SPORTING CP 4-0 Boavista: Voltou a "nota artística"
Se há jogos que me deixam apreensivo, são os jogos com o Boavista. Ontem, Miguel Leal tentou jogar com a motivação e o estado anímico de Mickaël Meira. O primeiro lance de perigo do jogo começava a dar razão ao treinador do Boavista. Grande defesa de Meira, que tinha tudo para embalar para uma exibição de sonho num palco onde sempre havia sonhado jogar.
O destaque para o guarda-redes do Boavista é justo e simbólico. "Mika" tem 5 anos de formação no Sporting e, como todo e qualquer guarda-redes, vem passando pela enorme dificuldade que é para um jovem afirmar-se na sua posição. Espero que possa em breve dar continuidade à titularidade de ontem. Numa posição onde quase se privilegia a experiência, o caminho para os jovens é de enorme dificuldade e Meira é apenas mais um guarda-redes de enorme qualidade formado na nossa Academia para o qual não tivemos espaço. Boa sorte, puto!
Outro que terá cumprido um sonho foi Daniel Podence, que ontem se estreou como titular em Alvalade em jogos da Liga. Podence deu o litro mas notou-se que acusou a estreia. Foi menos instintivo que o habitual e, por pensar duas vezes em mais do que uma ocasião, acabou a hesitar algumas vezes. Foi por isso que não fez golo nem deu em condições um passe a Bryan Ruiz, ainda na primeira parte. Sente-se nele um certo respeito pouco habitual nos jovens de hoje pelos colegas com outro "estatuto". Não quero que o perca (porque o respeitinho é bonito) mas é necessário que isso pese menos nas suas acções. No segundo tempo apareceu mais "solto" e são estes minutos que lhe "limarão as arestas". Ainda assim, esteve bem.
Vamos ao jogo...
A equipa do Sporting nem entrou muito bem e passou os primeiros minutos a acumular falhas, sobretudo ao nível do passe. Vários lances mal definidos, alguns deles ainda à saída do nosso meio campo, não nos permitiram construir jogadas de perigo.
O lance em que Bruno César "obriga" Edu Machado a fazer falta em zona prometedora fazia prever um "esticão" no jogo mas foram precisos mais cinco minutos e um passe falhado (desta vez dos homens de xadrez) para que o jogo mudasse de feição.
Podence recupera e lança imediatamente em Schelotto, que serve Alan Ruiz no "coração" da área, na sua zona predilecta. Recepção e golo, mais um, o sétimo da temporada (sexto nos últimos oito jogos).
O que é certo é que o Sporting descobriu uma dupla de avançados de qualidade, embora bastante diferentes dos que compunham a dupla habitual da temporada passada. Bas Dost e Alan Ruiz estão a 10 golos da dupla Slimani / Teo e, não fosse Alan ter demorado mais a adaptar-se do que o colombiano no ano passado e veríamos os 46 golos marcados pela dupla do ano passado completamente dinamitados. Algo anormais, os últimos dois anos, se nos lembrarmos daquilo que tem sido o Sporting desde há muitos anos, que normalmente vive apenas de um avançado (e que só jogada com um, diga-se). Creio que Alan está a fazer uma boa época de estreia e fará uma segunda época de grande qualidade.
Continuemos...
Mais um erro. Mais um passe falhado de um jogador do Boavista e Bruno César faz sorrir Bas Dost que, como sempre, não deixou de agradecer efusivamente a quem lhe deu a possibilidade de nos fazer felizes.
A verdade é que, durante a primeira meia hora, o Boavista discutiu o domínio territorial do jogo, conseguindo inclusive algumas trocas de bola interessantes, parte delas no seu meio-campo ofensivo. É o erro de Edu Machado, deixando a bola à mercê de Bruno César, que "resolve" o jogo. O Boavista desmoralizou e o Sporting ganhou confiança.
Sentiu-se que, a partir daqui, um Sporting mais assertivo, agressivo e motivado facilmente construiria uma goleada.
A circulação de bola melhorou, começaram a sair algumas combinações ao primeiro toque e, ao minuto 35, Schelotto isola Podence que, entre finalizar e entregar a Bryan Ruiz tomou a decisão menos natural dele. Sentiu-se aqui o peso da responsabilidade de quem ainda não ganhou um lugar. Agir naturalmente facilitará o cimentar natural de jovem leão nas escolhas habituais para cada jogo. Ao minuto 43, Podence deu um "cheirinho" daquilo que pode fazer. Boa jogada pela direita e Mickaël Meira a "sacudir".
O Sporting entrou bem para a segunda parte. Schellotto galgou pelo lado direito, cruzou com critério mas um defesa boavisteiro cortou o lance para canto. Do canto nasceu uma grande penalidade indiscutível que Manuel Mota, bem colocado, assinala, apesar da hesitação.
Bas Dost engana Meira e faz o 3-0. Desenhava-se a goleada no José Alvalade.
A partir daqui, para mim, o maior motivo de interesse era ver Francisco Geraldes em campo. Aos 55 minutos, o jogo já o justificava e Bryan Ruiz também, embora eu saiba que Jesus não vê o Chico como "8". Quando aos 60 minutos Adrien entrou para substituir Bryan, eu teria feito a dupla alteração, colocando Geraldes no lugar de Alan Ruiz.
Escassos segundos do capitão em campo e após uma dividida ganha nas alturas, William deu em Alan Ruiz, que serviu Bruno César na esquerda. O "chuta-chuta" voltou a servir Bas Dost, que assim completou o hat-trick e igualou em apenas 25 jogos os 27 golos de Slimani na época passada (em 33 partidas).
Os 25 minutos finais deram sempre a sensação que bastava o Sporting "apertar" para que mais ocasiões de golo surgissem. Bruno César e Podence saíram para dar lugar a Joel Campbell e Francisco Geraldes, à porta do quarto de hora final. Ambos entraram com vontade e foi possível ver, sobretudo o Chico sempre à procura da bola.
Aos 80 minutos, Chico começou uma jogada que Campbell terminou. Pelo meio, Schelotto, mais uma vez, a permitir uma finalização a um colega (boa exibição do argentino). Ainda deu para Alan Ruiz testar a meia-distância e Coates cabecear frouxo para as mãos de Mickaël Meira que, embora tenha sofrido quatro golos, realizou uma boa exibição.
Impossível não destacar Bruno César. Sempre ligado ao jogo, esteve nos três golos de Bas Dost (o outro destaque inevitável) e sempre disponível para levar a equipa para a frente. Boa exibição global da equipa, que se espera quer tenha continuidade.
Segue-se uma visita a Setúbal, na próxima sexta-feira.