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Grande Artista e Goleador

SPORTING CP 1-1 Tondela: Foi mau, mas não deixou de ser especial

Poucos são os jogos onde o resultado não é o mais importante. Ontem era apenas a cereja no topo do bolo.

Não lhe quis dizer onde íamos. O miúdo tem a mania de, por vezes, ser do contra e não queria criar e muito menos defraudar expectativas. Disse-lhe que íamos passear e prometi (não sabendo de conseguiria cumprir e corresponder às tais expectativas) que ele ia gostar.

Adormeceu no caminho e, sabendo eu que a hora de descanso dele é sagrada, não o acordei quando chegámos. Assim, fiz-me ao caminho com ele ao colo, a dormir, enquanto eu arfava e suava, que ele já não pesa assim tão pouco.

 

São apenas 3 anos. Neste idade, são uma caixinha de surpresas. Pode correr bem mas há sempre tudo para correr mal (tão à Sporting!). Acordou ao chegar ao Estádio. Não percebeu bem onde estava e foi acordando, lutando contra a vontade de descansar mais um pouco. Os petardos nas imediações do Estádio (que "divertimento" parvo) deixaram-me na expectativa de uma birra e um pedido para voltar para casa. Assustou-se, choramingou mas, vendo à frente o Alvaláxia, pediu para entrar à procura de abrigo.

 

Um leão não desiste à primeira e seguimos para a Loja Verde (que de bom só tem o facto de ser a nossa, tais as limitações e insuficiências). Felizmente, aos olhos ingénuos de uma criança, deu para soltar um "Wow". Ficou impressionado e dei-lhe carta branca. "Podes escolher o que quiseres" (ao mesmo tempo que rezava para que não estourasse o orçamento nos objectos mais caros).

 

Escolheu uma bola, logo ele que nem liga muito ao futebol. Fê-lo convicto e nem outras sugestões o demoveram (pelo menos foi mais poupado do que eu esperava). A escolha tinha um propósito, que explicarei mais à frente. Seguimos para o Estádio, pois não fui com a antecedência que queria.

 

Depois da revista, a bola do puto foi barrada à entrada. Tinha de ficar cá fora e mandei o meu pai ir guardar à porta 1, onde há um gabinete para o efeito. Nada que demovesse o meu jovem leão. Era hora para subir (a bola podia esperar para levar uns pontapés) e nem dava para olhar para trás.

 

A reacção dele ao vislumbrar o interior do Estádio não dá para explicar. Impressionado mas com uma espécie de naturalidade de quem sabe da grandeza do nosso Clube, de quem encontrara ali exactamente aquilo que esperava. Um olhar perdido, de quem tentava absorver tudo, de tal forma que nem percebeu que o alertava para o local onde se encontrava o Jubas. 

 

"Pai, olha ali. É o Jubas!" Percebem?...claramente, ele esteve no mundo dele nos minutos anteriores. A Marcha do Sporting acompanhada com palmas (espontâneas, que fiz questão de o deixar viver a experiência sem a pressão de ter de fazer isto ou aquilo), "O Mundo Sabe Que..." às cavalitas, murmurando a terminação das palavras que conseguia apanhar, enquanto mirava o mar de cachecóis verdes-e-brancos.

 

Começa o jogo. A atenção dele prende-se durante os primeiros 20 minutos, não no jogo em si mas nos pormenores do mesmo que lhe chamaram à atenção. Palmas ao som do tambor das claques, vivas ao Sporting e mãos na cabeça quando Gelson atirou ao poste. Parecia perfeitamente integrado.

 

O resto do jogo passou-se, entre momentos de maior atenção e outros em que resolveu explorar o espaço do nosso Estádio, que agora é também o dele. Interagiu com colegas de bancada, que de acanhado não tem nada, comeu ao intervalo e nem percebeu a impaciência dos que, à sua volta, se mostravam insatisfeitos com a "experiência".

 

Para ele, tudo correu bem. Festejou o golo como se tivesse sido o único da noite e eu acabei por não sair com a azia esperada. O resultado positivo teria mesmo sido apenas a cereja no topo do bolo. Não aconteceu mas o mais importante correu melhor do que eu esperava. O baptismo correu bem.

 

No regresso, explicou-me que podíamos partilhar a bola e não fomos para a cama sem dar uns toque juntos. Depois, percebi eu, que só escolheu este presente para que o pai pudesse desfrutar daquilo que tinha perdido... Há umas semanas contei-lhe que, em criança, havia perdido uma bola do Sporting, a minha preferida. Ele não se esqueceu, foi generoso e quis partilhar o presente comigo.

 

O que podia pedir mais? A vitória? O cérebro que resolva, que é para isso que lá e que ganha o que ganha. Sem bazófia e com mais trabalho que, mesmo desatento, não deixei de observar tudo o que não fizemos e que era nossa obrigação termos feito.

 

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