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Grande Artista e Goleador

Estará Francisco Neto disposto a dar o passo seguinte?

A presença de Portugal pela primeira vez numa competição internacional de selecções seniores em futebol feminino devia ser usada para mostrar algum do entusiasmo e da vivacidade que a vertente feminina do futebol tem despertado em Portugal nos últimos anos.

Jogou-se ontem a primeira jornada da fase de grupos. O rival era a Espanha, equipa nossa conhecida da fase de qualificação. As espanholas haviam vencido o nosso grupo de apuramento só com vitórias e nós sabíamos de antemão que éramos inferiores. No entanto, tínhamos do nosso lado o profundo conhecimento do adversário.

Vi o jogo com algum interesse e, por motivos pessoais, acabei por conseguir acompanhar apenas a primeira parte.

 

Abordo este tema porque gosto de futebol feminino, mas também porque acho que as nossas jogadoras saem prejudicadas com a abordagem escolhida, já para não falar na composição da convocatória, que me pareceu demasiado conservadora e pouco atenta ao que se passou no nosso futebol ao longo da última temporada.

Volto à evidente superioridade das espanholas, patente no 2-0 e 4-1 com que nos derrotaram na fase de qualificação, embora, como ontem, tenhamos dado luta.

Percebo a mensagem passada pela FPF. Claro que as nossas mulheres lutaram, deram tudo, cumpriram com o que lhes foi pedido mas...não poderiam, com outra abordagem, ter feito mais ou pelo menos tentado?

 

Eu acho que podiam e deviam. Francisco Neto parece-me fraco treinador. Demasiado agarrado a um grupo restrito de jogadoras. Só assim se explica que tenha optado por adaptar duas laterais, deixando de fora das escolhidas duas campeãs nacionais, rotinadas nessas posições (Rita Fontemanha e Joana Marchão). Não o digo por jogarem no Sporting.

A Ana Borges desenrasca a lateral direito. É rápida, raçuda e sabe posicionar-se mas...e tudo o que perdemos em não a utilizar mais adiantada no terreno? Borges é exímia a destruir fisicamente uma lateral. Porque nunca se cansa, porque vai para cima, porque ganha imensas vezes a linha de fundo e tem qualidade a servir as colegas. Foi assim que conseguimos o apuramento para esta fase final.

O caso da Dolores é ainda menos compreensível. Médio centro de raiz, posição onde actuou toda a temporada na Alemanha, não faz qualquer sentido que seja considerada a melhor opção para a lateral esquerda, onde não tem rotinas.

Isto para não falar que o nosso treinador obrigou Diana Silva a ser mais um médio durante, pelo menos, os 45 minutos que tive oportunidade de ver.

 

Posto isto; sabendo que as espanholas são uma equipa maioritariamente de posse, que o fazem com qualidade e que, mais tarde ou mais cedo acabarão por descobrir um espaço para uma oportunidade flagrante de golo, para quê dar-lhes 60 metros do campo para começarem a construir já dentro do nosso meio campo?!

Uma das vantagens do futebol feminino é ser menos preso tacticamente. Não podem ser os treinadores a querer fazer do futebol feminino aquilo em que o masculino se tem tornado.

Portugal (neste caso o nosso seleccionador) tinha obrigação de ter sido mais arrojado. À partida, colocado num grupo com dois candidatos ao título, Portugal estava condenado a não passar à fase seguinte. Para quê jogar para perder por poucos? Porque não surpreender as espanholas, mostrando-lhes algo que ainda não tivessem visto? Não foi, certamente, por falta de tempo para treinar um abordagem diferente e que pusesse em sentido "nuestras hermanas".

 

Portugal limitou-se a aguentar, sem jogar. Ao pontapé para a frente, enquanto a Espanha vinha para cima de nós uma e outra vez. Com que objectivo isto se faz, quando se sabe que é quase impossível aguentar 90 minutos sem sofrer pelo menos um golo?

Imagino esta equipa com duas laterais a sério (a Fontemanha e a Marchão, por exemplo) e com duas "motas" na frente (a Borges e a Diana Silva), sem jogadoras adaptadas a posições castradoras e com alguma dose de audácia e veria facilmente as espanholas mais intranquilas, menos confortáveis.

 

Recordo que Portugal rematou uma vez (desenquadrado), teve 24% de posse de bola e nem um pontapé de canto ganhou. Nenhuma equipa que se apresente assim tem hipóteses reais de sucesso. Pode ganhar um jogo em dez mas será sempre fruto de um acaso ou de um jogo tecnica e tácticamente perfeito (e a perfeição é difícil de atingir).

 

"Se aprenderes com a derrota, não perdeste de verdade". 

 

Foi esta a mensagem deixada no final do jogo nas redes sociais da FPF. Pois bem, que tenhamos aprendido e abordemos o jogo com a Inglaterra de forma diferente já que, antes disso, temos com a Escócia um embate "do nosso campeonato".

Façamo-lo para o bem da nossa selecção, para deixarmos uma imagem ainda melhor e para mostrarmos que podemos e queremos evoluir. Este deve ser o passo seguinte.

 

Nota final: a todas as jogadoras, nada a apontar. Fizeram o que foi traçado no plano de jogo mas eu confio em vocês e na vossa qualidade que, não duvido, dá para muito mais do que aquilo que foi possível mostrar ontem. Força a todas vocês, vivam esta experiência única e não deixem de mostrar que querem voltar a vivê-la.

 

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