Paixão, o segredo para o sucesso
Disse numa entrevista que no Sporting só entram dois tipos de miúdos - os talentosos e os bons jogadores. E em que fase avaliam a capacidade de trabalho, de dedicação e de sofrimento?
_Na hora: um talento, para o provar, tem de ter três coisas: paixão pelo treino, pelo jogo e pela profissão.
Um bom jogador pode chegar a grande jogador?
_Pode, se tiver também esses três fatores. Já um grande jogador nunca chegará a talento.
Mas o miúdo talentoso pode nunca chegar a ser um grande jogador, ou não?
_Exatamente, se lhe faltarem os mesmos três fatores.
Este é um excerto da entrevista de Aurélio Pereira ao DN que partilhei há uns dias.
Trago a lume este assunto pois o que está descrito neste conjunto de três perguntas e respostas é fundamental.
O sucesso de um jogador como profissional depende disto e só disto: paixão pelo treino, pelo jogo e pela profissão.
E isto é o mais difícil de incutir aos que estão no último estadio formativo e o motivo pelo qual muitos chegam a profissionais sem ter a noção da realidade com que se deparam.
É complicado para um miúdo de 19 anos entender o futebol como uma profissão, porque nunca trabalharam antes e porque fizeram aquilo a vida toda por prazer.
O acompanhamento é crucial nesta fase e se o jogador falha enquanto profissional no Sporting, grande parte das culpas vão também para quem não soube traçar o perfil do jogador e lhe ofereceu um contrato profissional sem que reunisse estes três factores essenciais.
Claro que os factores emocionais e motivacionais incidem directamente sobre a paixão com que se treina, joga e se entrega à profissão e é por isso que os dois primeiros anos de sénior são terríveis para a maioria dos jovens. Porque normalmente se joga pouco e porque a paciência para esperar por uma oportunidade é escassa.
Porque a vontade de jogar é mais importante que o resto e porque o estado emocional é, normalmente, flutuante.
O jogador estará satisfeito e motivado se joga e, muitas vezes insatisfeito e desmotivado se não joga. Claro que estar insatisfeito por não jogar é natural, normal e até saudável. Já o mesmo não se pode dizer da desmotivação. O jogador que tem estes três factores fundamentais, não desmotiva. Trabalha sempre no limite, com a mesma paixão e com a certeza de que hão-de olhar para ele pela qualidade do seu trabalho.
Trabalho é aquilo para que se devem preparar os jovens no momento de encarar o nicho que é o mundo do futebol profissional. Um dos mais privilegiados mercados de trabalho em termos financeiros mas aquele em que a meritocracia é mais dura e em que a análise que cada um faz do trabalho excutado pode ter leituras diferentes.
O Sporting deve preocupar-se (e estou certo que o faz) em preparar para o profissionalismo a partir dos sub-17. Aos 16 anos o jovem deve já entender que não é qualquer um que tem o privilégio de evoluir numa das mais conceituadas Academias do Mundo e deve exigir de si o máximo em cada dia que pode desfrutar da possibilidade de progredir em tão conceituado e reputado local. Exige-se responsabilidade, compromisso e retorno desportivo.
Os jovens do Sporting são dos mais preparados do Mundo para as exigências do futebol profissional, como o comprovam estudos recentes que demonstram a elevada quantidade de formados na nossa Academia a jogar nas mais reputadas ligas europeias e até pela simples análise dos habituais convocados para as selecções nacionais.
Mas podemos fazer melhor. Podemos exigir que os bons não descansem enquanto não forem muito bons e que os talentosos não se deixem deslumbrar pelo dom com que nasceram.
O futuro do Sporting depende deste trabalho bem feito e só algo muito perto da perfeição fará com que evitemos que bons jogadores não passem disso e, portanto, nunca nos sejam úteis e se limitem a alimentar as equipas de segundo plano de Portugal e da Europa.
Cabe aos jovens interiorizarem isto como leis para a vida desportiva e como base para o sucesso.
É olhar para o exemplo de Cristiano Ronaldo passando pelo que ele passou para lá chegar e não apenas desejando atingir semelhante patamar, batalhando todos os dias para se ser melhor.
Não são todos os anos que dois jogadores sobem à primeira equipa. Gelson e Matheus estão a mostrar aos restantes que isso pode acontecer ainda com maior frequência mas dependerá da paixão que cada um empregar no que faz, todos os dias.