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Grande Artista e Goleador

Grande entrevista, Senhor Carlos Lopes mas, permita-me...

A entrevista foi dada ao Tribuna Expresso (LINK) e, como quase sempre, tem vários motivos de interesse, mesmo que algumas coisas sejam inevitavelmente repetitivas, tal é o número de vezes que Lopes foi entrevistado.

A mim, há uma que me salta à vista e, por isso, transcrevo um excerto:

 

"Foi treinador, mas acabou por não seguir a carreira. Porquê?
Gosto muito da honestidade, trabalho com honestidade, gosto de colaborar, às vezes sendo maltratado… e andar a trabalhar, criar jovens para outra dimensão e de um momento para o outro ficar sem os atletas, custa muito.

Está a referir-se em concreto a quê?
Fui treinador no Belenenses, no Maratona, no Sporting, no Núcleo Sportinguista da Lourinhã e um tipo está a fazer uma equipa e de repente ver ser destruído todo o seu tranbalho em prol de…

Mas quem é que lhe tirava os atletas?
Isso agora não interessa. O último foi no Núcleo Sportinquista da Lourinhã, em que andava a treinar um miúdo e quando começo a perceber que havia ali manobras de outros treinadores, não gostei e disse “meu menino vai treinar com quem quiseres” e abandonei a carreira de treinador. À minha custa não, à custa do meu trabalho ninguém vai mais ter atletas. É injusto e como não gosto de injustiças sou muito radical. E como não me quero ofender com ninguém, porque eu estou aqui é porque gosto de viver a vida, é muito simples. Perderam um treinador e perderam se calhar um dinamizador do atletismo para o futuro.

Hoje quando olha para o nosso meio fundo e fundo, o que sente?
Uma grande tristeza. Uma grande tristeza por culpa própria, porque o grande problema hoje em dia é que os treinadores não falam entre si, não criam equipa. Toda a gente acha que sabe tudo, toda a gente quer ser melhor do que o outro.

Há muita competição.
Competição estúpida. Toda a gente quer ser o melhor do mundo, toda a gente quer ser um professor Moniz Pereira, mas Moniz Pereira só houve um, como Carlos Lopes só havia um. Não vale a pena irem por ai. Em vez de se unirem, discutir ideias, fazer trajeto para o futuro, não, toda a gente quer ser o melhor. E porquê? Porque se não houvesse muito dinheiro envolvido possivelmente as coisas aconteciam mais naturalmente.

Foi treinador do seu filho Nuno Lopes.
Sim, e por isso fez os resultados que fez. A partir do momento que saiu de mim, deixou de os fazer.

E porque é que ele deixou de ser treinado pelo pai?
Por causa das tais guerras de bastidores. Você é mãe de um menino ou menina, e dentro das suas condições dá-lhe aquilo que acha que é o ideal, mas se vier outra mãe e disser ao seu filho, se fizeres isto, eu arranjo forma de ter darem isto, mais isto, mais aquilo, o que você vai fazer? O miudo não aceita? No desporto joga-se muito com o factor de quem manda e quem manda às vezes tem muita força, não é pela razão mas pelas convicções. E depois perde-se tudo. E tem-se perdido muitos jovens nestas condições.

Os clubes, a federação, estão todos coniventes com isso?
Claro que estão. E toda a gente sabe disso. Depois temos os resultados que temos.

É frustrante para si?
Não, é um alerta para as pessoas pereberem os erros que estão a cometer. Não ganho nada em sentir-me frustrado. Se eu fosse professor de educação física, se calhar era o melhor treinador do mundo e ninguém me tocava. Mas não sou professor de educação física.

Está a dizer que olha-se demasiado para os cursos superiores que as pessoas têm ou não?
Para o elitismo. Funciona assim em todos os setores da vida. O Moniz Pereira aprendia com aquilo que os atletas faziam e nunca pôs isso em causa. Ele também aprendeu muito com os atletas que treinava. Penso que foi daqueles homens que mais soube tirar partido das características de cada um dos seus atletas.

Então não teve uma carreira de treinador por não ter um curso superior? Não lhe reconheciam valor por causa disso?
Em parte sim. Em parte. E eles sabem que eu sei.

Mas tem um “know how”, uma experência que muitos treinadores não têm.
É verdade e eu sei disso.

E isso não pode ser aproveitado de alguma forma?
Já tenho 70 anos para ter juízo. Mas ainda não perdi a esperança de fazer a minha escola de meio fundo/fundo com o nome Carlos Lopes.

Onde?
Gostava de começar em Lisboa, mas se calhar depois ser transversal a outras regiões do país.

Está dependente do quê?
Da minha vontade.

Já tem apoios?
Estou a tratar disso. Não é fácil, digo já. Jovens com valor em Portugal nós temos. Por aí estamos descansados. E é uma pena perderem-se tantos valores.

E perdem-se também porque os jovens não têm paciência para correr distâncias mais longas?
Isso é outro problema, ninguém tem paciência, toda a gente quer resultados imediatos e o atletismo é um jogo de paciência. Se percebermos que um atleta de meio fundo/fundo demora sete a dez anos a fazer… é muito tempo. Ter capacidade de gerir durante quatro, cinco, seis anos, não é facil. A exigência é enorme. Agora não podemos ter um jovenzinho e fazer logo dele campeão e depois, dentro de três ou quatro anos, já deu tudo o que tinha a dar. Isso é que não pode ser."

 

Ora, temos jovens com valor em Portugal, o próprio Carlos Lopes lidera uma estrutura de atletismo num dos maiores clubes do Mundo (com 16 títulos europeus) e afirma ter competências técnicas que podem levar o meio-fundo e fundo para outros patamares. Então...

Porquê esperar para implementar a metodologia por meios próprios e porque não em articulação com o Sporting?

Se já está implementada essa metodologia no Sporting, porque continuamos a não ver jovens com potencial para se afirmarem no meio-fundo?

 

E não estou a criticar por criticar. O Sporting não teve este ano um único campeão nacional de sub-18 nessas distâncias. Apenas Eduarda Barbosa foi campeã nacional de sub-20, na distância de 1500 metros e, tirando Salomé Afonso (20 anos), não se vislumbra para já mais ninguém que prometa altos voos. Amélia Pinto e Guilherme Vitorino já fizeram resultados interessantes mas tenho dúvidas que atinjam os patamares mais altos. No masculino então, a situação preocupa-me. Temos uma equipa de qualidade mas formada à base de contratados, todos eles com mais de 25 anos.

 

Urge dotar as nossas equipas de jovens de valor, que possam aprender com os mais velhos e que em breve se retirarão. Se para isso tivermos de contratar (como temos feito), porque não fazê-lo mais cedo, desenvolvendo os atletas em nossa casa?

Para já, deixo um nome que, acredito, teremos debaixo de olho: Mariana Machado, 17 anos, atleta do Sporting de Braga, acaba de bater dois recordes nacionais de juvenis no nacional de clubes em pista coberta.

 

Com um centro de alto rendimento projectado para um futuro breve, é tempo de preparar o futuro ainda com mais cuidado.

 

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Nem imaginam o que isto me deixa feliz

Atletismo 2016.png

O atletismo é das mais emblemáticas modalidades do Sporting. Carlos Lopes um dos maiores porta-estandarte da mesma, tanto no nosso país, como no Mundo.

Em palavras ao Jornal Sporting, fez a antevisão da próxima época no dia da apresentação da mesma.

"Todos nós, Sportinguistas, queremos que o atletismo volte aos seus momentos de glória. O Clube revê-se nessas vitórias, nos resultados, os recordes... Infelizmente temos andado arredados desses tempos."

"A palavra de ordem é ganhar. Houve um investimento grande nas equipas masculina e feminina. Todos os atletas ficaram a perceber melhor a dimensão que o Clube tem tido ao longo da sua história e estamos aqui todos para contribuir para que isto continue de forma eficiente e para que se mantenha e reavive a imagem que o atletismo do Sporting teve ao longo dos anos."

"Reforçámo-nos essencialmente na equipa feminina, nas equipas de crosse feminina e masculina e também no sector de pista, onde tínhamos imensas lacunas e fomos buscar jovens entre juniores e sub-23. Com a chegada destes jovens talentos vamos criar grandes problemas às equipas que estão mais bem apetrechadas."

"O crosse é uma aposta muito forte, fomos buscar atletas que dão garantias de uma competitividade enorme. Fizemos uma equipa que terá muitos anos pela frente, e que nos dá uma garantia enorme e uma segurança tremenda para o futuro, tanto no masculino como no feminino. E, aliás, demonstra que estamos atentos aos novos valores para termos a garantia de recuperar a hegemonia num futuro próximo, algo que não acontecia nos últimos anos."

"São quatro provas (Campeonato Nacional de Crosse; Campeonato Nacional de Estrada; Campeonato Nacional de Clubes e Taça dos Clubes Campeões Europeus) e quatro momentos onde os nossos atletas têm de estar no seu melhor. Todos eles foram alertados para esses focos extremamente importantes e vamos criar condições para que tudo corra de uma forma muito séria e capaz de fazermos o que pretendemos: entrar em competição convencidos de que temos uma equipa boa e preparada para discutir seja que prova for."

"Estamos a apostar na conquista de mais uma competição europeia, como a Taça dos Clubes Campeões Europeus, e temos a consciência de que tudo estamos a fazer para que isso se torne realidade. Sabemos que há momentos em que, por muita vontade que tenhamos, não somos capazes de ultrapassar as adversidades, mas tudo fazemos e faremos para que isso não aconteça."

"Nestes últimos dois anos ficámos no pódio da Taça dos Clubes Campeões Europeus. Isso denota que a equipa feminina, só por si, já tem um valor muito bom. Se conseguirmos introduzir outros valores - como fizemos - para melhorar isso, ficamos com a consciência de que somos capazes. E o Sporting tem todo o interesse em que isso venha a acontecer, o que seria muito importante para o Clube e para o atletismo nacional porque pode chamar patrocinadores e fazer recair sobre o nosso país mais atenções. Queremos tornar o atletismo do Sporting numa referência, tal como já foi em anos passados, no meu tempo e do Moniz Pereira. Temos de criar a ideia de que o atletismo do Sporting começa a ter condições para trazer até nós jovens com outras mais-valias."

"A nossa mística não se perdeu, nós é que perdemos alguns valores que faziam a diferença em competição. A mística está cá e alimenta-se com os mais jovens a aprenderem com os mais velhos (como o Rui Silva ou o Francis Obikwelu). É importante passar a estes jovens talentos a mística do Clube que viveu momentos de grandeza, dentro e fora do país, e que ajudou o Sporting a ser o mais ecléctico de Portugal. E essa maneira de ser, aliada aos bons resultados, fizeram com que, durante muitos anos, eu e outros atletas abraçássemos o amor ao Sporting."

"A qualidade dos nossos jovens traz-nos algumas garantias que, num futuro próximo, podemos garantir a nossa posição de primeiros em tudo. É preciso capacidade de gestão porque muitos dos jovens que chegaram ainda estão em formação, mas também para isso fizemos uma aposta num quadro técnico de alto valor e de grande mais-valia. Queremos técnicos que sejam de qualidade para o presente, mas capazes de valorizar ainda mais estes jovens talentos para o futuro. Com estes jovens e o quadro técnico ao nosso dispor, todos em conjunto faremos a força."

"Estamos todos no mesmo barco e a tentar levá-lo a bom porto. Temos dado sinal de uma recuperação daquilo que se tinha perdido e penso que com um bocadinho de boa vontade e uma certa liberdade para podermos expressar o que entendemos ser melhor para o Clube, estamos num bom caminho. Não é num ano que se prepara o futuro, isso demora tempo e é preciso ter calma. O dinheiro é a base da sociedade e os clubes não fogem a essa realidade nem atravessam os melhores momentos, por agora, e essa dificuldade por vezes torna-se incómoda. Mas com paciência, garra, habilidade, e todos juntos, com espírito colectivo levaremos a água ao nosso moinho e conseguiremos levar o nosso barco ao tal bom porto, sem que este se afunde pelo meio."

(Sobre a presença do Presidente, Bruno de Carvalho e do vive-presidente para as modalidades, Vicente Moura) "É uma forma de valorização de toda a equipa, de todos os atletas e de toda a gente envolvida na secção do atletismo do Clube. Estamos todos unidos para criar as melhores condições para que o sucesso se torne uma realidade."

"É um ano muito, muito complicado. Não para o Clube em si, mas para os atletas, que têm uma série de situações que terão de ser bem geridas. Existe a Taça dos Clubes Campeões Europeus, no final de Maio, e os Campeonatos da Europa em Julho, e depois o Campeonato Nacional de Clubes, antes dos Jogos Olímpicos. É tudo muito seguido e gerir os atletas para estarem em boas condições físicas e mentais em Maio e novamente em Julho e Agosto exige um esforço tremendo. Tem de haver um encontro de ideias entre todos os técnicos para conseguirem calibrar a forma destes atletas em todas as provas."

"Uma prova como os Jogos Olímpicos desvia sempre o foco de atenção de um atleta, que não haja dúvidas sobre isso. Quem está a preparar os Jogos tem a visão e o sentimento de querer representar-se bem e fazer um bom papel e não é fácil gerir isso com os objectivos do Clube. Mas vamos tentar acalmar as coisas e fazer uma gestão sensata e equilibrada para que possamos todos atingir o que desejamos e consigamos reforçar uma posição bem alicerçada para o futuro."

"Naturalmente que vamos estar com mais atenção em cima, mas isso não nos preocupa. Os Jogos acontecem de quatro em quatro anos, são o maior acontecimento histórico do desporto mundial e toda a gente quer estar presente e focada nisso. Todos estamos ansiosos para ver o que acontecerá no Rio de Janeiro, onde, para nos aproximar ainda mais, se fala português. Só a Federação é que devia ter tido mais cuidado quando lançou o calendário de competições. Parece-me que não serviram os interesses nem dos clubes nem dos atletas."

"Penso que, neste momento, podemos ter entre uma a duas mãos cheias de atletas, só no atletismo. Temos de avaliar primeiro o que vai ser esta época e o que cada um conseguirá fazer ao longo do ano, mas temos atletas com níveis muito elevados e que poderão carimbar rapidamente a sua presença lá."

"Não é fácil conseguir uma medalha, muito menos de ouro. Mas temos atletas com grandes hipóteses, embora seja difícil. A Sara Moreira, na maratona, é uma das potenciais candidatas. Não sei o que acontecerá se a Jéssica Augusto participar na maratona também, mas terá possibilidades. A Patrícia Mamona, se aparecer em boa forma, é uma das candidatas a ficar nos primeiros oito classificados. Assim de repente, não sei se o João Vieira, nos 50 quilómetros de marcha, não poderá também conseguir algo... Temos imensos atletas que poderão fazer resultados fabulosos, mas temos de ver como corre a época para percebermos em que ponto é que eles lá chegam."

Foi há 30 anos

Estávamos em 1984 e eu só nesceria em Março de 1985.

Se a minha mãe viu e vibrou com a vitória do enorme Carlos Lopes eu também o senti.

Foi um feito enorme deste leão que foi o primeiro a conquistar o ouro olímpico por Portugal, que alegrou todos os portugueses, em especial os sportinguistas.

Venceu a prova mais emblemática das olimpíadas e, como se não bastasse, bateu o recorde da mesma, tendo este perdurado até 2008. É dele ainda hoje a melhor marca europeia de sempre na maratona olímpica com o 5º melhor tempo de sempre apenas atrás de 4 africanos.

Hoje passam 30 anos e julgo que não lhe é dado o devido valor. Em mais de 100 anos de participações nas olimpíadas apenas Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro e Nélson Évora conseguiram ouvir o hino português no lugar mais alto do pódio. Lopes foi o primeiro de todos eles e abriu caminho para os que se seguiram, mostrando-lhes que era possível.

É um grande homem e um grande sportinguista. Humilde e confiante e um dos melhores exemplos de que só se colhem frutos depois de muito trabalho!

Obrigado Carlos Lopes!

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