Tenho evitado falar de reforços, rumores, saídas e de tudo o que diz respeito à "silly season".
É uma fase da temporada que me deixa sempre com um nervoso miudinho e a forma que encontro de ficar tranquilo é tentar afastar-me o mais possível do tema.
Por esse motivo, demorei mais tempo também a encaixar as novas "peças" do nosso plantel na nossa forma de jogar.
Além disso, tirando Rúben Semedo, Jefferson e Esgaio, ainda não são conhecidas as restantes saídas e, não tenho dúvidas, sairão ainda elementos importantes.
No entanto, parece-me que o Sporting se mexeu atempadamente no mercado e que as entradas já fazem conta com eventuais saídas.
Não especulando sobre quem sai (embora seja mais ou menos evidente) ou acerca de eventuais entradas (que também acabarão por acontecer), tentei conhecer mais de cada um dos jogadores recém-chegados, sobretudo dos que conhecia menos e farei assim uma análise individual de cada um e do que poderão eventualmente acrescentar à equipa. Tudo isto porque sexta-feira já rola a bola.
Ponto prévio: o post vai ser longo.
A treinar com o plantel do Sporting desde o final da temporada passada, André Pinto não passará já pelo habitual processo de integração. Conhece o clube e os companheiros e, à primeira vista, parece-me chegar para o lugar de Douglas, que estará de saída.
É um jogador na linha de Paulo Oliveira. Bom na marcação individual, normalmente corta os lances de forma limpa e raramente recorre ao tackle. Parece-me melhor que Paulo Oliveira quando o assunto é o início da fase de construção. Mais confortável com bola, mas nem por isso se trata de um jogador confortável em posse. Joga simples e preferencialmente curto.
Também devido à sua elevada estatura, é um perigo nos lances de bola parada ofensivos, onde apresenta um bom aproveitamento (3 golos em 14 jogos na temporada passada).
Parece-me uma boa contratação e, até devido ao baixo custo que terá envolvido o seu ingresso no Clube, acho que pode ser uma boa opção para o centro da defesa.
O italiano era para mim um perfeito desconhecido, pelo que tive de recorrer a algumas análises em vídeo para aferir o que poderia ou não acrescentar em qualidade à nossa lateral direita.
Para começar, Piccini, ao contrário de Schelotto, tem escola italiana. Foi formado na Fiorentina e foi internacional sub-21 pela Itália. Não parece um mau cartão de visita.
Fará 25 anos em setembro e tem ainda margem de progressão. Foi associado nos últimos dois anos a vários clubes da Premier League, o que me leva a crer que o seu rendimento em Espanha não terá sido assim tão fraco quanto vejo muitos afirmar por aí.
Do que tive oportunidade de observar, Piccini é um upgrade, relativamente a Schelotto. Nunca fui fã do "Galgo" e nem considero difícil ser melhor que ele mas Piccini tem características interessantes.
Joga de cabeça levantada, tem bom transporte de bola, capacidade no um-contra-um e, ofensivamente, parece-me que poderá oferecer muito mais do que aquilo que Schelotto mostrou saber fazer. Não remata muito bem, mas não tem medo de o fazer de longe (talvez tenha até de refrear esse ímpeto) e, no último terço, tem alguma capacidade de leitura do jogo. Movimenta-se bem em espaços interiores e, defensivamente, pareceu-me concentrado, não permitindo aos atacantes visar a baliza com espaço. Além disto, é alto e sabe usar o corpo, embora não seja muito forte no jogo aéreo.
Piccini não entusiasma pelo desconhecimento que a maioria tem dele mas parece-me que poderá ser uma agradável surpresa.
Mostrei-me inicialmente céptico relativamente ao ex-Estoril, filho do mítico Bebeto. Depois de ler algumas análises ao jogador, de observar alguns dados estatísticos, constato que, ofensivamente, Mattheus terá algo a acrescentar ao nosso meio campo mas continuo a duvidar que consiga cumprir defensivamente num meio-campo a dois.
Mattheus foi internacional nos escalões jovens pelo Brasil e, apesar de se ter formado em terrenos mais adiantados, adaptou-se bem ao futebol europeu, conseguindo mesmo dar o passo que muitos não conseguem, entendendo o jogo mais rapidamente do que a maioria dos sul-americanos. Talvez por isso se tenha adaptado bem a jogar mais recuado no terreno, embora num modelo de jogo com dinâmicas muito diferentes das que encontrará no Sporting.
O brasileiro dará ao meio campo maior capacidade no jogo aéreo e mais soluções na meia-distância, bem como na marcação de bolas paradas.
Não é um jogador tão fiável ao nível do passe quanto Adrien, falta-lhe alguma intensidade a defender mas compensa com uma boa capacidade de posicionamento e leitura do jogo. O recuo no terreno não lhe retirou criatividade. Tem rasgo no último passe, arrisca e é perigoso nos movimentos de fora para dentro, sobretudo descaído para o lado direito.
Parece-me uma boa solução para ter no plantel.
Do que li e vi do médio ex-Sporting de Braga, parece-me um jogador à semelhança de Adrien, salvas as devidas distâncias. Jogador intenso, tanto a defender quanto a atacar, destaca-se pela capacidade de ocupar grandes áreas de terreno, graças à sua enorme capacidade física e atlética.
Destaca-se nos duelos, inclusive nos aéreos, facto que parece ter preocupado Jesus e que, convenhamos, era um dos défices dos nossos médios.
Ofensivamente, vejo em Battaglia ainda mais limitações do que as que identifico em Adrien. Parece algo lento a decidir o que fazer com bola e não sei se terá a capacidade para aprender a soltar mais rápido e com mais qualidade do que o que faz habitualmente.
Seja como for, é um jogador interessante que foi inclusive internacional sub-20 pela Argentina. Creio que terá de melhorar para se mostrar útil, não deixa de ser uma opção interessante para render Adrien mas creio que nos precipitámos no timing do negócio e nas cedências a fazer para satisfazer as pretensões do Braga. Veremos se valeu a pena.
O capitão dos sub-21 no último campeonato da Europa dispensa apresentações. É craque da cabeça aos pés, jogador de fino recorte técnico, com boa chegada à área e uma meia distância razoável.
Já sigo Fernandes desde a sua primeira temporada na Serie A. Era um 10 mas evoluiu de tal forma no capítulo táctico que é hoje capaz de fazer o lugar de médio centro, médio ofensivo e médio ala com igual competência.
Não o vejo com grande capacidade para ser o "pulmão" do nosso meio campo, pois é esse precisamente o seu ponto fraco. Não é jogador para 90 minutos em alta rotação e terá de melhorar nesse aspecto para ser o nosso "8".
Veremos até que ponto Jorge Jesus pensa em Bruno Fernandes para uma posição na ala, tal como fez com João Mário. Parece-me neste momento a lugar onde daria mais à equipa e a melhor forma de potenciar um "onze" com a qualidade que temos ao nosso dispor.
Seja como for, os oito milhões e meio despendidos para trazer Bruno Fernandes foram um bom investimento e espero muito do jogador.
A vinda de Doumbia, por empréstimo da Roma (com opção de compra), pretende voltar a dotar a equipa de um segundo avançado na linha de Teo Gutiérrez.
Doumbia é um Teo a gasolina. Mais explosivo, mais veloz, sem perder a capacidade de visar a baliza e de assistir os colegas para golo. Tudo isto com a vantagem de não ser avariado da moleirinha. Será um complemento de Bas Dost e um potenciador de jogo ofensivo para o holandês.
Ao contrário de Alan Ruiz, Doumbia não é um armador de jogo. Cai com frequência nas alas, dá profundidade e largura e explora eficientemente a chamada zona "entre linhas". É forte no drible, perigoso nas movimentações das alas para o meio e finaliza bem, tanto pelo chão como pelo ar.
Com o costa-marfinense ganharemos também mais uma arma importante no ataque rápido e no contra-ataque.
Doumbia é uma grande contratação mas o sucesso de uma hipotética dupla Dost / Doumbia dependerá da solidez do meio campo que Jesus consiga formar.
Há ainda muitas dúvidas no plantel e Jorge Jesus tem contado com um número alargado de jogadores. Vou esperar pela semana que vem para tentar observar o primeiro esboço do plantel e tirar algumas conclusões.
Sigam-me no facebook e no twitter.