sim e isso não é coincidência. Acho que o sucesso dele no FC Porto se deve muito ao presidente Pinto da Costa. Na altura o senhor Pinto da Costa era uma excelência do futebol, um senhor do futebol. Mandava em tudo, como se diz. O FC Porto sempre teve uma equipa muito compacta, nortenha, rija. Uma família. E com ajuda do presidente, cada treinador que lá chegava podia contar com sucesso.

E a passagem pelo Sporting pode ter ajudado a não cometer os mesmos erros.

Sim, não cometeu, de todo.

Com o Queiroz teve uma disputa mais acirrada pela titularidade com o Costinha. Como foi esse período?

Veja lá, o Costinha tinha vindo comigo do Boavista. Era um jovem com muito talento. Podeira ser um guarda-redes para o futuro do Sporting. Nunca tive qualquer problema com o Costinha ou com qualquer outro colega. Na altura também estava o Paulo Morais e depois chegou o Tiago. Nunca tivemos problemas. Foi uma questão de eu ser mais experiente e eles mais jovens. O treinador no final decidia, mas foi sempre saudável. Excelente relação.

No tempo do Boavista destaca-se, então, a conquista da Supertaça. Como foram aqueles jogos com o FC Porto?

Duas grandes batalhas. Jogos muito difíceis. Ganhámos com mérito. O Manuel José percebia muito bem a mentalidade do Boavista. Conseguiu manter uma equipa muito forte, nesse ano ganhamos três ou quatro vezes ao FC Porto.

Jogou os dérbis do Porto e de Lisboa. São muito diferentes?

A rivalidade é a mesma, mas o Benfica-Sporting é mais grandioso. É mais um Inter-Milão ou um clássico como o Barcelona-Real. No Porto era um dérbi mais da região do norte. Era igualmente duro porque o Boavista batia o pé a todas as equipas.

Alguma vez teve possibilidade de ir para outro clube onde acabou por não jogar?

Antes de ir para o Boavista, o Benfica estava interessado na minha contratação. Como o Manuel José é do Algarve conhecia bem as pessoas do Farense. Gostava de mim, via muitos jogos e chegou-se a frente. Naquele ano o jornal Record elegeu-me o melhor guarda-redes da Liga. Um dia apareceu-me o Manuel José com o presidente Loureiro às 6 da manhã, no Algarve, a dizer que o Boavista queria contratar-me. Depois disseram-me que o Sporting também tinha interesse e a verdade é que no ano seguinte foi para lá.

Na altura tinha preferência entre os chamados três grandes?

Gostava do Sporting. Repare eu jogava no Sporting Farense. Era uma filial. Desde que cheguei a Portugal que gostei logo do Sporting. Estas coisas não se explicam. Aliás, eu já antes de vir conhecia bem o Sporting. Vi muitos jogos do falecido Damas. Ficou-me na memória, o tempo passou e fiquei sportinguista. Eh eh eh.

Até hoje?

Até hoje, até hoje. Garanto.

Tem visto os jogos do Sporting? O que tem achado?

Tento acompanhar. O Sporting de hoje tem outras condições. O estádio novo é mais moderno, não é como a antiga Alvalade. Melhoraram as condições, mas o outro estádio tinha mais espírito, tinha muita coisa. Mas é a evolução das coisas. E o Sporting revela sempre grandes jogadores. O presidente Carvalho tem feito um grande trabalho na direção. Está a dirigir o clube como deve ser. Falta pouco para ganhar o campeonato. Espero que seja já este ano.

E, já agora, o que acha do Rui Patrício?

É um grande guarda-redes. Admiro-o muito. A cada ano que passa está melhor. Está ao nível dos melhores da Europa. Pode comparar-se ao Buffon. Ainda vai dar muito ao futebol português.

Voltando de novo atrás: quando sai do Sporting em 1995 para o Marítimo foi com que objetivo? Jogar mais?

A saída para o Marítimo foi a opção da nova direção do Sporting, do senhor Santana Lopes. É um homem da política que nunca percebeu muito de futebol. Provou-se no tempo. É sportinguista, mas não é a mesma coisa ser político e ser um homem do futebol. Admiro o homem, porque é sportinguista, mas depois não esqueço aquela outra parte, de não perceber muito de futebol. Entendi que a direção não estava a respeitar jogadores que deram muito ao Sporting e decidi sair, sem mágoa, para o Marítimo, que me chamou.

Foi uma boa experiência?

Para mim foi muito diferente. Foi a primeira vez que fui para as ilhas. Foi um pouco duro. Era um homem de família. Precisava de mudar tudo, tanta coisa. Se fosse solteiro era mais fácil. Eh eh eh. A nível desportivo foi bom, fiz um bom trabalho no Marítimo.

Gostava que o Sporting tivesse feito mais força para ficar consigo?

Claro que um sportinguista como eu gosta de estar na casa própria. Mas as pessoas que entraram no Sporting pensaram que era preciso tudo novo. Não tinham conhecimento como as coisas funcionavam verdadeiramente. Achavam que mudar tudo ia resultar, mas não foi assim. Acho bem que se queira meter jogadores novos, mas também não há garantias que vai correr tudo bem e ser campeão no final. Perceberam rapidamente que foi um erro. O Sporting pagou isso.

Para terminar, quem foram os melhores jogadores com quem jogou ao longo da sua carreira?

Ui, tantos...Só no Sporting: Balakov, o jovem Figo, Paulo Sousa. Tantos. Vi nascer o Figo, via-se todo aquele talento a aparecer. Ele, o Peixe, Capucho. Muitos jovens. Tenho uma especial admiração pelo Figo porque sempre foi um rapaz que sabia para onde ia. Sempre foi honesto.

 

A entrevista é de João Tiago Figueiredo, publicada no Mais Futebol (link original)

 

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Daniel Bragança em entrevista

Daniel Bragança é um dos capitães dos juniores do Sporting e acabou de juntar o título nacional do escalão ao de juvenis. Em entrevista ao Jornal do Clube, o médio, que tem na criatividade uma das suas armas, defendeu que o jogador que alinhe ao seu lado não precisa de ter características distintas.

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JORNAL SPORTING – Juvenis ou juniores, qual o título que teve um sabor mais especial? 
DANIEL BRAGANÇA
– Foram os dois. Ser campeão é sempre um grande objectivo e conquistar o título, seja em que escalão for, é incrível. Cada um tem um significado diferente, mas a felicidade é a mesma.

Foste campeão pelo Sporting em dois anos consecutivos e dois escalões diferentes. Qual é o sentimento? 
É algo que me deixa muito orgulhoso. É uma recompensa do trabalho que realizámos nestes dois anos de trabalho. É merecido e nunca vou esquecer.

Se tivesses de escolher o momento mais difícil desta época, qual seria? 
[Suspiro] A eliminação na Youth League. Foi definitivamente a altura mais difícil da temporada para nós. Tínhamos qualidade para ir mais longe e termos consciência disso deixou-nos um bocado abalados.

Foi teu primeiro ano como júnior, além do campeonato tiveste a oportunidade de participar na Youth League. Foi importante para o teu crescimento?
Foi uma experiência muito positiva, apesar da eliminação precoce. Como equipa, evoluímos bastante e individualmente não tenho dúvidas de que todos os jogadores cresceram. Nós gostamos é de jogar e por isso ficámos muito felizes por ter a oportunidade de ter jogos a meio da semana e ao fim-de-semana.

O nível de dificuldade que encontram nessa competição é totalmente distinto do que têm a nível nacional? 
A nível competitivo é uma diferença enorme. Tivemos pela frente equipas de grande qualidade, de países diferentes e que por isso tinham estilos de jogo completamente diferentes.

A nível individual, és um jogador que lê bem o jogo e é dotado tecnicamente. Consideras que a vertente física é um aspecto em que tens de melhorar?
Sei que esse é um capítulo no qual tenho de evoluir muito e estou a trabalhar para o fazer. Claro que também ainda tenho de melhorar em outros aspectos, mas esse é sem dúvida o principal.

Concordas que cada vez mais o lado psicológico do jogador é fundamental para conseguir ter um bom desempenho em campo?
Não só em mim, mas em qualquer jogador. Quando entramos em campo, precisamos de confiar em nós próprios, caso contrário as coisas vão estar mais perto de correr mal do que bem. É fundamental ter a confiança no máximo.

Podes jogar mais recuado no terreno, como mais perto da zona de decisão. Achas que esta polivalência é um factor cada vez mais determinante no futebol actual?
Para nós, que ainda estamos nos escalões de formação, é algo essencial para o nosso crescimento. Temos de estar sempre aptos para jogar onde o 'mister' quiser e é para isso que trabalhamos diariamente.

Achas que esta polivalência também te pode prejudicar de certa forma, já que não crias rotinas fixas numa posição?
Sinceramente, não vejo nenhum aspecto negativo no facto de um jogador estar apto a jogar em várias posições e sempre com um bom rendimento. Jogar em mais do que um lugar ajuda-nos a perceber todos os momentos de jogo de uma forma diferente do que faríamos caso estivéssemos apenas cingidos a uma.

Quais são as características que o teu colega de meio-campo deve ter para te complementar?
Sou da opinião que não é obrigatório que o colega de posição me complemente. O que é preciso é que os dois estejam sempre em sintonia e saibam ler muito bem o jogo.

Quais é que achas que são os aspectos essenciais que um jogador na tua posição deve ter?
É preciso ter muita inteligência, tanto com bola como sem, criatividade e compleição física também é importante. Enfim, acho que estes são os principais.

Que jogadores são os teus exemplos a seguir?
Gosto muito do Pogba, do Modric, mas acima de tudo do Iniesta e do Busquets. São jogadores que aprecio e que vejo para aprender. No plantel do Sporting, revejo-me no William e no Adrien em certas características.

Tens algum jogador que, como já está há algum tempo no Clube, já achasses que podem atingir o nível do plantel principal?
O 'Chico' Geraldes e o Daniel Podence. Sempre demonstraram uma enorme qualidade e que tinham um talento especial nos escalões de formação.

 

Fonte: Jornal Sporting

 

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Excelente e esclarecedora entrevista a Bacelar Gouveia

O constitucionalista quebra o silêncio e explica as razões que o levaram a não continuar como presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar do Sporting. Entre elogios a Bruno de Carvalho, fala da polémica auditoria e do ambiente "pidesco" que lhe criaram em Alvalade.

 

Como se dá a sua presença na lista de Bruno de Carvalho em 2013? De quem partiu o convite?

O convite partiu do Dr. Bruno de Carvalho, que eu conhecia mal, mas passei a conhecer muito bem no exercício do mandato que agora terminou. Julgo que reuniu consigo um conjunto de pessoas de muito valor e fez uma excelente equipa nos vários órgãos sociais. E devo dizer, tendo terminado funções, e tendo aceite o convite há quatro anos, que estou hoje muito orgulhoso: eu lembro-me nessa altura que muitas pessoas achavam que o Dr. Bruno de Carvalho era o "Vale e Azevedo" do Sporting. E não eram muitos aqueles que o apoiavam. Eu sempre acreditei nele desde a primeira hora. E não imagina as dezenas de telefonemas de pessoas amigas - uns sportinguistas, outros nem tanto - muito admiradas e até indignadas por eu ter aceite o convite que ele me dirigiu para encabeçar o Conselho Fiscal e Disciplinar (CFD). Hoje, ao fim de quatro anos, posso dizer que foi uma boa decisão e os bons resultados estão à vista.

Entre essas pessoas, há alguém com maior peso no universo do Sporting?
Estão pessoas que foram antigos dirigentes do Sporting.

Está a falar de ex-presidentes?
Um deles foi presidente, mas não revelo de que órgão e de que mandato.

Por que não continuou para este mandato? Bruno de Carvalho falou em razões de ordem profissional, mas o senhor nunca deu esse motivo quando anunciou que não se iria recandidatar...

Em primeiro lugar, eu acho que estes cargos não devem ser renovação eterna. Quando aceitei o convite, o meu prazo estabelecido era de quatro anos e foram quatro anos muito duros. O CFD a que presidi foi o que mais vezes reuniu na história do clube, foram 44 reuniões e participando ativamente em sub-comissões. Houve um trabalho muito intenso, de acompanhamento das contas, da auditoria, da restruturação e depois também tivemos os processos disciplinares, que foram vários. Sinceramente, a certa altura comecei a ficar um pouco saturado e cansado de uma atividade muito intensa. Entretanto, aumentaram as solicitações profissionais para ir países de língua portuguesa. Ainda na semana passada estive em Maputo e Beira e na próxima semana estarei em Luanda. Esses afazeres levaram-me gradualmente a tomar a decisão de não me recandidatar à presidência do CFD.

Mas teve alguma coisa a ver, por exemplo, com o facto de ter uma ligação estreita, no âmbito da sua atividade como docente, com um dos comentadores do Benfica, que tem motivado mais críticas por parte do Sporting. Refiro-me a André Ventura.

Na verdade, conheço bem esse comentador e foi um dos melhores alunos da Nova Direito, sendo professor da Universidade Autónoma, onde eu também sou professor. Essa "ligação estreita", como diz, foi objeto de intervenções que não me agradaram porque, a partir de certa altura, ia recebendo comentários e inquirições de dirigentes intermédios do Sporting questionando o grau de proximidade que tinha com esse comentador, ao que eu respondia sempre com a verdade das coisas, mas sentia que essas perguntas tinham, na sua essência, uma suspeita inadmissível quanto à minha lealdade e ao meu sportinguismo. E, a partir desse momento, comecei a encarar a minha continuidade no CFD de outra maneira.

Quando começou a perceber que havia suspeitas que não eram compatíveis com a função?

Isso começou a partir de setembro, outubro, em que várias pessoas, num ambiente "pidesco" desagradável, me questionaram...

Bruno de Carvalho?

Não, nunca me abordou esse tema. Estou a falar de dirigentes intermédios, que me perguntavam, em tom "pidesco", o que é que eu tinha com esse comentador. Até logo me recordei, a esse propósito, que o presidente da Assembleia Geral é amigo de Luís Filipe Vieira. Costuma jantar ou almoçar com ele... bem, talvez agora já não possa... Aqui tem de haver bom senso e o mínimo de respeito. Uma coisa são as nossas relações académicas, profissionais e privadas, outra coisa são as nossas relações institucionais e de lealdade. Portanto, a partir do momento em que essas pessoas, agindo por conta própria ou não...

Mas acha que isso refletia o pensamento do presidente?

Nunca lhe perguntei. Ele a mim sempre me disse que o nosso trabalho tinha sido fantástico e tínhamos três listas no CFD. Para grande alegria minha, todos os meus colegas até me ofereceram um jantar de despedida, que não foi meramente protocolar. O Dr. Bruno de Carvalho num outro jantar confidenciou-me que o nosso trabalho tinha sido fantástico, ao que eu lhe comuniquei que nestas coisas de dúvidas sobre lealdade, temos de ser intransigentes.

Então a principal razão da sua saída deve-se ao facto de sentir que duvidavam da sua lealdade?

Não, não é a principal, mas contribuiu. Esse ambiente foi muito desagradável e eu não podia tolerar isso. Não podia continuar com a minha lealdade sob suspeita. O Dr. Bruno de Carvalho não se revia nessa suspeita, disse-me que não tinha a mínima dúvida sobre a minha lealdade, mas eu disse-lhe que essa suspeita era um dos fatores que me levava a não querer continuar. Não era aquilo que o presidente queria, mas esse ambiente instalou-se nalguns dirigentes intermédios.

Uma das bandeiras da campanha de há quatro anos do atual presidente do Sporting foi a auditoria às contas da SAD do Sporting entre 1995 e 2013. De quem foi essa ideia e como é que o senhor, na qualidade de presidente do CFD, a encarou?

Essa era uma ideia antiga do Dr. Bruno de Carvalho porque já a tinha apresentado em 2011 quando não ganhou. E voltou à carga (e muito bem). A definição da ideia de auditoria era em relação ao passado, para o período em que o Sporting passou a ter um novo conceito empresarial, ou seja, nos últimos 19 anos. Eis uma das coisas boas dos mandatos cessantes porque a auditoria foi cumprida. Mas a auditoria não foi feita pelo CFD, foi encomendada pelo Conselho Diretivo (CD), órgão que tem competência para fazer esse pedido, ainda que evidentemente o CFD tivesse tido uma intervenção muito relevante em vários momentos. Em primeiro lugar, para definir as cláusulas do caderno de encargos, para se saber o que os auditores iam perguntar, o tipo de documentos a obter, a parte patrimonial abrangida. Era uma coisa mais ampla, para se saber se os procedimentos nestes 19 anos eram corretos, se a gestão tinha sido boa ou má. Ajudámos também na escolha das empresas candidatas, algumas recusaram. O CD acabou por escolher uma empresa, com o nosso parecer favorável, mais uma sociedade de advogados. Creio que o valor final foi de 300 mil euros, era uma coisa muito cara. Depois, o CFD fez o acompanhamento durante a processo, houve alguma derrapagem temporal, até alguns sócios ficaram um pouco irritados e nas Assembleias Gerais culpavam o CFD quando, na verdade, tudo era da responsabilidade do dos auditores, sendo natural que se atrasasse. Nem imagina as dificuldades que encontrámos: desde contratos que não apareciam, outros fechados numa célebre cave, documentos que nem existiam, um conjunto de surpresas que ninguém esperava. Nós, CFD, não fazíamos parte da equipa, mas tínhamos membros que reuniam periodicamente com os auditores e com o CD.

Era uma auditoria necessária no seu entender?

Era e por dois motivos. Por um lado, para apurar responsabilidades e em Portugal é normal a "culpa morrer solteira". Era importante saber se havia responsabilidades, elas tinham que ser apuradas e eventualmente punidas. Por outro lado, para pensarmos no futuro e fazermos um luto sobre as coisas erradas do passado. Os sócios há muito que pediam esse esclarecimento.

O que é que se suspeitava? De fraude, de uso indevido de dinheiros do clube, de gestão danosa?

De tudo. Numa auditoria, estamos prontos para encontrar tudo aquilo que disse... até responsabilidades criminais. Mas sobretudo aquilo que nos surpreendeu foi haver processos de deliberação que não estavam de acordo com os estatutos. Por exemplo, venda de bens sem pareceres favoráveis do CFD ou venda de património sem o número mínimo de assinaturas que os estatutos exigiam ou transações que não tinham sido autorizadas pela Assembleia Geral. Não vou dar pormenores concretos.

Isso era muito importante clarificar até porque a grande venda de património não desportivo do Sporting deu-se no consulado Filipe Soares Franco...

Sim, sim é verdade. Mas a questão não era só de haver processos deliberativos irregulares, como também se colocavam questões importantes do ponto de vista do valor por que os bens foram vendidos...

Foi, então, importante a auditoria

Muito importante. O Dr. Bruno de Carvalho prometeu e cumpriu. Aliás, ele fez tudo aquilo que prometeu fazer. Deste ponto de vista, é um goleador 100% certeiro!

Durante esse longo processo, almoçou com Godinho Lopes, que mais tarde referiu que o senhor tinha criticado Bruno de Carvalho. O senhor negou e depois houve ameaças de processos de parte a parte... como está essa situação?

Exerci as funções de presidente do CFD do Sporting com muito gosto e honra e saí destas funções que exerci gratuitamente com a seguinte "herança": uma ação cível que o eng. Godinho Lopes intentou contra mim, pessoalmente, e também contra as pessoas do Dr. Bruno de Carvalho e do comandante Jaime Marta Soares, no valor de 500.000 euros. O que tenho de ligação ao Sporting, para além de ser sócio, é essa ação, que é totalmente disparatada e injusta, além de ter recusado que o Sporting me pagasse as despesas com a minha defesa em tribunal, que ficaram por minha conta, dado que esta foi uma ação movida contra mim, a título pessoal, e não na qualidade de então Presidente do CFD. O eng. Godinho Lopes nunca chegou a perceber o problema porque ele foi objeto de um processo disciplinar devidamente instruído por um jurista externo ao Sporting. Foi elaborada uma nota de culpa de 70 páginas, imputando-lhe um conjunto de factos. Enviámos essa nota de culpa e o eng. Godinho Lopes respondeu em duas folhas a dizer que não percebia a nota de culpa. Aplicámos a sanção de expulsão por seis votos e uma abstenção. Ele teve uma segunda oportunidade para se defender recorrendo para a Assembleia Geral no prazo de dois meses e não o fez e teve ainda uma terceira oportunidade de se livrar dessa condenação, que era ir para os tribunais e também não o fez. Foi para os tribunais fazer outra coisa, não foi para revogar a expulsão. Foi para intentar a tal ação disparatada. Não tive nenhum prazer em expulsar o eng. Godinho Lopes, mas era um dever moral perante as irregularidades que encontrámos. Em relação ao almoço, ele existiu, marcado por ele através de um amigo comum, durante o qual abordou dois assuntos e eu posso dizer que não conhecia o eng. Godinho Lopes de lado nenhum...

Não o conhecia?

Nunca o tinha visto pessoalmente, mas agora também não tenho interesse nenhum em voltar a ver... Retomando, fui apanhado de surpresa porque, afinal, ele queria era livrar-se do processo disciplinar e que lhe pagassem 750 mil euros que teria emprestado ao clube. Em relação ao processo, disse que o processo estava a decorrer e que teria a oportunidade de se defender, mas pelos vistos não havia nada para se defender porque era tudo verdade. E o segundo assunto, comuniquei ao Dr. Carlos Vieira, vice-presidente para a área financeira. Penso que há um litígio judicial sobre esse assunto.

O Sporting muito recentemente chegou a pedir a José Eduardo Bettencourt e Godinho Lopes, em conjunto, qualquer coisa como 70 milhões de euros. Mas aos anteriores presidentes isso não aconteceu. Pelo menos ainda...

No âmbito da auditoria, foram encontradas diversas irregularidades e, de facto, através daquela comissão, depois de o relatório estar feito, ouviram-se os antigos presidentes, dando-lhes conhecimento prévio de todos os relatórios, para que pudessem ter uma reunião connosco e prestar esclarecimentos. Uns aceitaram, outros não.

Como o Dr. Dias da Cunha...

Sim, sim. Mas essas reuniões foram importantes: no caso do Dr. Bettencourt, permitiu que se fizesse uma correção de um erro dos auditores devido à data de conclusão de um mandato. E muito bem o Dr. Bruno de Carvalho pediu em tribunal a correção e a redução dessa ação.

Isso é posterior à entrada da ação que pedia, em conjunto, 70 milhões de euros a Godinho Lopes e José Eduardo Bettencourt?

No princípio, o CD entendeu que se havia um conjunto de atos danosos e desastrosos para o ativo do Sporting, isso corresponderia a uma gestão que não é boa, que é má. Quem faz deliberadamente atos de gestão que conduzem ao aumento progressivo do passivo de uma empresa, não se pode dizer que tal gerente seja bom ou "amigo da empresa" porque esse gerente vai levar a empresa para o buraco. Como isso foi uma coisa continuada ao longo de vários mandatos, foi-se sempre agravando até ao clímax atingido no mandato do eng. Godinho Lopes, o CD entendeu que devia intentar essas ações de responsabilidade cível de administradores e a Assembleia Geral deu luz verde.

As únicas ações intentadas em tribunal foram contra José Eduardo Bettencourt e Godinho Lopes?

Há dois grupos de ações. Há umas primeiras quatro ações e depois um segundo grupo de ações numa segunda fase. Mas há questões jurídicas complicadas, como o prazo de prescrição, não havendo acordo dos juristas quanto a esse prazo... vamos aguardar o que os tribunais decidirem. Posso dizer que nós, CFD, não fomos consultados sobre essas ações, foram intentadas sem conhecimento prévio do CFD.

Isso é normal?

Faz parte do modo de ver o exercício da função do CD, mas penso que seria elegante antes de uma ação dessa envergadura ser intentada que, pelo menos, o presidente do CFD tivesse sido ouvido sobre o assunto, até porque, sendo advogado e professor catedrático de Direito, talvez pudesse dar alguma ajuda. Mas não foi...

Isso é uma pedra no sapato na sua relação com o presidente do Sporting?

Não, nós temos uma boa relação. Devo mesmo dizer que o Dr. Bruno de Carvalho me surpreendeu pela positiva. Nunca acreditei que ele fosse o "Vale e Azevedo" do Sporting e revelou-se um grande líder, com muita energia e capacidade de estratégia, salvou o clube logo quando tomou posse. Lembro-me de um episódio em que eu estava em Varsóvia e ele ligou-me a dizer que ia fazer uma conferência de imprensa para anunciar a rutura das negociações com os bancos na altura da restruturação. Ainda bem que ele conseguiu reverter isso e o Sporting deve-lhe a sua salvação financeira. Ele devolveu a dignidade aos sportinguistas. Isso não significa que tudo tenha sido perfeito no relacionamento do Dr. Bruno de Carvalho com o CFD e comigo em particular.

Houve mais episódios de desconforto?

Houve sim. O primeiro foi logo ao princípio quando o Dr. Bruno de Carvalho desejou apresentar aos sócios as contas consolidadas do clube. E ele pediu aos membros do CFD um termo de confidencialidade para terem acesso às contas da SAD no âmbito da restruturação financeira. Houve alguns membros do CFD que não assinaram e eu achava que não tinha de assinar porque, tendo sido eleito, a minha legitimidade democrática direta dispensaria qualquer tipo de assinatura. E eu estou à vontade nestes procedimentos porque já fiscalizei segredos bem mais importantes - quando fui eleito pela Assembleia da República presidente do Conselho de Fiscalização do Sistema de Informação da República Portuguesa - e nunca assinei qualquer documento de confidencialidade para ter acesso a segredos de Estado. Não era no Sporting que ia assinar...

Então, não assinou?

Acabei por assinar porque considerei que se não o fizesse iria gerar uma perturbação muito grande e estávamos no início do mandato. Por uma questão de paz interna, pensei que devia assinar e assinei. Já mais tarde, outro episódio que não correu muito bem foi uma tentativa - felizmente frustrada - de fazer uma alteração estatutária (e da qual o CFD só teve conhecimento pela leitura das atas) que tinha como uma das medidas o absurdo de retirar o poder disciplinar ao Conselho Fiscal e transferi-lo para o Conselho Diretivo. Isso, além de ilegal e inconstitucional, seria gravíssimo porque violaria a separação de poderes. A entidade que administra um clube não pode ser a entidade que pune os seus associados. Se essa medida tivesse ido para a frente, o Conselho Fiscal teria ficado sem o poder disciplinar. E, na altura, houve mesmo alguns membros do CFD que puseram em cima da mesa a sua demissão imediata. Ainda bem que foi algo que se resolveu rapidamente e tornou-se uma medida esquecida e espero que esquecida se mantenha para sempre.

E como geriu essa situação com Bruno de Carvalho, já que não houve uma comunicação entre órgãos?

O CFD e eu próprio ficámos preocupados porque nos disseram que o CD tinha aprovado essa proposta de alteração estatutária. Foi assim que soubemos e a partir desse momento pedimos acesso às atas para saber o que lá estava porque ninguém me tinha dito nada. E ficámos muito espantados com essa alteração estatutária a ser proposta em Assembleia Geral e na qual o Conselho Fiscal deixaria de ser "Disciplinar".

Mas confrontou Bruno de Carvalho?

Não confrontei. Ele não me disse nada previamente e eu achei que também não lhe devia perguntar nada posteriormente.

Mas quem retirou a proposta?

Não sei porque o assunto nunca foi levado à AG. Nunca passou de uma proposta que ficou na gaveta.

Nuno Silvério Marques é o seu sucessor.

E muito bem.

Há a curiosidade de o novo presidente do CFD ter sido eleito há quatro anos na lista de José Couceiro.

Veja lá bem as voltas que a vida dá. As pessoas não têm que ficar marcadas por terem integrado outra lista. Acho que o Dr. Bruno de Carvalho, quando decidiu perante a minha não continuação, teve um golpe de asa curioso. Devo dizer que isto na política não costuma ser assim, os adversários continuam a ser adversários, mas o Dr. Bruno de Carvalho tem essa bondade de alma em transformar os adversários em amigos. Aliás, o Dr. Bruno de Carvalho foi objeto de uma campanha terrível e vergonhosa contra a sua honra a reputação, em que muitas pessoas acreditaram, muito bem montada por uma agência de comunicação que estava na outra candidatura. Só que depois as pessoas perceberam que o verdadeiro Bruno de Carvalho não era aquilo que diziam que ele era, mas era uma pessoa com determinação, com o seu feitio, com a sua maneira de ser. É um líder nato e as coisas funcionaram bem. Admito que a minha presença possa ter contribuído para isso com algum traquejo de vida, com alguma experiência de liderança e também o caráter e as qualidades das pessoas do CFD: fiquei muito entusiasmado em relação a isso, pelo trabalho, dedicação e lealdade entre todos nós, e eu não conhecia nenhum dos seus membros.

O atual presidente foi reeleito de uma forma esmagadora. O que há a melhorar?

O Dr. Bruno de Carvalho, ao longo destes quatro anos, também aprendeu com alguns erros, que todos cometemos. E para além das muitas coisas boas que já fez, percebeu o domínio do Benfica na Comunicação Social. Tentou reagir virulentamente, como é seu apanágio, e o Sporting tem vindo a retificar um caminho, que é ter uma forma mais hábil de colocar os seus comentadores e pessoas da sua influência nos lugares da Comunicação Social. Vai fazendo-o gradualmente e também os próprios jornalistas - e aqui não estou a falar do Diário de Notícias, que, na minha opinião, é um excelente jornal - aperceberam-se que tinham ido longe demais no apoio ao Benfica. Hoje, as pessoas têm a consciência de que o Benfica é uma máquina poderosa de propaganda e que domina a esmagadora maioria dos órgãos de comunicação social desportivos e não desportivos e, graças à firme intervenção do Dr. Bruno de Carvalho, tem-se revertido a situação.

Como jurista, tem opinião sobre o caso dos vouchers...

Isso tem uma dimensão criminal. É um favorecimento, uma oferta, uma prenda. A legislação é cada vez mais rigorosa do ponto de vista de não permitir que se ofereçam coisas que, mesmo que sejam de pequeno valor, psicologicamente condicionam e limitam quem vai arbitrar um jogo. E um árbitro é como um juiz, tem que ser imparcial e independente. Não conheço nenhum advogado que antes de um juiz proferir uma sentença lhe ofereça bilhetes para o cinema, uma garrafa de azeite ou uma peça de fruta. Isso não é prática nos tribunais.

O presidente prometeu, em campanha, dois títulos nos próximos quatro anos. Partilha deste entusiasmo?

Prometer faz parte de uma política de objetivos. Ele já tinha prometido isso para o mandato que agora terminou. Infelizmente não aconteceu. Mas acho que ninguém pode ter qualquer dúvida sobre o amor e a dedicação do presidente ao Sporting. Eu testemunhei isso diretamente. Ele estava sempre no clube, só faltava dormir no clube - e até é capaz de ter dormido lá algumas vezes. Essa é a grande razão da esmagadora vitória que ele teve. Mesmo não se concordando com o estilo, com alguns excessos de linguagem ou com alguma intervenção mais abrupta, todas as pessoas reconhecem a sua entrega total.

Ao colocar a fasquia tão alta, se não cumprir o objetivo, pensa que Bruno de Carvalho pode ter vida longa como presidente do Sporting?

O futuro a Deus pertence, mas se ele continuar a gerir bem e a dar alegrias ao clube, certamente que vai continuar, e espero que por muitos anos, como presidente do Sporting.

 

Entrevista dada ao DN (LINK)
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