É difícil falar no jogo de ontem e aviso já que isto vai ser longo.
Fizemos o mais difícil, numa primeira parte perfeita.
Parecia impossível não passar a eliminatória mas, num jogo do Sporting, o impossível não existe!
Vou tentar dividir a análise ao jogo em duas partes: começarei pelo jogo jogado e depois analisarei o factor decisivo do jogo e da eliminatória, a arbitragem.
Como disse, a primeira parte foi perfeita. Não porque tenha sido aquilo que eu desejava mas sim por ter sido exactamente aquilo que tinha sido programado pelo nosso treinador.
Como disse ontem, eu entraria para este jogo como tinha feito em todos os outros mas a estratégia de Jorge Jesus é lógica e difícil de condenar.
A inclusão de Teo em vez de Slimani visava precisamente ter alguém que fosse forte na combinação em posse e não um 'panzer' para destruir defesas em pressão alta. Só assim controlaríamos o jogo sem necessidade de nos expormos ao erro.
O Sporting dominou em toda a linha e controlou o adversário à distância. O domínio territorial foi sempre nosso, em posse e quase sempre no meio campo adversário. Não fomos muito incisivos no ataque mas até isso foi estratégico. Havia que adormecer os russos para depois desferir o golpe fatal.
Teríamos de ser frios e eficazes e o golo de Teo Gutiérrez, após excelente assistência de João Pereira, veio dar sentido à estratégia adoptada.
O intervalo chegou e eu estava mais confiante que nunca. Não tinha havido espaço para os contra-ataques russos e o jogo parecia totalmente controlado.
Não entrámos bem na segunda parte. A equipa não pareceu tão confortável e abusou do jogo directo, entregando a bola aos russos.
Demos-lhes mais oportunidades para tentarem as bolas longas e, numa devolvida nas costas de João Pereira, Paulo Oliveira faz a falta que daria origem ao golo. Há dois erros neste lance. O primeiro é de João Pereira, que tenta adivinhar o lance e fica automaticamente atrasado relativamente a Musa, o segundo é de Adrien que, na marcação do livre, está totalmente desconcentrado e reage tarde e de forma deficiente, deixando a bola na pequena área onde Patrício defende contra Doumbia que acaba por marcar com o braço direito.
Segue-se um período incaracterístico do jogo. Os russos, impelidos pelo golo, pressionam mais alto e o Sporting limita-se a aliviar bolas como pode. O CSKA responde com dois ou três passes curtos, sempre seguidos de um longo (esta foi a estratégia adoptada pela equipa russa durante quase todo o encontro). Entre tantas tentativas, algum passe haveria de entrar.
Enquanto isto, a equipa parece mais ansiosa e Carrillo perde bola atrás de bola, numa sequência incrível de más decisões que incluíram até um lançamento lateral precipitado.
Teo toca na bola pelas primeiras vezes e o Sporting só liga a primeira jogada após os 55 minutos. Ruiz aparece na linha e desperdiça a posse de bola num cruzamento sem sentido.
O Sporting consegue combinar mais uma ou duas jogadas. Parece ter sido sacudida a pressão mas já temos jogadores fatigados (sobretudo Ruiz).
Voltamos a parecer mais confortáveis mas a pressão do CSKA continua forte. Ruiz volta a desperdiçar mais uma posse de bola com um cruzamento que acaba nas mão de Akinfeev
Volta a entrar mais uma bola nas costas, salva por Patrício. Mais uma desatenção e Naldo salva in extremis.
Ruiz deu o 'peido mestre' e Slimani está na linha lateral para ser lançado na partida. Entra para o lugar de Teo e, na minha opinião, é o primeiro erro de Jesus.
Eu teria retirado Ruiz, refrescando a ala com Gelson ou Mané.
Faltam 20 minutos e começo a ficar nervoso. Não teremos a capacidade de, com Slimani, fazer o mesmo estilo de jogo apoiado e espero por nova estratégia.
Uma falta inexistente a meio campo está na origem de uma série inacreditável de equívocos que nos vão ser fatais. Para não variar, o livre é marcado longo para a lateral direita. João Pereira alivia para Slimani que, na tentativa de dominar a bola, a coloca praticamente em cima da nossa área, acabando por lateralizar para Carrillo. O peruano olha para a frente mas não vê ninguém. Volta para trás e mais um alívio em esforço. Bola nos russos, passividade e falta de agressividade geral e outra bola nas costas. Linha defensiva descoordenada e golo! Está tudo empatado.
De nervoso passo para o estado premonitório. Penso: "Eu já vi este filme!"
Carrillo volta a perder uma bola e já 'pedia' a substituição. Foram 29, as perdas de bola do peruano.
O nosso jogo é um conjunto de equívocos. Pontapé para a frente e Slimani sem conseguir segurar uma. Dos nossos médios, só João Mário ainda corre. Adrien e Aquilani estão 'mortos'.
Jorge Jesus não mexe, talvez por pairar no ar a possibilidade de haver prolongamento.
Slimani ganha o primeiro duelo aéreo à defensiva russa. A bola ressalta para a nossa defensiva e vai novamente ao encontro do argelino. Falta à entrada da área. Aquilani remata para defesa de Akinfeev para canto e dá-se o caso do jogo.
Na sequência do canto, Slimani marca e o árbitro assistente levanta a bandeira, assinalando pontapé de baliza. O árbitro só apita depois da bola ter entrado, por alegadamente ter feito arco por fora do campo. Nenhuma das imagens o comprova, bem pelo contrário.
Os russos assustaram-se com o golo invalidado ao Sporting e os jogadores leoninos relaxaram demasiado.
Faltam cinco minutos para os 90 e Akinfeev passa tempo na grande área, dando a ideia de que seria melhor esperar pelo prolongamento. Desta reposição do guarda-redes russo sai o lance que deu origem ao 3-1.
O relaxamento era tal que permitimos a única jogada em futebol apoiado a cinco minutos do final. Fomos reactivos em vez de defendermos activamente. Chegámos tarde a todos os passes e a eliminatória estava virada do avesso.
Tempo do desespero. Montero e Mané são lançados mas já não haviam pernas nem cabeça. O desgaste era demasiado, tanto quanto o desnorte.
Lendo o filme da segunda parte, é fácil notar que quase fomos inexistentes. Convém dizer que os russos pressionaram forte, mas nunca jogaram um futebol de qualidade.
Fizeram valer as suas melhores armas e exploraram as nossas fraquezas mas, na verdade, acabaram por ser felizes mais por demérito nosso do que por mérito próprio.
Agora, uma palavrinha para a arbitragem. Certinha em 95% do tempo e decisiva no tempo certo.
O Sporting, mesmo tendo feito em Moscovo 45 minutos fracos, muito fracos, ficou a um golo de passar a eliminatória.
Golo esse que marcou mas, inexplicavelmente, não foi validado. Nenhuma das repetições do canto marcado de forma exímia por André Carrillo deixa dúvidas de que tudo foi legal. A bola não sai na totalidade e tenho dúvidas que tenha saído, mesmo que parcialmente (algo que, ainda assim, validaria o golo).
O árbitro só apita depois da bola entrar na baliza e o auxiliar parece ter levantado a bandeira de forma tardia.
Isto para não falar do lance em que Doumbia faz o primeiro golo com o braço num movimento que não me parece voluntário mas não deixa de ser irregular.
Numa eliminatória que tem, pelo menos, dois penaltis por marcar a favor do Sporting, uma consequente expulsão a um jogador russo (que o afastaria do que restava da 1ª mão e do jogo de ontem), um golo contra ilegal e um golo legal anulado, é impossível não dizer que foram as arbitragens que nos afastaram da fase de grupos da Champions.
Pese embora toda a incompetência própria, sobre a qual nada há a fazer, nada bate a incompetência (para não lhe chamar outra coisa) da arbitragem, que poderia ser resolvida com a introdução do vídeo-árbitro na modalidade.
Já perdi a conta aos milhões que nos roubaram e nesta época ainda não sabemos o que é um jogo sem erros graves de arbitragem contra, mesmo nos jogos em que vencemos.
Há coisas impossíveis de combater e, apesar de todos os erros próprios, nunca me verão bater nos nossos jogadores, muito menos depois de terem feito mais do que suficiente para que tivéssemos sucesso.